Pensava-se que a frase escrita na pintura "O Grito" se tratava de um ato de vandalismo. Afinal, terá sido o próprio artista a escrevê-la.
Corpo do artigo
Durante anos, investigadores e especialistas em história de arte questionaram-se sobre uma frase, quase impercetível, escrita a lápis no canto superior esquerdo do quadro "O Grito", do norueguês Edvard Munch: "Só podia ter sido pintado por um homem louco!".
Até agora, admitia-se a possibilidade de se tratar de um ato de vandalismo, mas os curadores do Museu Nacional de Arte, Arquitetura e Design da Noruega, em Oslo, garantem que o mistério foi desvendado sem margem para dúvidas - terá sido o próprio artista a escrever a frase.
A inscrição "foi examinada agora com muito cuidado, letra por letra e palavra por palavra, e é idêntica em todos os aspetos à caligrafia de Munch", disse a curadora responsável pela investigação, Mai Britt Guleng, citada pelo jornal New York Times . "Portanto, não há mais dúvidas."
A frase é praticamente impossível de ver a olho nu para os visitantes do museu, mas foi analisada com ajuda de tecnologia de infravermelhos. Munch "não escreveu em letras grandes para que todos vissem", nota Britt Guleng, "é preciso olhar com muita atenção para ver".
Quando exposta pela primeira vez ao público na Noruega, em 1895, a obra provocou um coro de críticas e levou a opinião pública a especular sobre a saúde mental de Edvard Munch. Segundo os diários e cartas, o artista sentiu-se revoltado e profundamente magoado pela reação do público e pode ter sido nesse momento que acrescentou a frase, a lápis, à pintura.
Considerada uma das obras que abriu caminho à corrente expressionista, "O Grito" tem sido interpretado como uma representação simbólica da ansiedade e angústia humanas, com o cunho pessoal do artista norueguês que durante anos se debateu com problemas de ansiedade, depressão e alcoolismo.
Edvard Munch (1863-1944) passou mesmo vários anos da sua vida numa clínica psiquiátrica, onde foi internado depois de um colapso nervoso, em 1908.
Existem várias versões da obra "O Grito", nomeadamente duas pinturas, duas obras em pastel, várias litografias e alguns desenhos e esboços. A primeira pintura, datada de 1893, pertence Galeria Nacional da Noruega e o Museu Munch detém a segunda versão, de 1910.