Eurodeputado do Chega sugere que a União Europeia concentre esforços num modelo próprio, com controlo de custos e "accountability" reforçada.
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O eurodeputado Tiago Moreira de Sá defende a criação de um "DOGE europeu", um programa de austeridade seletiva, "inspirado" no modelo norte-americano, que tem como objetivo cortar custos, reduzir o desperdício e garantir, nas suas palavras, que "o dinheiro dos contribuintes não serve agendas ideológicas".
Questionado sobre o posicionamento do eurodeputado, face ao impacto do desinvestimento dos EUA em programas de ajuda externa, como o corte de financiamento à USAID, Moreira de Sá desvaloriza os dados existentes, defendendo a criação de um programa europeu próprio inspirado no modelo norte-americano.
"Precisamos de um DOGE europeu, um programa de eficiência governamental que reduza o desperdício, controle custos e não sirva agendas políticas", afirmou o deputado. Moreira de Sá manifestou reservas quanto à fiabilidade dos dados, que apontam para um aumento do número de mortes em todo o mundo, alertando que "muitas vezes são os próprios afetados pelos cortes que divulgam os números".
Em vez de compensar os aplicados pelos EUA, Moreira de Sá propõe que a União Europeia concentre esforços num modelo próprio, com controlo de custos e "accountability" (prestação de contas) reforçada.
Guerra comercial
Sobre o impacto da tensão comerciais transatlânticas, o eurodeputado defende que haja uma certa contenção da parte da União Europeia, convicto de que "ainda é possível evitar uma guerra comercial". Tiago Moreira de Sá considera que ninguém na Europa tem interesse que a relação transatlântica se deteriore, sublinhando que "Portugal precisa do Atlântico" e que o país não pode abdicar da sua dimensão oceânica sem se tornar "periférico e sujeito a pressões continentais".
Do mesmo modo, entende que a defesa dos interesses nacionais, incluindo os de produtores de vinho, pescadores ou agricultores, deve ser feita de forma concreta, e não, afirmou o deputado, com generalizações ou gestos simbólicos. "Temos de agir com racionalidade e negociar", afirmou Tiago Moreia de Sá, sugerindo que a União Europeia não deve adotar "a retaliação por impulso". "Não é solução", afirmou.
Mercosul
O eurodeputado afirmou que "a diversificação de mercados é positiva e desejável, desde que não se torne uma alternativa automática à relação com os EUA". Neste sentido, Moreira de Sá manifestou ainda reservas quanto ao Acordo UE-Mercosul, considerando que, "como está, é um mau acordo" e que "prejudica interesses europeus e portugueses, em particular em áreas agrícolas". : "Portugal precisa do Atlântico. Sem ele, tornamo-nos periféricos na Europa e sujeitos a pressões continentais".
Trumo e Univerisades
Questionado durante a entrevista sobre o seu posicionamento face à postura da nova administração norte-americana em relação às universidades, Tiago Moreira de Sá, que é Professor universitário criticou o que chamou "politização" das universidades, acusando "uma certa esquerda" de ter capturado a academia e contribuído para a sua "degradação".
"A universidade deve ser um espaço de ciência e liberdade de pensamento, onde se leem desde os neomarxistas aos neoliberais. Mas hoje temos um ensino politizado, que perdeu pluralismo e rigor", lamentou, frisando que o mesmo aconteceu já em relação ao cinema, nomeadamente nos EUA, e "Hollywood hoje é uma piada de mau gosto".
Extrema-direita?
O eurodeputado falava à TSF, entrevistado em Bruxelas, no programa Fontes Europeias, mantém sempre uma abordagem analítica nas suas respostas, no entanto, não deixa de repudiar a forma como a nova corrente de direita é crítica a nível europeu: "Há quem tenha como estratégia repetir ‘extrema-direita’ sempre que nós falamos, como se fosse um bocejo contagioso", ironizou.
Na entrevista, o Professor de Ciência Política, eleito eurodeputado pelo Partido Chega, rejeitou o rótulo de extrema-direita para a família política europeia que integra no Parlamento Europeu, uma nova constelação política à direita, composta por correntes conservadoras, liberais, nacionalistas e populares. Moreira de Sá admite que "é difícil conciliá-las todas". No entanto, considera que há elementos comuns a toda, como "o cristianismo, soberanismo, conservadorismo nos valores e liberalismo económico”.