Medidas de Macron custam oito a dez mil milhões de euros e podem não ser suficientes
Portugueses em França alertam que, apesar das medidas "corajosas" anunciadas por Macron, continuam a existir razões para os franceses protestarem.
Corpo do artigo
As medidas anunciadas esta segunda-feira por Emmanuel Macron, em resposta aos coletes amarelos, vão custar entre 8 e 10 mil milhões de euros ao Estado francês.
As contas foram apresentadas pelo secretário de Estado das Finanças Públicas, Olivier Dussopt que, em declarações à BFM TV, admitiu que ainda falta "afinar as contas e ver como se podem financiar estas medidas."
Um aumento de 100 euros no salário mínimo
Foi no início da noite desta segunda-feira que Macron fez um discurso à nação no qual respondeu às reivindicações dos coletes amarelos.
"O salário mínimo aumentará 100 euros, sem impostos e sem encargos. As horas extraordinárias serão isentas de tributação. Todos os empregadores que possam devem dar um prémio de final de ano aos seus trabalhadores", anunciou.
Os reformados com pensões abaixo dos 2 mil euros ficam também isentos de pagar a Contribuição Social Generalizada (CSG), sendo que Macron alegou que era um "esforço injusto" para essas pessoas.
Discurso "corajoso" mas insuficiente
A TSF procurou saber qual o efeito que as palavras de Macron tiveram na opinião pública. O antigo embaixador Francisco Seixas da Costa considera que estas são medidas corajosas e que mostram que Macron recuou, uma vez que também não tinha alternativa.
"É um recuou, quase que se podia fazer uma ironia: la république marche à arriére [a república anda para trás]. Na realidade, é um sentido de alguma responsabilidade em relação ao que se passou no país. Era, talvez, a única forma possível de tentar acalmar os ânimos, mas não é claro se será suficiente", explica. O conjunto de reivindicações feitas pela sociedade francesa são, na opinião do antigo embaixador, "algo que naturalmente não para nas medidas que foram anunciadas pelo Presidente."
Com o salário mínimo em França situado, neste momento, nos 1150 euros e com perspetivas de subir para os 1250, Seixas da Costa alerta que a Comissão Europeia (CE) vai estar atenta ao que vai agora acontecer. O vice-presidente da CE, Valdis Dombrovskis, já fez saber que Bruxelas está a analisar as medidas que foram anunciadas, apesar de não poder fazer comentários até que Paris as detalhe formalmente.
Dadas estas condicionantes, o antigo embaixador recorda que França tem um peso diferente de Itália nas contas europeias: "Há um ano e tal, quando França teve um deslize orçamental importante e alguém perguntou a Juncker porque é que França podia fazer aquilo, ele respondeu: parce que c'est la France. A CE não deixa de ter em consideração o peso relativo dos países."
Itália pode, no entanto, dar-se por satisfeita, uma vez que "vai encontrar um bom parceiro para uma desregulação das contas europeias."
Durante o seu discurso, Macron mencionou um estado de emergência social e económica, palavras que Carlos Reis, jurista e membro do Conselho Consultivo das Comunidades Portuguesas, interpreta à TSF como uma forma de resolver de forma rápida os problemas dos mais pobres.
"É para resolver os problemas dos mais pobres, dos reformados que beneficiam de uma reforma muito «fraquita». Aumentou cada pessoa em 100 euros por mês, o que representa 1200 euros no fim do ano. A tradução que faço da emergência social é a de resolver os problemas dos mais pobres o mais rápido possível", entende.
Para Luísa Semedo, que integra também o Conselho Consultivo das Comunidades Portuguesas, o discurso do presidente francês não atingiu os objetivo e não vai ser suficiente para parar os protestos.
"Já se ouviram vários coletes amarelos a reagirem. Não há nenhum que diga que estão completamente satisfeitos ou que já não vão para a rua. Todos dizem que não vão largar a luta, que não é suficiente. O Presidente deixou algumas vagas do seu discurso um pouco vagas e que esta terça-feira o primeiro-ministro irá detalhar melhor algumas das medidas. Imagino que vão ouvir o que dizem os coletes amarelos e a oposição", explica.
Acreditando que Macron vai agora tentar "calibrar" as palavras para manter os cidadãos fora da rua, Luísa Semedo entende que as palavras de Macron não foram suficientes e que a classe média-baixa continua a ter motivos para protestar.