Mercado de trabalho mantém-se "robusto". Bruxelas revê em baixa crescimento e inflação
A Comissão Europeia revê em baixa as perspetivas de crescimento da economia na UE27 e na área do euro. A inflação também deverá continuar a abrandar, mas a guerra na Ucrânia e as alterações climáticas continuarão a apresentar riscos para a economia europeia.
Corpo do artigo
No boletim macroeconómico intercalar de verão, publicado esta segunda-feira, Bruxelas projeta o crescimento económico da UE para 0,8% em 2023, em vez de 1% como era apontado na previsão de primavera. Há também um ligeiro ajuste em relação à perspetiva de crescimento em 2024, para 1,4%, relativamente aos 1,7%, que a Comissão apontava no boletim da anterior.
Na zona euro, a Comissão aponta agora um crescimento de 0,8% este ano, em vez de 1,1%, e de 1,3% em 2024, abaixo dos 1,6%, que previa no boletim da primavera.
A inflação deverá continuar a descer este ano e no próximo. Na UE, "a inflação do Índice Harmonizado de Preços ao Consumidor agora é projetada para alcançar 6,5%, em 2023 e 3,2% em 2024", refere uma nota da Comissão Europeia. Na área do euro, a inflação vai alcançar os 5,6% em 2023 e 2,9% em 2024.
Crescimento abranda
Bruxelas refere que a informação atualizada confirma uma atividade económica "moderada", na União Europeia, durante o primeiro semestre de 2023, "devido aos profundos choques que a UE enfrentou".
A diminuição da procura interna "em particular o consumo, mostra que os preços elevados e ainda em crescimento para o consumidor, na maioria dos bens e serviços estão a ter um impacto maior do que o esperado na Previsão de Primavera", justifica a Comissão Europeia.
Bruxelas salienta que esta desaceleração ocorre ao mesmo tempo em que se regista uma queda nos preços da energia, e o mercado de trabalho segue "excecionalmente forte".
A política monetária seguida pelo BCE "tem afetado a economia", como demonstra a "acentuada desaceleração na concessão de crédito bancário à economia".
Apesar da "forte temporada" de turismo "em muitas partes da Europa, os Indicadores apontam agora para uma "desaceleração da atividade económica no verão e nos meses seguintes", com um ritmo "continuo", mais lento na indústria e a "perda de impulso nos serviços".
A Comissão Europeia espera a mesma tendência se mantenha ao longo do ano de 2024. A previsão é igualmente para que "o impacto da política monetária restritiva continue a conter a atividade económica".
"No entanto, prevê-se uma ligeira recuperação no crescimento no próximo ano, à medida que a inflação continua a diminuir, o mercado de trabalho permanece robusto e os rendimentos reais recuperam gradualmente", frisa a Comissão Europeia, em comunicado.
Abrandamento da inflação
No primeiro semestre de 2023, a inflação teve uma ligeira quebra, em particular por influência da "descida dos preços da energia" e por um abrandamento no aumento dos preços dos alimentos e produtos industriais. Em julho, na zona euro, a inflação situou-se nos 5,3%, que "corresponde a metade da taxa máxima de 10,6% observada em outubro de 2022", refere a Comissão Europeia, salientando que "em agosto, este valor manteve-se inalterado".
Espera-se que os preços da energia continuem em queda, embora de forma mais gradual, até ao final do ano. Porém, o "aumento do preço do petróleo" deverá forçar um aumento do custo da energia, em 2024, prevê a Comissão.
A inflação nos serviços tem-se mantido mais persistente do que o antecipado por Bruxelas, embora a Comissão considere "provável" que venha a abrandar, por via da "diminuição da procura e dos efeitos da restrição da política monetária, assim como pela "diminuição dos estímulos", sequência da pandemia.
Os preços dos alimentos e dos produtos industriais, excluindo energia, continuarão a desempenhar um papel na descida da inflação, uma tendência que se deverá também aos preços mais baixos dos materiais e à estabilização das cadeias de fornecimento.
Riscos e Incertezas
No entanto, "a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e as tensões geopolíticas mais amplas continuam a representar riscos e são uma fonte de incerteza", sublinha a Comissão Europeia, admitindo que "o aperto monetário pode pesar mais fortemente na atividade económica do que o esperado", embora também possa vir a traduzir-se "numa queda mais rápida na inflação".
Bruxelas identifica ainda "riscos climáticos crescentes, ilustrados pelas condições meteorológicas extremas e incêndios florestais e inundações sem precedentes no verão, também pesam na perspetiva".
