Jornalista que ecoou memes de internet com novo ministro da Saúde é chamado de tudo e vítima de fotomontagens partilhadas por deputados como Eduardo Bolsonaro.
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Jair Bolsonaro trocou de ministro da Saúde à beira do pico da pandemia.
Saiu Luiz Henrique Mandetta, defensor acérrimo do isolamento social, entrou Nelson Teich.
Teich, dono de currículo inquestionável, tem, ao contrário do sorridente antecessor, uma aparência física sombria.
Vai daí, as redes sociais encheram-se de memes a compará-lo a Frankenstein e outros ícones do horror.
O jornal Folha de S. Paulo resolveu então ecoar esses memes numa secção descontraída da publicação.
Horas depois de publicadas as fotos, Mateus Camillo, o jornalista da Folha autor das linhas que acompanharam o trabalho gráfico, iniciou então uma Via Sacra comum a muitos outros repórteres da imprensa do país.
Nas redes sociais começou a ser chamado de gay e de maconheiro - as hordas bolsonaristas, que idolatram torturadores e ditadores sanguinários, consideram pecado ser homossexual e consumir drogas leves.
Mais: chamaram-no de petista, isto é, militante do Partido dos Trabalhadores, de Lula ou Dilma, e disseram que era parecido com um tucano, o animal tropical que simboliza o PSDB, de Fernando Henrique Cardoso, entre outros.
Até que depois viralizou uma foto do jornalista todo de rosa, decote até ao peito, botas altas e uma faixa na cabeça com a inscrição "Haddad". Foto essa que nunca existiu, era uma montagem.
A história do meme acabaria aqui, efémera e supérflua como a de todos os memes, não tivesse ela sido partilhada por deputados bolsonaristas, tais como Bia Kicis ou Eduardo Bolsonaro, um dos "cérebros" por trás desta queima de reputação que já atingiu outros jornalistas, políticos de esquerda e de direita e até de extrema-direita que decidem divergir de Bolsonaro.
Enfim, apenas mais um dia no Bolsonaristão.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras a crónica Acontece no Brasil