"Mais importante do que o destino é a viagem." O percurso de Eduardo Lourenço em França
Eduardo Lourenço fez parte de uma geração muito ligada à cultura e ao pensamento francês, onde pertencia também "David Mourão-Ferreira, Maria de Lurdes Belchior, Coimbra Martins, José Augusto França, Urbano Tavares Rodrigues", uma geração muito ligada a França.
Corpo do artigo
Em 1960, Eduardo Lourenço deixa Portugal para ir viver para França, lecionando em universidades francesas no contexto das grandes discussões ideológicas do pós-guerra e do Maio de 1968. Durante quatro décadas nunca deixa de pensar Portugal.
Professor, filósofo, ensaísta, crítico literário e também um grande leitor, Eduardo Lourenço nasceu em São Pedro do Rio Seco, em 1923, tendo crescido em Lisboa. Estudou em Coimbra nos anos 1940, altura em que começa a ler Montagne e começa também já a sentir-se em França. "Ele já cá estava no pensamento e nas leituras. Como ele próprio dizia: "Mais importante do que o destino é a viagem", e ele começou a viagem "muito cedo, pela inteligência que tinha, lucidez, pela cultura", descreve a editora e amiga Luísa Braz de Oliveira.
TSF\audio\2020\12\noticias\02\ligia_anjos_eduardo_lourenco_percurso_em_franca
Uma viagem que o filósofo e pensador começou muito cedo em Coimbra. Quem teria sido Eduardo Lourenço sem passar por França? "Uma vez perguntei ao Eduardo Lourenço pelo regresso a Portugal. Todas as pessoas que vivem muito tempo noutro sítio levantam sempre a questão do regresso de onde vêm. Perguntei-lhe se se pode voltar de onde se partiu e ele respondeu que podemos, mas voltamos um outro", descreve Luísa Braz de Oliveira.
Eduardo Lourenço fez parte de uma geração muito ligada à cultura e ao pensamento francês, onde pertencia "David Mourão-Ferreira, Maria de Lurdes Belchior, Coimbra Martins, José Augusto França, Urbano Tavares Rodrigues". Esta era uma geração muito ligada a França, lembra a editora portuguesa. "O professor Lourenço pertencia a esta geração e as relações entre eles eram muito boas. É raro na vida, vivendo tantas coisas e escrevendo tantas coisas, não se ter inimigos. É uma qualidade extraordinária não os ter", realça. "Era um grande português, quis sempre ficar português, adorava a França. Preocupava-se muito com o que estava a passar, só tinha amizades e admiração. É um percurso extraordinário no mundo de hoje", lembra.
Eduardo Lourenço morreu esta terça-feira, 1.° de Dezembro, aos 97 anos. Foi um dos mais proeminentes pensadores portugueses e deixa de herança uma obra imensa.