Filho de imigrantes libaneses, Temer reforma esta quinta-feira o prefixo "vice", que ostentou ao longo dos últimos cinco anos, para suceder a Dilma Rousseff na presidência do Brasil.
Corpo do artigo
Esta quinta-feira, e depois de uma sessão no senado brasileiro que durou quase 20 horas, 55 senadores disseram "sim" à abertura do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Ultrapassada a maioria simples - 41 senadores -, foi ditada a suspensão de Dilma do cargo de presidente do Brasil, por um período máximo de 180 dias.
O lugar de Dilma Rousseff será ocupado, ainda que de forma interina, pelo vice-presidente, Michel Temer.
Quem é Temer?
Michel Miguel Elias Temer Lulia tem 75 anos, e nasceu no interior de São Paulo. É filho de pais libaneses, que deixaram o país para viver no Brasil, e o mais novo de oito irmãos.
Em criança Temer quis ser pianista, mas a falta de um professor levou-o para a datilografia. Na máquina de escrever, contou o próprio à revista Piauí, dedilhava como se de um piano se tratasse.
Para concluir a escola, Temer mudou-se para a capital São Paulo, onde acabaria por chegar à faculdade de direito, tal como quatro dos seus irmãos. Foi aqui que teve o primeiro contacto com a política, como segundo tesoureiro do Centro Académico. Mais tarde, candidatou-se à presidência da entidade e perdeu o que, juntamente com a ditadura militar, o levou a afastar-se do movimento estudantil.
Durante vários anos foi apenas professor universitário e advogado, sem nunca exercer cargos públicos. A filiação ao PMDB chegou apenas em 1981, com 41 anos.
Estava dado o tiro de partido para a sua ascensão política. Primeiro foi procurador-geral do Estado de São Paulo, em 1983, e logo no ano seguinte chegou a secretário de Segurança Pública, onde era visto como conservador. Criticava manifestações e defendia a redução da maioridade penal.
Em 1986 chegou a deputado federal, eleito como suplente para a Assembleia Nacional Constituinte. Rapidamente lhe foi reconhecida fama de conciliador e talentos para os jogos de bastidores, o que o levou a presidir a Câmara dos Deputados, o terceiro cargo na linha de sucessão à presidência do Brasil.
Em 2001, Temer chegaria à presidência do PMDB de onde apenas saiu este ano, como manobra política, para não perder o cargo de vice-presidente do Brasil.
Temer chegou à vice-presidência do Brasil em 2011, após negociações com Lula da Silva, na construção da equipa que conduziria Dilma Rousseff à liderança do país, em 2010.
O "vice-decorativo"
Tudo parecia bem até finais de 2015. Em dezembro do ano passado, e uma semana após Eduardo Cunha aceitar o pedido de impeachment, Michel Temer enviou uma carta a Dilma onde confessou sentir-se um "vice decorativo". Num longo desabafo, Temer lembrou a história de ambos e disse acreditar que Dilma não confiava em si.
"Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas". Esta carta foi encarada como um divórcio, após um casamento que, cinco anos antes, teve direito a um bolo, com bonecos de Dilma e Temer.
Desde que rompeu com Dilma, Temer voltou a dar uso às habilidades que o tornaram num político reconhecido, procurando angariar votos a favor do impeachment. O problema é que as sondagens mais recentes indicam que Temer não recolhe a aprovação nem dos que estão a favor do impeachment (68%), nem dos que estão contra (88%).
"Ficha-suja"
Também contra o novo presidente do Brasil está o alegado envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Temer nega as acusações mas, recentemente, foi condenado a pagar uma multa de 80 mil reais, cerca de 20 mil euros, por ter feito doações acima do limite permitido. É considerado um "ficha-suja" no Brasil.
Esta condenação não o impede de assumir a presidência do Brasil mas, se quiser concorrer a novas eleições, precisa que a decisão seja revogada pelo Tribunal Superior Eleitoral ou que passem oito anos de inegabilidade. Estas condições acabam a favorecer Temer na formação de um novo governo, porque os aliados não querem que o agora presidente concorra ao cargo em 2018, algo que já prometeu que não irá fazer.