Milhares de pessoas sem "comida e tratamentos". MSF alertam para "crise humanitária" na Arménia
A organização não governamental sublinha, à TSF, que apesar de os cálculos mais recentes darem conta de "68 mil" refugiados, "é muito provável que este número vá subir", sendo necessário reforçar o apoio humanitário.
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O coordenador-geral dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Erevan alertou esta quinta-feira para "uma catástrofe humanitária" na Arménia à medida que se aproxima o inverno. Franking Frias descreve um cenário de grandes fragilidades e com longas horas de viagem para aqueles que procuram fugir do enclave vizinho Nagorno-Karabakh.
"Há quem passe 20 horas na estrada, mas temos casos de quem tenha viajado durante 32 horas. Mas antes de deixarem Nagorno-Karabakh já lutavam contra a falta de comida e de água", sublinha Franking Frias, em declarações à TSF.
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Quase metade da população da região, no Cáucaso, fugiu para a Arménia desde a ofensiva do Azerbaijão, nos últimos dias. Além da falta de mantimentos para os milhares de refugiados, o coordenador-geral alerta para a inexistência de tratamentos suficientes para os doentes.
"Doenças como a hipertensão e a asma não podem ficar sem tratamento durante longos períodos e muitos já não o faziam", lamenta, sublinhando que além das doenças físicas, existem sequelas mentais.
"Vamos dar apoio à saúde mental, mas vão aparecer mais necessidades e elas vão ser atendidas", garante.
Apesar das dificuldades, Franking Frias assegura que as organizações humanitárias estão a trabalhar com o Governo arménio para garantir abrigo para todos aqueles que procuram refúgio.
"As pessoas estão a ser levadas para hotéis, escolas e outros edifícios, não apenas na região de Syunik, mas noutros locais, e sabemos que o Governo está a facilitar essas deslocações", explica.
Nagorno-Karabakh tem pouco mais de 140 mil habitantes, praticamente metade já saiu. "Os números oficiais divulgados esta manhã apontam para 68 mil, mas sabemos que há mais gente a chegar à Arménia, portanto, é muito provável que este número vá subir".
Com o inverno a chegar, os MSF falam "uma crise humanitária" e sublinham que é necessário assegurar apoio a estas populações por um longo período de tempo.
"Isto é uma crise humanitária. São pessoas que buscam por uma nova vida e que vão precisar de apoio em muitos aspetos, não apenas na saúde, mas a longo prazo, vai, com certeza, ser necessário ajudá-las ainda mais", destaca.
A maior parte dos refugiados são mulheres, crianças e idosos que partem em busca de um futuro menos incerto.
O governo separatista do Nagorno-Karabakh anunciou esta quinta-feira que se vai dissolver e que a república não reconhecida vai deixar de existir até ao dia 1 de janeiro de 2024.
Este anúncio ocorre depois de o Azerbaijão ter levado a cabo uma ofensiva militar para recuperar o controlo total da região separatista e ter exigido que as tropas arménias no Nagorno-Karabakh depusessem as armas e que o governo separatista se desmantelasse.
O Nagorno-Karabakh ficou sob o controlo de forças de origem arménia, apoiadas pelo Exército de Erevan, após os combates que se prolongaram depois da queda da União Soviética, no início dos anos 1990, e 1994.
Durante uma guerra de seis semanas em 2020, o Azerbaijão recuperou partes do Nagorno-Karabakh, bem como o território circundante que as forças arménias tinham reivindicado durante o conflito anterior.