Dmytro Kuleba convidou as forças nacionais para se juntarem à formação de pilotos ucranianos e a uma "coligação de caças de combate".
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O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu esta sexta-feira em Lisboa que Portugal participe numa coligação internacional de formação de pilotos e fornecimento de caças de combate modernos, bem como apoio na adesão de Kiev à NATO.
Após uma reunião com o homólogo português, João Gomes Cravinho, o chefe da diplomacia ucraniana afirmou que foi discutida a assistência militar e a dinâmica da guerra em curso, desde a invasão russa, em 24 de fevereiro do ano passado, referindo que Lisboa e Kiev estão alinhados na necessidade de a Ucrânia restaurar plenamente a sua integridade territorial.
"Convidei Portugal para se juntar à coligação de caças de combate, começando a formar pilotos ucranianos", disse Kuleba em conferência de imprensa, numa proposta que o colega português registou mas não comentou, lembrando que Portugal já participa no grupo de fornecimento de tanques modernos: "Por isso achamos que também seria muito útil se pudessem trabalhar em aviões connosco".
O líder da diplomacia de Kiev observou que o apoio ao seu país começou a evoluir mais rapidamente do que nos meses anteriores e chegou a hora de ser reforçado, sendo "a primeira etapa a formação de pilotos".
Segundo Kuleba, outro assunto abordado foi a adesão da Ucrânia à NATO, um assunto que estará na agenda da próxima cimeira de líderes da organização, a decorrer em 11 e 12 de julho em Vilnius, Lituânia.
"Penso que temos um entendimento comum sobre este assunto, e aprecio o apoio que Portugal dá à Ucrânia no seio da União Europeia [UE] em todas as questões, em particular na abertura das conversações de adesão entre a Ucrânia e a UE até ao final deste ano", declarou.
Mas, sobre a adesão à NATO, Dmytro Kuleba alertou que este não é um fim para a guerra, nem um processo imediato.
"Todos compreendemos que a NATO não é o instrumento para acabar com a guerra, a NATO é o instrumento para evitar novas guerras", sustentou, embora tenha convidado os líderes da organização a encontrarem uma saída para a integração de Kiev, já na reunião em Vilnius.
O dirigente agradeceu a Portugal e aos portugueses o acolhimento de refugiados e ao Governo português por refletir a vontade do seu povo e implementá-la em decisões específicas, na assistência política e militar a Kiev e no apoio a várias iniciativas ucranianas, como, por exemplo, a criação do grupo central sobre um tribunal especial para o crime de agressão contra a Ucrânia.
Por outro lado, advertiu que todo o apoio ainda é insuficiente: "Não me entendam mal, mas seja nos Estados Unidos, em Portugal, ou em qualquer outro país do mundo, direi que já foi feito o suficiente".
Para Kuleba não importa de onde venha a ajuda e insistiu na necessidade de mais: "Não basta enquanto não ganharmos. Assim que ganharmos, direi que já foi feito o suficiente (...). Depois da vitória, quando a Ucrânia ganhar, vou agradecer".
Outro ponto do encontro, referiu, foi a fórmula de paz da Ucrânia, num plano de paz proposto pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tendo pedido a Cravinho a continuação dos esforços de Portugal no envolvimento de países com quem tem relações históricas, nomeadamente em África.
De acordo com Dmytro Kuleba, qualquer proposta de mediação é bem-vinda, se atender a dois princípios fundamentais para Kiev: o primeiro sobre o pleno restabelecimento da integridade territorial da Ucrânia e o segundo relacionado com o não congelamento do conflito.
"Não precisamos de mais nada que nos pertença de acordo com o Direito Internacional, nem vamos ceder um quilómetro quadrado do nosso território", assegurou, acrescentando, por outro lado, que "nenhuma iniciativa de mediação deve basear-se no pressuposto de que devemos congelar o conflito e depois ver o que acontece".
E o que iria acontecer, segundo frisou o ministro ucraniano, seria "uma invasão ainda maior da Rússia", como demonstra a experiência desde a guerra no Donbass (leste ucraniano) e a anexação da península da Crimeia, em 2014.
Apesar de várias iniciativas diplomáticas desde então, Kuleba recordou que essas não impediram a invasão da Ucrânia no ano passado.
Na fase atual, Kuleba reiterou que a Ucrânia precisa de "coisas clássicas" para um país em guerra.
Além dos aviões de combate, o assunto mais quente dos últimos dias e que divide os Estados-membros da NATO, "é preciso armas, aliados e dinheiro", concluiu.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).