Na TSF, o diplomata António Martins da Cruz fez uma leitura das decisões do Reino Unido em relação à situação na Líbia, considerando que é um sinal de que há uma incapacidade da UE em falar a uma só voz.
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O diplomata e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros acredita que alguns países estão a preparar uma retirada diplomática de Muammar Kadhafi de modo a abrir caminho a uma transição política para os rebeldes.
«Não podemos esquecer que a visita do presidente Zuma, da África do Sul, aqui há uma semanas a Tripoli pode indiciar que há um movimento de alguns países africanos para salvar a face do senhor Kadhafi e retirá-lo entregando, então, o poder aos rebeldes», referiu.
Em guerra há cinco meses, a Líbia já assistiu a vários avanços e recuos, tanto do lado do regime de Kadhafi como dos rebeldes líbios, que nunca conseguiram conquistar a capital Tripoli e, consequentemente, governar o país.
Para o antigo ministro dos negócios estrangeiros isso ainda não aconteceu porque Kadhafi ainda tem algum apoio da população mas também por falta de capacidade do Conselho Nacional de Transição (CNT).
«Apesar do apoio em armas, formação militar que estão a ser dadas aos rebeldes e os bombardeamentos sucessivos em Tripoli o que é facto é que o regime de Kadhafi continua a resistir. Portanto, algum apoio devia ter por parte da pouplação e das forças de segurança», destacou Martins da Cruz.
Vários países já reconheceram a legitimidade do CNT líbio, sendo que o Reino Unido foi o primeiro a reconhecer os rebeldes como governo legítimo. Um facto que para Martins da Cruz deixa a Europa mal vista por não conseguir falar a uma só voz.
«Assistimos a posições separadas dos diferentes países da União Europeia, sobretudo dos que têm obrigação moral de dirigir a política externa: a França, Inglaterra e Alemanha. E esta cacofonia é a pior coisa que pode acontecer para a Europa falar a uma única voz e aparecer unida com os EUA nestes temas importantes da política internacional», lamentou o diplomata.