Mark Rutte: “Basta uma fração dos gastos na Saúde e nas pensões para o orçamento de defesa”
O secretário-geral da NATO sugere o uso de “uma fração” do orçamento da “saúde e das pensões de reforma” para o investimento em defesa
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O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, voltou esta quarta-feira a desafiar os governos dos países membros da NATO a reforçarem os gastos em despesa militar, sugerindo o sacrifício de políticas como a Saúde ou as pensões de reforma, tendo em conta um “cenário de escassez” de verbas.
“Quando se observa o que os países gastam em pensões, no sistema de segurança social e na saúde, basta uma fração desse gasto para garantir que o orçamento de defesa atinja um nível que sustente os nossos retornos a longo prazo”, afirmou o secretário-geral da NATO, sublinhando que “não será preciso gastar dezenas de pontos percentuais, mas sim mais de 2%”.
Rutte considera que “cabe aos políticos decidirem”, caso contrário “terão de explicar ao eleitorado” por que razão não investiram “além dos 2%”, uma vez que, no seu entender, esta decisão “garante a segurança a longo prazo”. Contudo, reconhece que as opções poderão ser “difíceis”, mas destaca que “é por isso que existem políticos: para garantir, por um lado, que há empregos suficientes e que a economia está a funcionar bem e, por outro, para manter o país seguro”.
“Trata-se de garantir a segurança do país e da aliança como um todo, composta por 32 nações, a longo prazo”, afirmou o secretário-geral da NATO, prometendo envolver-se pessoalmente para demonstrar a necessidade de um investimento em defesa além dos dois por cento do PIB.
Questionado sobre as recomendações de documentos estratégicos em Portugal, que apontam para a necessidade de antecipar a meta da despesa militar de 2% do PIB para o imediato, em vez de 2029, e face às crescentes pressões tendo em conta o contexto de segurança na Europa, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, não exclui essa possibilidade.
“Neste momento, temos este compromisso [de alcançar a despesa de 2% do PIB em Defesa até 2029], e é este que temos escalado e previsto para cumprir. Portanto, essa é a nossa obrigação”, afirmou Paulo Rangel, admitindo que possam ser equacionados “outros cenários”.
“Se se colocarem no futuro, logo veremos”, afirmou o ministro, lembrando que se trata de “um esforço enorme do ponto de vista orçamental; não é uma coisa que se possa fazer do dia para a noite”.
“Foi pena que durante dois ou três anos tenhamos feito algum compasso de espera ou até regredido ligeiramente no que era um caminho sustentável e que, infelizmente, nos últimos dois [ou] três anos, com o governo anterior ou com os governos anteriores, não foi prosseguido com a mesma determinação com que nós queremos agora prosseguir”, criticou Rangel.
Por seu lado, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, promete envolver-se pessoalmente para demonstrar a necessidade de um investimento em defesa além dos dois por cento do PIB.
“Tentarei comunicar diretamente com os mil milhões de pessoas que vivem no território da NATO, explicando passo a passo porque isto é necessário e, assim, talvez ajudar um pouco os debates políticos em alguns destes países”, afirmou Rutte, declarando-se “convencido de que serão tomadas boas decisões no próximo mês”, embora reconheça que “será um debate difícil”.