Rui Mutemba, morador de Maputo, descreve à TSF um clima de "insegurança" que levou à criação de grupos de vigilância em todos os bairros da capital moçambicana
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Maputo vive dias de "pânico" e "terror", semelhante a um cenário de "guerra". A descrição é de um morador da capital moçambicana. Ouvido pela TSF, Rui Mutemba dá conta de um clima de "insegurança" que levou à criação de grupos de vigilância em todos os bairros da cidade.
"A sensação é de pânico generalizado, de insegurança, as pessoas não dormem. Há grupos que foram criados praticamente em todos os bairros ao redor de Maputo e Matola, sobretudo, com a intenção de fazer vigilâncias durante as noites. Há pânico, medo, uma sensação de que o país está em guerra. O país está num modo de avaria e precisa de conserto", descreve à TSF Rui Mutemba, garantindo que o clima de medo que se vive atualmente em Maputo nunca foi sentido antes.
"Nunca vi uma situação igual, as pessoas mais velhas relatam que acompanharam uma situação um pouco similar a esta no dia 7 de setembro de 1974, mas nada que se compare ao que está a viver hoje aqui em Maputo", adianta. "É uma situação de total pânico, diria mesmo de terror", sublinha, referindo que a polícia "parece uma barata tonta, sem saber como agir perante esta situação".
Questionado sobre se será necessária ajuda internacional, Rui Mutemba sugere uma "eventual revolta militar": "Se calhar, uma intervenção militar da parte do nosso Exército, seria uma intervenção para tirar o poder a quem o detém deste momento."
Pelo menos 252 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, metade das quais apenas desde a proclamação dos resultados finais, na segunda-feira, de acordo com um novo balanço da Decide.
Desde 21 de outubro, o registo da plataforma eleitoral Decide contabiliza 569 pessoas baleadas em todo o país, além de 252 mortos e seis desaparecidos.
Somam-se ainda 4175 detidos desde o início da contestação pós-eleitoral, 137 dos quais desde segunda-feira.
Moçambique vive esta sexta-feira um novo dia de tensão social na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, após dias marcados por saques, vandalismo e barricadas, nomeadamente em Maputo.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 9 de outubro.
O anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Pelo menos 1534 reclusos evadiram-se na tarde de quarta-feira da Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, disse o comandante-geral da polícia, afirmando tratar-se de uma ação premeditada e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais, em que morreram 33 pessoas.