O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, já condenou o crime. As negociações de paz foram adiadas.
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O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, condenou o assassínio do membro da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) nas negociações de paz e conselheiro de Estado, Jeremias Pondeca, exigindo às autoridades o esclarecimento do caso.
"O Presidente da República condena o ato praticado e insta às autoridades competentes a esclarecê-lo", lê-se num comunicado da Presidência moçambicana.
Jeremias Pondeca, um dos membros da Renamo nas negociações de paz com o Governo e também conselheiro de Estado de Moçambique, foi assassinado no sábado em Maputo, mas o seu corpo só foi identificado no domingo na morgue do Hospital Central, com a ajuda dos familiares.
No comunicado, o Presidente moçambicano destaca que Jeremias Pondeca "prestou uma contribuição valiosa" como conselheiro de Estado, apresentando condolências ao maior partido de oposição em Moçambique pela perda.
De acordo com as autoridades moçambicanas, testemunhas disseram que Pondeca foi alvejado a tiro por quatro desconhecidos, que se transportavam numa viatura Toyota Runx, e o seu corpo foi abandonado na praia da Costa do Sol.
Negociações adiadas
As negociações de paz entre o Governo moçambicano e a Renamo foram hoje adiadas para a próxima semana por proposta do coordenador dos mediadores internacionais, disse à Lusa o chefe da delegação do principal partido da oposição, José Manteigas.
"As negociações não foram retomadas hoje, a pedido de Mário Raffaelli (coordenador dos mediadores), porque os mediadores ainda não estão todos cá e porque também é preciso reaproximar as posições entre as duas partes", afirmou Manteigas.
As negociações entre o Governo moçambicano e a Renamo deviam ter sido reatadas esta segunda feira, depois de terem sido suspensas em 30 de setembro, sob proposta dos mediadores internacionais, para permitir às partes consultas e elaboração de propostas visando a superação do impasse que se verifica em torno da cessação dos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Renamo e dos ataques a alvos civis atribuídos ao principal partido da oposição.
O adiamento das negociações acontece depois do homicídio no sábado de Jeremias Pondeca, membro da delegação da Renamo no diálogo político e conselheiro de Estado.
Primeiro-ministro
Entretanto o primeiro-ministro de Moçambique, Carlos Agostinho do Rosário, disse hoje que o diálogo político no país, entre a (Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição), "está difícil".
"Está difícil, obviamente difícil, porque queremos que a Renamo faça o diálogo e rapidamente encontre as soluções dentro daquilo que são a legislação e a Constituição da República", disse Carlos Agostinho do Rosário, em resposta a questões dos jornalistas em Macau, no final de uma reunião com o primeiro-ministro da China, Li Keqiang.
"O nosso Presidente está aberto para que se encontrem as soluções do respeito da legalidade em Moçambique", acrescentou, dizendo ainda: "Sempre estivemos otimistas, a Renamo é que deve ajudar".
Renamo
Por outro lado, a Renamo, principal partido da oposição em Moçambique, anunciou hoje que não vai abandonar as negociações de paz no país, apesar do assassínio de um dos membros da sua delegação na mesa do diálogo com o Governo.
"A Renamo vai continuar as negociações, ainda hoje, se houvesse uma agenda, a Renamo estava disposta a tomar parte nas negociações, a Renamo está disponível", afirmou o porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), António Muchanga, em conferência de imprensa de repúdio ao homicídio de Jeremias Pondeca, no sábado.
A delegação da Renamo às negociações de paz, prosseguiu Muchanga, aguarda uma convocatória e a indicação da agenda para o reatamento do processo negocial, interrompido há uma semana a pedido dos mediadores internacionais.
"O mais importante agora é continuarmos a caminhada, temos um número razoável (de membros nas negociações) para a caminhada continuar", acrescentou o porta-voz do principal partido da oposição.
Todas as hipóteses em aberto
O ministro do Interior moçambicano disse hoje que a polícia está a considerar todas as hipóteses no assassínio, no sábado, do membro da Renamo, principal partido da oposição, nas negociações de paz em Moçambique Jeremias Pondeca.
"Nós estamos a explorar todas as linhas para o esclarecimento do assassínio, todas as hipóteses estão abertas", disse Jaime Basílio Monteiro, falando durante uma conferência de imprensa em Maputo.
Apelando à serenidade, o ministro do Interior disse que a polícia moçambicana "ativou todas as valências de investigação do crime na sua máxima força" para o rápido esclarecimento do caso, alertando para a necessidade de se evitar especulações sobre as motivações da morte de um dos membros seniores do maior partido de oposição em Moçambique.
"De onde quer que seja a motivação, o nosso interesse é esclarecer", reiterou o governante, condenando este tipo de crime e exortando as populações a colaborarem com as autoridades para o seu rápido esclarecimento.
A morte de Jeremias Pondeca acontece num momento em que Moçambique atravessa uma crise política e militar, marcada por confrontos no centro do país entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança, além de denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.
As autoridades acusam a Renamo de uma série de emboscadas nas estradas e ataques em localidades do centro e norte de Moçambique, atingindo postos policiais e também assaltos a instalações civis, como centros de saúde ou alvos económicos, como comboios da empresa mineira brasileira Vale.
Alguns dos ataques foram assumidos pelo líder da oposição, Afonso Dhlakama, que os justificou com o argumento de dispersar as Forças de Defesa e Segurança, acusadas de bombardear a serra da Gorongosa, onde presumivelmente se encontra.
Os governos de Portugal, França e EUA e a União Europeia (UE) já condenaram a morte de Jeremias Pondeca, encorajando o Governo e a Renamo a perseguirem a via do diálogo para o fim da crise política e militar.