Marcelo diz que Trump é "ótimo negociador" e isso exige respostas "conjuntas e rápidas" da Europa
O chefe de Estado salienta que, sem crescimento económico, a população "radicaliza", fazendo aumentar as "tensões sociais" que não contribuem para a "segurança" dos países
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu esta terça-feira que o novo chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, é um "ótimo negociador", tornando-se num dos maiores desafios da Europa, a quem é exigida uma resposta "conjunta, rápida e firme".
Confrontado pelos jornalistas sobre o facto de ter apontado que, mais importante do que o contributo de cada país para a Defesa, é o esforço da Europa, Marcelo Rebelo de Sousa insiste que o equilíbrio entre fazer crescer a economia e manter a estabilidade entre países é um dos maiores "desafios" atuais.
"A Europa tem de fazer várias coisas ao mesmo tempo, o que é difícil. Por um lado, tem de trabalhar na segurança - sem segurança não há crescimento -, mas tem de crescer. A Alemanha não cresce, a França não cresce tanto quanto crescia, a Europa em geral não cresce. E, sem crescimento, não há segurança. Uma coisa depende da outra", salienta.
O chefe de Estado português explica que se houver um decréscimo no crescimento económico, a população "radicaliza", fazendo crescer as "tensões sociais" que não contribuem para a "segurança".
"Sem investir na ciência e na tecnologia ficamos cada vez mais atrás em relação aos americanos, chineses, indianos e japoneses. E depois há problemas que são sociais", explica.
A esta realidade soma-se a dificuldade que o continente europeu tem tido em reagir perante as constantes ameaças da nova Presidência norte-americana, desde logo no que diz respeito à cobrança de tarifas aos produtos da Europa. Mas Marcelo desdramatiza e explica de que forma Trump atua.
"[Donald Trump] tem três ou quatro pontos fundamentais: primeiro, o tempo. Ele quer fazer tudo rápido - sabe que tem um ano e meio para fazer; segundo, ele é um empresário e um ótimo negociador, gosta de liderar as negociações, antes fazia-o através do Twitter, agora lidera falando todos os dias com uma proposta nova; terceiro, sobe a parada. O negociador põe a parada muito alta e espera para ver qual é a reação dos destinatários", esclarece.
O Presidente português lembra que esta é "uma experiência nova", já que muitos dos líderes europeus ainda não lidaram de perto com Donald Trump. Esta exigência, afirma, deve ser enfrentada com uma resposta "rápida, em conjunto e de forma firme" por parte da Europa, a quem se exige "imaginação".
Perante uns EUA "muito fortes", a Europa "tem de mostrar força para ter poder negocial": "A Europa sabe que os EUA são muito fortes, agora tem de, na medida da possibilidade, encontrar respostas conjuntas e rápidas e suficientemente fortes para ter manobra negocial."
Insiste ainda que Trump espera para ver qual é a resposta daqueles com quem está em negociações e, em função do nível de contestação, reage. E dá como exemplo o facto de ter adiado, esta segunda-feira, a aplicação das prometidas tarifas sobre os produtos mexicanos e canadianos. Revela conhecer pessoas que trabalharam de perto com o Presidente norte-americano que relatam que "foi dos negociadores mais difíceis que encontraram na vida".
"Ele sobe a parada e espera para ver e descobrir o que lhe dão em troca", reforça.