Médicos de Wuhan trabalham doentes, reutilizam material descartável e até usam fraldas
O material de proteção escasseia na cidade chinesa epicentro do surto do novo coronavírus e os médicos fazem de tudo para o poupar. Incluindo arriscar a própria saúde.
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Os médicos na linha da frente no combate à epidemia do novo coronavírus estão exaustos e correm diariamente o risco de ficar infetados devido à falta de recursos humanos e material de proteção.
Em Wuhan, há médicos que não usam máscaras quando recebem doentes, reutilizam equipamento que devia ser descartável e fazem de tudo para não ter de despir o fato protetor, e consequentemente vestir um novo, inclusive usar fraldas.
O problema foi assumido por um oficial de topo da Comissão de Saúde chinesa, conta a AFP. Há médicos "que usam fraldas, bebem menos água e reduzem o número de vezes que vão à casa de banho", explicou Jiao Yahui, vice-diretor da Administração Estatal de Saúde das Comissões Nacionais de Saúde.
Há quem use o mesmo fato protetor descartável durante seis ou mesmo nove horas quando estes não deviam ser usados durante mais de quatro horas numa situação de quarentena.
"Claro que não advogamos este método, mas as equipas médicas não têm mesmo alternativa", lamenta Jiao Yahui.
Há quem se veja obrigado a vestir fatos com um tamanho desadequado em relação ao seu e quem desinfete o fato protetor e volte a usá-lo no dia seguinte.
O mayor de Wuhan disse esta sexta-feira que a cidade enfrenta uma quebra alarmante de material médico. Todos os dias há 56 mil máscaras descartáveis e 41 mil fatos de proteção em falta para suprir as necessidades.
À falta de material, soma-se a falta de recursos humanos. Os doentes chegam às centenas e "os médicos estão exaustos", conta à AFP uma médica num grande hospital de Wuhan.
Apesar de alguns profissionais de saúde apresentarem sintomas compatíveis com a infeção pelo novo coronavírus, como tosse e dificuldades em respirar, ordens superiores determinam que todos aqueles que não têm febre têm de trabalhar.
"Não queremos trabalhar sendo nós mesmos um foco de infeção, mas neste momento não há ninguém para nos substituir", disse o médico de outra clínica Wuhan, que pediu anonimato por receio de represálias.
Ao medo e à pressão junta-se o desânimo de quase todos os médicos em Wuhan: não conseguem salvar grande parte dos doentes que recebem.
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