Apesar da expressiva quantia, parte do investimento anunciado pela Apple e Nvidia vai para custos operacionais já existentes e para projetos que tinham sido previamente divulgados
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A Apple e Nvidia anunciaram um investimento superior a mil milhões de dólares (cerca de 925 milhões de euros) na cadeia de abastecimento tecnológica dos Estados Unidos, como passo decisivo para a retoma da indústria norte-americana. No entanto, para os analistas a interpretação é diferente e este investimento pode traduzir-se num movimento simbólico em contexto de forte tensão geopolítica.
Apesar da expressiva quantia, parte do investimento anunciado pela Apple e Nvidia vai para custos operacionais já existentes e para projetos que tinham sido previamente divulgados. De acordo com uma análise elaborada pela Coface, divulgada esta quarta-feira, a ausência de infraestruturas de produção próprias sugere, por isso, que o compromisso seja maioritariamente executado com recurso a fornecedores externos.
Este posicionamento surge num contexto político marcado pela retórica da Administração Trump em torno da independência industrial e o apoio ao “chips and Science Act”, a proteção contra novas tarifas e o alívio das restrições de exportação para semicondutores são algumas das motivações subjacentes.
Para os especialistas, o alinhamento público com esta estratégia pode gerar tensões com mercados internacionais cruciais, como a China, e expor as empresas a potenciais retaliações e este anúncio também lança alguma luz sobre os desafios estruturais persistentes da produção de semicondutores nos Estados Unidos.
A falta de mão de obra especializada, os elevados custos de operação e a dependência de tecnologia importada continuam a dificultar a verdadeira reindustrialização do setor. Também a aposta excessiva em chips de Inteligência Artificial pode negligenciar necessidades fundamentais, como os chips de menor complexidade, essenciais para a indústria automóvel e outros setores críticos.
Perante o compromisso agora anunciado, além de mediático, deixa no ar uma questão essencial: será o reshoring uma transformação real ou apenas uma narrativa conveniente para tempos de incerteza geopolítica? Uma questão por responder nesta análise económica feita pela Coface, grupo internacional de referência em seguros de crédito e análise de risco.
