Política comercial e à migração dominam encontros do novo chanceler alemão com os líderes institucionais, durante a visita a Bruxelas
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O novo chanceler alemão, Friedrich Merz revelou, esta sexta-feira, em Bruxelas, que já advertiu Donald Trump, numa conversa ao telefone, de que a política comercial seguida pelos Estados Unidos é contraproducente e que escalar a guerra de tarifas "não é uma boa ideia”, considerando que o ideal seria uma “tarifa zero”.
Merz revelou ainda que recebeu um convite de Trump para visitar a Casa Branca, mas sublinhou que, em matéria de comércio, os acordos com países da União Europeia têm de ser negociados por Bruxelas, contrariamente ao que sucedeu, relativamente ao acordo celebrado ontem, quinta-feira, entre Londres e Washington.
“Expliquei-lhe também que isso não é possível com outros Estados europeus individualmente, que são membros da União Europeia, porque na política comercial só podemos e queremos agir em conjunto”, afirmou Merz, acrescentando que “ficou com a impressão de que ele [Trump] aceitou isso, que essa também é a sua visão, que só o pode fazer connosco”.
“Disse-lhe também que estou em estreita coordenação com a Presidente da Comissão e que gostaríamos de tratar disso em conjunto", afirmou Merz, referindo-se à conversa telefónica com o presidente norte-americano.
Comércio
O chanceler alemão reiterou que as guerras comerciais prejudicam todos, incluindo quem as inicia, e manifestou-se convicto de que a abordagem unilateral adotada por Trump terá efeitos negativos também para a economia americana.
“Disse-lhe que, do meu ponto de vista, não é uma boa ideia escalar esta guerra de tarifas”, sublinhou Merz, defendendo que “a melhor solução seria baixá-las para zero em tudo e para todos”.
O novo líder do governo alemão disse acreditar que a administração americana começa a reconhecer os impactos negativos da sua política protecionista. “A minha impressão é que também na América começa a discussão sobre os efeitos negativos das tarifas elevadas na própria economia”, afirmou Merz, convicto de que “ele [Trump] está, naturalmente, atento a isso”.
“Por isso, vamos tentar perceber o que podemos fazer em conjunto. A minha convicção é, e continua a ser, que uma disputa comercial deste tipo só nos pode prejudicar e, no fim, não beneficia realmente ninguém", afirmou.
Ucrânia
Durante a visita a Bruxelas, Merz adiantou ainda que pretende discutir com Trump temas como a padronização de tecnologias, a robótica e o futuro da Ucrânia, considerando que a paz depende de Moscovo aceitar os termos de um acordo que é semelhante do lado europeu e do lado americano.
“Existe um projeto de comunicado entre os Estados-Membros da União Europeia. Ele [Trump] conhece o texto — é, em grande medida, idêntico à sua proposta de uma trégua de 30 dias”, afirmou, considerando que “segundo a avaliação comum, cabe verdadeiramente à Rússia não só decretar a trégua anunciada para o dia de hoje e para este fim de semana, a propósito das comemorações de 8 e 9 de maio, mas também prolongá-la”.
“Trump estava muito consciente dos números de soldados mortos de ambos os lados, e considera isso um fardo pesado e um sacrifício demasiado grande. Isso deixou-me, na conversa de ontem, com alguma confiança de que ele vai agora aumentar a pressão sobre a Rússia, para que, depois deste fim de semana, possamos entrar numa fase de negociações sérias”, afirmou.
Migração
Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen abordou o tema da migração nas conversas com Frederich Merz, lembrando que a implementação do pacto europeu sobre asilo e migração exige esforço conjunto, investimento e vontade política.
"A migração é um desafio europeu comum e exige uma solução europeia comum. Foi com esse espírito que acordámos o pacto sobre asilo e migração. Agora, é importante implementá-lo, torná-lo uma realidade. Isso implica investimento e muito trabalho", afirmou von der Leyen, anunciando a mobilização de “mais três mil milhões de euros para esse fim”.
Por outro lado, Ursula von der Leyen destacou ainda a necessidade de um aumento das taxas de repatriamento de migrantes ilegais, sem direito a permanecer no espaço de livre circulação de Schengen.
"Sabemos que apenas 20% dos migrantes que recebem uma decisão negativa sobre o pedido de asilo são efetivamente devolvidos aos seus países de origem. Por isso, a Comissão apresentou em março uma proposta relativa ao retorno. Para nós, é muito importante que agora os Estados-Membros e o Parlamento Europeu assumam o seu papel", defendeu.
"Já provámos que, juntos, conseguimos enfrentar o desafio da migração irregular. E acredito que podemos continuar a fazê-lo, se trabalharmos lado a lado e com pleno respeito pela legislação que acordámos em conjunto", concluiu a líder do executivo comunitário.
Entretanto, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, que também recebeu Frederich Merz, na instituição que lidera, em Bruxelas, sublinhou a importância do compromisso alemão em relação às políticas migratórias europeias, alertando também que o repatriamento de migrantes ilegais deve acelerar.
"Em relação à migração, nenhum país, por si só, pode — ou deve — enfrentar este desafio. A solução tem de ser europeia. Precisamos de uma abordagem abrangente e coesa, que respeite os nossos valores e responsabilidades, mas que também seja firme em relação àqueles que não têm direito de entrar e permanecer", afirmou Metsola.
"Os próximos passos passam, de facto, por encontrar uma forma mais eficaz de proceder ao retorno. Por isso, caro Chanceler Merz, caro Friedrich, a sua visita a Bruxelas não é apenas um regresso a casa. É uma reafirmação do compromisso da Alemanha com o projecto europeu. E estou confiante de que, juntos, trabalharemos para garantir que a Europa permaneça forte, soberana e firme", vincou.
Alianças
Na receção oficial ao novo chanceler, o presidente do Conselho Europeu, António Costa destacou o papel da Alemanha como elemento de estabilidade e liderança dentro da União Europeia.
"Um novo líder significa sempre uma nova energia, novas ideias. E a Alemanha é um parceiro muito fiável desde o primeiro dia da União Europeia, contribuindo sempre — sob diferentes lideranças — para fortalecer a União, ultrapassar divergências e consolidar a unidade entre os 27", afirmou Costa.
"A minha expectativa é, naturalmente, que Friedrich Merz continue a colocar a Alemanha no centro do processo de decisão europeu. E tenho plena confiança nesta nova energia, nesta nova vontade de continuar a construir a nossa União Europeia", frisou o presidente do Conselho Europeu.