"Mediterrâneo é uma vala comum." Autarcas espanhóis e italianos criticam Europa e lançam apelo
Inércia e negação dos direitos humanos tem sido a resposta europeia ao "horror" da crise de refugiados, condenam cidades de Espanha e de Itália.
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Os autarcas de várias cidades de Espanha e de Itália assinaram em Roma um apelo conjunto para um maior empenhamento europeu no acolhimento de migrantes, defendendo que, nesta matéria, a Europa precisa "de ser salva dela própria".
"O mar Mediterrâneo tem sido o lar comum de civilizações milenares nas quais os intercâmbios culturais trouxeram progresso e prosperidade. Hoje, tornou-se uma vala comum de milhares de jovens", denunciaram os presidentes da câmara das cidades espanholas de Madrid, Barcelona, Saragoça e Valência e os seus homólogos das cidades italianas de Nápoles, Palermo, Siracusa, Milão e Bolonha, que hoje reuniram-se na capital italiana.
Segundo os autarcas espanhóis e italianos, tal situação pode ser encarada como "um naufrágio" da Europa.
"Devemos salvar a Europa dela própria. Recusamos acreditar que a resposta europeia perante este horror seja a negação dos direitos humanos e a inércia face ao direito à vida. Salvar vidas não é um ato negociável e impedir a partida de navios (de resgate) ou negar-lhes a entrada num porto é um crime", reforçaram os autarcas no apelo.
Os autarcas referem-se aos vários navios de organizações não-governamentais (ONG) que ao longo dos últimos meses tem resgatado centenas de migrantes no Mediterrâneo e têm aguardado vários dias em mar até obter autorização para aportar num porto seguro e europeu.
Os autarcas signatários do apelo elogiaram o empenho destas ONG (quase todas têm atualmente os respetivos navios bloqueados), das guardas-costeiras espanhola e italiana e de várias organizações humanitárias no auxílio aos migrantes.
Os mesmos autarcas anunciaram a formação de uma "aliança" para apoiar estas ONG envolvidas nos resgates em mar e para "voltar a trazer à superfície" o projeto europeu e os seus princípios fundadores.
Antes desta reunião entre autarcas, o Vaticano anunciou hoje que o papa Francisco recebeu, na sexta-feira, Manuela Carmena e Ada Colau, presidentes das câmaras de Madrid e de Barcelona, respetivamente, bem como Oscar Camps, fundador da ONG catalã Proativa, que tem realizado ações de resgate na rota do Mediterrâneo Central (da Líbia para Itália) com o navio "Open Arms".
Cerca de 6.932 migrantes e refugiados chegaram à Europa por via marítima nos primeiros 38 dias deste ano, um decréscimo de 12% face às 7.795 chegadas registadas no mesmo período de 2018, divulgou, na sexta-feira, a Organização Internacional das Migrações (OIM).
As mortes registadas nas três principais rotas do mar Mediterrâneo - Mediterrâneo Oriental (da Turquia para a Grécia), Mediterrâneo Central (da Líbia para Itália) e Mediterrâneo Ocidental (de Marrocos para Espanha) -- foram 211 nestas primeiras cinco semanas do ano, de acordo com os mesmos dados.
No ano passado, no mesmo período, foram contabilizadas 391 mortes.
Espanha tornou-se em 2018 a principal rota marítima para a Europa e perspetiva-se neste princípio de 2019 como a principal porta de entrada de migrantes para o território europeu.
A atual coligação governamental italiana, composta pela Liga (partido de extrema-direita) e o Movimento 5 Estrelas (M5S, populista), tem adotado uma linha dura em matérias relacionadas com as migrações.