A TSF entrevistou Peter Szijjarto, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, que garantiu que a abordagem daquele país à crise dos refugiados não irá mudar.
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O ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria esteve em Portugal durante esta quinta-feira, para uma visita à CPLP, comunidade da qual passou a ser observador associado. A TSF entrevistou Peter Szijjarto, que abordou temas como a crise dos refugiados, União Europeia e a nomeação de António Guterres para as Nações Unidas.
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Comecemos com os refugiados. Há dois anos disse que a Hungria era o país que sofria a maior pressão migratória. Depois o seu governo começou a construir um muro e a União Europeia aplicou sanções por este assunto. O seu país está a afastar-se do conceito de integração de Europa?
Olhamos para a segurança da Europa e a das pessoas como uma prioridade. Pensamos que todas as políticas europeias deviam apontar para devolver segurança aos europeus. Olhamos para a migração ilegal como um fenómeno que traz um grande perigo de segurança para a União Europeia. Se olharmos para trás para a consequência dos últimos dois anos e meio, vemos que as organizações terroristas tiraram vantagem do grande, ilegal e irregular fluxo de pessoas para a União Europeia. Temos de ver que, durante os dois últimos anos, a situação da segurança piorou bastante na União Europeia. Houve mais de 20 grandes ataques terroristas, nos quais, infelizmente, morreram 330 pessoas e ficaram feridas 1300. Pensamos que a política da União Europeia no que toca a migração falhou e colocou um grande risco na segurança europeia.
O que deve ser feito é levar ajuda onde é necessária, os problemas não devem ser importados para onde não há problemas. O que queremos dizer é temos de levar essas pessoas para perto das suas casas o mais possível. Em vez de encorajar as pessoas a virem para a Europa, devemos ajudá-los a ficar perto de casa. Pensamos que a cooperação com Turquia, Jordânia, Líbano, Iraque, ou a parte curda do Iraque, deve estar na fila da frente. Devemos ajudar estes países a estarem aptos a cuidar das pessoas que têm de fugir das suas casas, porque estas pessoas arriscam a vida para vir para a Europa e depois nunca regressarão. Devemos ajudá-los a ficar perto de casa para poderem regressar assim que a crise termine. Esta é a nossa clara posição sobre o assunto desde que começou a crise dos refugiados.
A segurança é a grande preocupação. Não está nos planos mudar a abordagem?
Porque deveríamos mudar? Tivemos mais de 400 mil pessoas a entrar na Hungria em 2015. Estas pessoas violaram as regras europeias e húngaras de forma massiva. Deixámos claro que isto é totalmente inaceitável, as pessoas estarem a violar fronteiras. Não há nenhuma desculpa legal ou humanitária para violar as fronteiras entre dois países em paz -- Sérvia, Croácia e Hungria são todos países em paz. Não é possível nomear uma razão para autorizar alguém para violar estas fronteiras. Temos de cumprir com as nossas obrigações do Acordo Schengen.
O sistema Schengen é baseado em claras obrigações em relação a países que estão localizados fora de fronteiras, como é o nosso caso. As regras de Schengen deixam muito claro que se formos um país fora de fronteiras temos de garantir que a nossa fronteira é apenas cruzada pelos postos fronteiriços oficiais, com os documentos necessários. De forma a cumprir com estas obrigações, se tiveres a tua fronteira a 550 metros fora da fronteira da área Shengen, não há outra solução que não seja construir um muro, como os espanhóis fizeram nas cidades no norte de áfrica, como os gregos fizeram na fronteira com a Turquia, como os búlgaros fizeram na fronteira com a Turquia. Posto isto, tenho de dizer que rejeito os duplos standards, rejeitamos totalmente escolher um ou dois países. Temos de aplicar os mesmos standards para todos.
Vivemos tempos desafiantes e de mudança, com o Brexit, a crise dos refugiados, economia... A Hungria está na União Europeia para ficar?
Claro. Isso nem é uma questão. O nosso lugar é aqui, na União Europeia. A Hungria só pode ser forte numa União Europeia forte, é por isso que fazemos parte dos debates sobre o futuro. Eu não gosto da abordagem que tenta fazer sobressair os debates atuais da União Europeia como uma tragédia.
Você disse-o muito bem, temos sido confrontados com desafios históricos -- Brexit, a guerra na Ucrânia, energia, segurança, migração, medo do terrorismo -- e temos 28 países soberanos na União Europeia. É óbvio que em tempos desafiantes temos abordagens diferentes. Não devemos olhar para o debate atual sobre a União Europeia como algo mau, devemos olhar como algo natural. Esperamos que no final haja uma solução, mas para acontecer essa solução temos de garantir que estes debates se mantêm racionais, e que não se tornam emocionais imediatamente.
Penso que o problema não está no debate sobre a União Europeia, mas sim no facto deste debate tornar-se emotivo muito rapidamente e que acabam por culminar em estigmatização, em ataques e acusações uns aos outros em vez de tentarem encontrar soluções. Penso que todos os membros têm um objetivo: ter uma União Europeia mais forte. É o nosso objetivo também. Há duas abordagens principais: uma que diz que a UE só pode ser forte na forma de Estados Unidos da Europa. Isto é algo com que não concordamos. Pensamos que os membros têm de ser fortes para termos uma União Europeia forte.
A Hungria apoiou Kristalina Georgieva para as Nações Unidas. Porque é que não apoiou António Guterres ou, se preferir, porque escolheu Georgieva em vez de Guterres?
Prefiro dizer que não estamos, de todo, insatisfeitos com a eleição do senhor Guterres. O nosso primeiro-ministro tem uma ótima relação com ele. Serviram enquanto primeiros-ministros um par de anos na mesma altura. E, como o nosso primeiro-ministro recorda, e isso foi enfatizado pelo secretário-geral quando o conheci, têm uma ótima relação. Embora tenham muitas questões em que concordam, talvez mais em que discordam, são ambos líderes fortes. Apoiamos a posição do senhor Guterres na necessidade para reformar as Nações Unidas. Gostaríamos de ver uma metodologia de decisão muito mais rápida. Gostaríamos de ver um envolvimento mais profundo das Nações Unidas na manutenção da paz. E estamos contentes com a decisão do senhor Guterres de colocar mais esforços na luta antiterrorista e que tenha nomeado um secretário-geral adjunto para essa luta antiterrorista. O senhor Guterres pode contar com o nosso apoio no que toca à reforma das Nações Unidas.
Mudaria agora o apoio para António Guterres?
Visto que não há uma eleição agora, não há uma necessidade de mudar. Nessa altura o nosso Governo decidiu apoiar a senhora Georgieva, que conhecemos muito bem. Ela vem da mesma família política do nosso Governo. Temos uma relação bilateral muito boa com a Bulgária e com a atual liderança búlgara. Foi um pedido do primeiro-ministro búlgaro, que é muito amigo do nosso primeiro-ministro, apoiar a senhora Georgieva, que conhecemos muito bem da Comissão Europeia. Ela teve ótimas prestações lá, por isso não havia razões para não a apoiar. Mas, repito, apoiamos os esforços do senhor Guterres para reformar as Nações Unidas e podemos trabalhar juntos muito bem, o nosso representante permanente em Nova Iorque tem uma ótima relação com o seu staff.