Filipe Nyusi pede "respeito" pelas instituições moçambicanas e o fim do incentivo ao "ódio e intolerância"
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O Presidente de Moçambique afirma que não permitirá interferências externas no processo pós-eleitoral no país, marcado por contestações aos resultados anunciados das eleições gerais de 9 de outubro e manifestações que degeneraram em violência.
"Deixamos claro que Moçambique não irá permitir que pessoas de fora controlem as nossas decisões", disse Filipe Nyusi, ao fazer o balanço, aos jornalistas, da cimeira extraordinária de chefes de Estado e do Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês), que decorreu na quarta-feira em Harare, capital do Zimbabué, país que detém a presidência rotativa daquela organização sub-regional.
"O futuro de Moçambique será moldado pelos próprios moçambicanos, por isso nós pedimos aos nossos amigos e parceiros de cooperação internacionais, aqueles que são genuinamente amigos (...), a serenar este ambiente", acrescentou o chefe de Estado, sobre a sua intervenção nesta cimeira.
"Respeitando as nossas instituições e não incentivar o ódio e a intolerância entre os moçambicanos", sublinhou, numa alusão ao facto de o Conselho Constitucional (CC) ainda não ter proclamado os resultados finais da votação, que incluiu eleições presidenciais, legislativas e provinciais.
Nas mesmas declarações, Filipe Nyusi reforçou o convite a uma reunião com os quatro candidatos presidenciais às eleições gerais de 9 de outubro, para pacificação pós-eleitoral, que estimou poder acontecer dentro de uma semana.
"Se não aparecerem [os candidatos] é porque não querem fazer parte da solução", afirmou o chefe de Estado.
O Presidente moçambicano convidou na terça-feira os quatro candidatos presidenciais para uma reunião, incluindo Venâncio Mondlane, e disse que as manifestações violentas pós-eleitorais instalam o "caos" e que "espalhar o medo pelas ruas" fragiliza o país.
"Prometo que, até ao último dia do meu mandato, irei usar toda a minha energia para pacificar Moçambique, irei usar. Mas para que eu tenha sucesso nesta missão, precisamos de todos nós e de cada um de vocês (...). Moçambicanos têm de estar juntos para resolvermos os problemas", disse Nyusi, numa mensagem à nação, de cerca de 45 minutos, sobre a "situação do país no período pós-eleitoral".
Apelando à "libertação do egoísmo" neste processo pós-eleitoral, o chefe de Estado, cujo último mandato termina em janeiro, garantiu que o Governo está "aberto" para, "juntos", encontrar "uma solução" para o atual momento, marcado por paralisações e manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 9 de outubro, anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que ainda têm de ser validados pelo CC.
"Precisamos inclusivamente dos diferentes candidatos a Presidente da República. Precisamos do envolvimento do Lutero Simango, do Daniel Chapo, do Venâncio Mondlane e do Ossufo Momade. Precisamos do envolvimento dos seus colaboradores e apoiantes. Quero aproveitar esta ocasião para convidar a todos eles, esses quatro que eu falei, os candidatos, para aceitar o meu apelo para reunirmos com os quatro, para, em conjunto, avaliarmos esta situação e encontrarmos uma solução que beneficie os moçambicanos", disse.
Nestes protestos, Venâncio Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela CNE.
Sobre estas manifestações, Nyusi afirmou que não obedeceram aos preceitos legais, como a "falta" de informação sobre as "rotas" por quem as pediu, admitindo que a forma de convocação estava concebida para "criar ódio e desejo de vingança" entre moçambicanos, justificando assim a intervenção policial.
