Especialista em Política Internacional entende que a primeira-ministra britânica não saiu diminuída da votação da moção de censura desta quarta-feira.
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Tem sido uma semana atribulada a de Theresa May, mas a primeira-ministra britânica pode ter recuperado, esta quarta-feira, algum capital político. É esta a análise de Leonídio Paulo Ferreira, jornalista do Diário de Notícias e especialista em Política Internacional.
"Há quem diga que ela tem sete vidas e hoje, pelo menos, recuperou uma delas. Está diminuída sim, pela oposição interna constante que tem sofrido no Partido Conservador. Já foi desafiada na sua liderança e, na altura, mais de 100 conservadores estiveram contra ela e também ontem, quando teve aquela derrota humilhante, a maior num século, de uma proposta no Parlamento. Hoje, certamente, não é um dia em que possamos dizer que ela está diminuída; pelo contrário, hoje recuperou algum capital político", considera.
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No momento de perceber quem salvou May, o especialista considera que foi "claramente a bancada que a suporta: o Partido Conservador e também os Unionistas." E porquê? "Mera sobrevivência política."
"Uma coisa é eles estarem a pressionar May para fazer um acordo mais do agrado tanto dos unionistas como de alguns conservadores mais a favor da rutura com a União Europeia; outra coisa é porem em causa o seu assento no parlamento de Westminster. Obviamente que não querem eleições antecipadas e não querem, sobretudo, por em causa a sua presença como deputados. Hoje foi claramente um voto interesseiro. Ontem houve um voto que podemos chamar de irresponsável, baseado em paixões e emoções muito quentes e hoje foi um voto claramente racional, no sentido do partido e o Governo conservador terem de sobreviver a uma moção de censura do rival. Hoje foi um voto claramente racional e calculista da parte de quem está a governar e apoia May", defendeu na análise à votação da tarde desta quarta-feira. A votação da moção de censura na Câmara dos Representantes, horas antes, tinha sido renhida: 306 deputados votaram a favor enquanto 325 votaram contra, uma diferença de 19 votos.
No que diz respeito à postura de Theresa May, e tendo em conta todas as dificuldades que tem enfrentado, Leonídio Paulo Ferreira entende que a mesma se revela uma "estadista".
"Se alguém neste momento, no Reino Unido, pode vestir a casaca de estadista, é sem dúvida ela. Não é Corbyn que, mesmo durante a campanha para o referendo esqueceu claramente a tradição europeísta do Partido Trabalhista" e que, nos últimos meses, tem assistido às lutas internas dos conservadores, tentanto tirar daí vantagens. O nome de Boris Johnson é também tido como o de alguém "oportunista, que sabe que é mais fácil fazer oposição internamente do que assumir responsabilidades", expica.
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"May, com todas as deficiências e lacunas que tem é, neste momento, a pessoa no Reino Unido que, na minha opinião, mais se aproxima da figura de um estadista", considera.