Médio Oriente. “Não vale a pena apresentar ideias líricas sobre um futuro sem ponderar o presente"
Líderes da diplomacia europeia dizem ter transmitido ao homólogo israelita Israel Katz que, se não houver abertura para reconhecer os direitos palestinianos, "não há possibilidade nenhuma" de qualquer plano avançar.
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O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, alertou esta segunda-feira para a urgência de um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O tema foi abordado na reunião em Bruxelas, na presença de representantes de ambos os lados de um conflito.
“A mensagem foi muito bem recebida pelos colegas árabes”, destacou o ministro, lamentando que da parte de Israel o apelo não tenha sido acolhido da mesma maneira.
“O colega israelita, infelizmente, não nos pareceu preparado para responder a questões fundamentais, como sejam como é que se pode avançar para a solução de dois Estados? Como é que se pode parar com a violência dos colonos na Cisjordânia?”, afirmou Gomes Cravinho, admitindo que tal possa dever-se ao facto de “ser a primeira reunião” europeia em que o novo ministro israelita dos Negócios Estrangeiros participou.
“A minha expectativa é que talvez a próxima vez que ele fale connosco esteja mais bem preparado”, disse.
Sem respostas às perguntas da União Europeia, o ministro israelita apresentou um plano para a criação de uma plataforma logística no mar, que serviria o controlo da entrada de navios em gaza e em Israel. João Gomes Cravinho frisou que a ideia não teve acolhimento entre os 27.
"Aquilo que o ministro israelita [dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz] nos apresentou foi um plano - que não é de transferência da população de Gaza -, para a criação de uma ilha que permitiria, a três ou quatro quilómetros da costa de Gaza, criar uma plataforma logística para a paz, uma plataforma logística que alimentaria tanto Israel como Gaza", declarou João Gomes Cravinho.
“O que eu lhe disse - e vários outros lhe disseram - foi que não vale a pena estarmos a trazer ideias líricas sobre um futuro de paz e harmonia, se não houver disponibilidade no imediato para trabalhar para o reconhecimento dos direitos palestinianos, que estavam inteiramente ausentes da forma como ele apresentou as suas ideias”, revelou o ministro português, alertando que é “fundamental” dar uma resposta para a situação mais urgente no terreno.
“É fundamental que haja um cessar-fogo para que a população não continue a ser fustigada da maneira como tem sido e que não haja uma sequência de mortes de mulheres, crianças, pessoas inocentes e vulneráveis em Gaza é que é absolutamente insustentável”, considerou João Gomes Cravinho, afirmando que ele próprio “teve ocasião de dizer exatamente isso ao colega israelita”.