Media internacionais pedem que jornalistas possam entrar e sair de Gaza: os "olhos e ouvidos do mundo" estão sem "energia devido à fome"
"Mais uma vez, instamos as autoridades israelitas a permitirem a entrada e saída de jornalistas de Gaza. É essencial que os abastecimentos alimentares adequados cheguem à população local", lê-se no comunicado conjunto da AFP, AP, Reuters e BBC
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As agências noticiosas internacionais Agence France-Presse (AFP), Associated Press (AP) e Reuters, bem como a BBC, apelaram na quinta-feira a Israel para que permita a entrada e saída de jornalistas de Gaza, que está sujeita a um bloqueio rigoroso.
"Estamos extremamente preocupados com os nossos jornalistas em Gaza, que estão cada vez mais incapazes de se alimentarem a si próprios e às suas famílias", afirmaram os grupos de comunicação social numa declaração conjunta.
No comunicado divulgado, lê-se ainda que os jornalistas enfrentam muitas privações e dificuldades nas zonas de guerra. "Estamos profundamente preocupados com o facto de a ameaça da fome ser agora uma delas", admitem.
As agências pedem, por isso, uma ação imediata por parte das Nações Unidas, da Cruz Vermelha e de Governos aliados para garantir a sobrevivência dos jornalistas no terreno. Apelam ainda à abertura urgente de corredores humanitários e à entrada de ajuda alimentar, ao mesmo tempo que exigem que os jornalistas possam entrar e sair livremente.
"Mais uma vez, instamos as autoridades israelitas a permitirem a entrada e saída de jornalistas de Gaza. É essencial que os abastecimentos alimentares adequados cheguem à população local", concluíram.
Estes media internacionais sublinharam igualmente que "durante muitos meses, estes jornalistas independentes têm sido os olhos e os ouvidos do mundo em Gaza".
"Os jornalistas sofrem muitas privações e sofrimentos em zonas de guerra. Estamos profundamente alarmados com o facto da ameaça de fome ser agora uma delas", afirmaram, depois de denúncias de que alguns jornalistas estavam a passar fome no enclave.
Com Gaza isolada, muitos grupos de comunicação social em todo o mundo dependem da cobertura fotográfica, vídeo e textual do conflito fornecida por repórteres palestinianos a agências noticiosas internacionais, como a AFP.
A crítica internacional está a crescer em relação à situação dos mais de dois milhões de civis palestinianos em Gaza, onde mais de 100 grupos de ajuda humanitária e de direitos humanos alertaram que a "fome em massa" está a alastrar.
Desde o início da guerra, após o ataque sem precedentes de 7 de outubro de 2023 a Israel pelo grupo militante palestino Hamas, um pequeno número de jornalistas conseguiu entrar em Gaza apenas com oExército israelita e sob regras estritas de censura militar.
A organização de vigilância da media Repórteres Sem Fronteiras (RSF) disse no início de julho que mais de 200 jornalistas foram mortos em Gaza desde o início da guerra.
"Não temos mais energia devido à fome"
A agência de notícias AFP divulgou relatos sobre a vida em Gaza feitos pelos repórteres esta semana. A agência disse estar preocupada com a "situação terrível" que enfrentam devido à luta diária para encontrar comida.
"Não temos mais energia devido à fome e à falta de comida", disse Omar al-Qattaa, um fotógrafo da AFP de 35 anos que foi nomeado para o Prémio Pulitzer no início deste ano.
"É extremamente difícil obter comida em Gaza. Mesmo quando há disponibilidade, os preços são multiplicados por 100", disse o jornalista de vídeo Youssef Hassouna.
O chefe da Organização Mundial da Saúde alertou na quarta-feira para a fome generalizada em Gaza, afirmando que as entregas de alimentos no território estavam "muito abaixo do necessário para a sobrevivência da população".
Testemunhas e a agência de defesa civil de Gaza acusaram repetidamente as forças israelitas de disparar contra pessoas que procuravam ajuda. A ONU afirmou que os militares israelitas mataram mais de mil palestinianos que tentavam obter alimentos desde o final de maio.
A AFP conseguiu retirar oito trabalhadores e respetivas famílias da Faixa de Gaza entre janeiro e abril de 2024, após meses de esforços.
"Não são apenas repórteres, são testemunhas na linha da frente"
O Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), um grupo de defesa da liberdade de imprensa com sede em Nova Iorque, afirmou numa declaração na quarta-feira que Israel estava a "matar à fome os jornalistas de Gaza para os silenciar".
"Eles não são apenas repórteres, são testemunhas na linha da frente, abandonados quando os meios de comunicação internacionais foram retirados e lhes foi negada a entrada", afirmou a diretora regional do CPJ, Sara Qudah, segundo a declaração.
Muitos jornalistas palestinianos têm-se manifestado ou publicado sobre o seu esgotamento, com Sally Thabet, correspondente do canal de satélite Al-Kofiya, a desmaiar após uma transmissão ao vivo esta semana, disse o CPJ.
A Al Jazeera, com sede em Doha, o grupo de media árabe mais influente, também pediu uma ação global para proteger os jornalistas de Gaza na terça-feira.
O canal, que foi proibido em Israel, teve cinco dos seus repórteres mortos desde o início do conflito, no que diz ser uma campanha deliberada de Israel.
Em alguns casos, Israel acusou os repórteres de serem "agentes terroristas", como quando matou um jornalista da Al Jazeera e freelancer baseado em Gaza no ano passado — alegações condenadas pela rede de notícias do Catar.
"Sabemos que provavelmente a maioria dos jornalistas dentro de Gaza está a operar sob os auspícios do Hamas e, até que o Hamas seja destruído, eles não terão permissão para reportar livremente", disse o porta-voz do Governo israelita, David Mercer, numa conferência de imprensa em dezembro passado.
