Marine Le Pen e oito eurodeputados franceses culpados de desvio de fundos públicos
A decisão põe fim a um julgamento que se prolongou nos últimos dois meses e que tem causado agitação na política francesa
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O tribunal Penal de Paris declarou, esta segunda-feira, Marine Le Pen e oito eurodeputados do partido de extrema-direita União Nacional (RN) culpados de desvio de fundos públicos. O caso, que envolve um prejuízo estimado de 2,9 milhões de euros, está relacionado com a utilização indevida de verbas do Parlamento Europeu para financiar atividades partidárias.
A decisão põe fim a um julgamento que se prolongou nos últimos dois meses e que tem causado agitação na política francesa. A acusação sustenta que oito eurodeputados do partido de extrema-direita utilizaram fundos destinados a assistentes parlamentares para pagar pessoas que, na realidade, trabalhavam para o partido de Marine Le Pen.
A pena para Marine Le Pen pode ser decisiva para o futuro político francês. A acusação pediu cinco anos de prisão, dois dos quais suspensos, uma multa de 300.000 euros e, sobretudo, uma pena de inelegibilidade de cinco anos com execução provisória, o que pode fazer com que Marine Le Pen seja impedida de concorrer às próximas eleições presidenciais de 2027, para as quais é - segundo as sondagens - considerada uma das principais favoritas, após três tentativas falhadas.
Apesar da condenação, a deputada de Pas-de-Calais já anunciou que vai recorrer da decisão. No entanto, a inelegibilidade com execução provisória significa que a sanção entraria em vigor de imediato, mesmo em caso de recurso, o que pode alterar o panorama político francês.
Marine Le Pen tem insistido na inocência, afirmando que não há qualquer irregularidade na gestão dos fundos. Este domingo, afirmou ao semanário La Tribune Dimanche: "Leio aqui e ali que estamos inquietos. Pessoalmente, não estou", declarou. Já o vice-presidente do partido, Louis Aliot, garantiu que "seja qual for o desfecho, isso não nos enfraquecerá".
Ao longo da última década, Le Pen tem tentado mudar a imagem do partido fundado pelo pai, Jean-Marie Le Pen, condenado por declarações racistas e antissemitas e falecido no início deste ano. O partido, antes denominado Frente Nacional, foi rebatizado como União Nacional em 2018 e tem procurado afastar-se de polémicas associadas ao seu passado.
A estratégia tem dado frutos. Le Pen lidera as sondagens para a primeira volta das presidenciais de 2027, com cerca de 34% a 37% das intenções de voto. No entanto, como demonstraram as derrotas em 2017 e 2022 contra Emmanuel Macron, o favoritismo na primeira volta não garante uma vitória final.
Caso a inelegibilidade de Le Pen se confirme, o atual presidente do partido, Jordan Bardella, surge como sucessor natural. Aos 29 anos, Bardella tem uma popularidade crescente e, segundo algumas sondagens, até superior à da própria Marine Le Pen.
Na última semana, Bardella tornou-se o primeiro líder do partido francês de extrema-direita a ser recebido pelo governo israelita, um movimento visto como uma tentativa de distanciar-se da herança antissemita do partido sob Jean-Marie Le Pen. A sua ascensão pode representar uma continuidade da estratégia de normalização da União Nacional, ao mesmo tempo que mantém a linha dura em temas como a imigração e a segurança.
