As autoridades australianas afirmam que "estão a tentar levar as restantes 46 baleias para águas profundas", mas que estas tarefas enfrentam uma série de perigos.
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Pelo menos 51 baleias-piloto morreram depois de encalharem na remota praia de Cheynes, no sudoeste da Austrália, enquanto conservacionistas tentavam resgatar 46 cetáceos, disseram esta quarta-feira as autoridades australianas.
Um total de 97 baleias-piloto encalharam na terça-feira em águas pouco profundas a cerca de 150 metros da praia de Cheynes, uma enseada protegida na região da Austrália Ocidental, rodeada por um parque e uma reserva natural.
"Infelizmente, 51 baleias morreram ontem [terça-feira] à noite", indicou o Serviço Regional de Parques e Vida Selvagem da Austrália Ocidental, numa mensagem divulgada nas redes sociais.
O Serviço de Parques referiu que equipas de salvamento, veterinários, especialistas em vida selvagem marinha e voluntários, destacados por terra e mar, "estão a tentar levar as restantes 46 baleias para águas profundas".
Mas estas tarefas enfrentam uma série de perigos, como "baleias grandes, angustiadas e potencialmente doentes, tubarões, ondas, maquinaria pesada e barcos", afirmou o organismo regional.
O biólogo marinho Élio Vicente esclarece, em declarações à TSF, que este é um fenómeno "recorrente" que pode acontecer por "um erro de navegação" do líder, que pode, por exemplo, estar com problemas no "ouvido interno, fundamental para estes animais" que se orientam, sobretudo, através da "acústica".
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"Quando temos uma situação de um animal mais velho, que está a liderar o grupo, e que se engana - virou à esquerda quando devia ter virado à direita -, ou que entra numa zona que é propícia a baixios, principalmente nas marés baixas, depois ficam presos durante a maré, ou um animal que está a dar à luz e, portanto, o grupo une-se para defender essa fêmea e eventualmente a cria de outros predadores ou porque vão à procura de alimento e vão a perseguir um cardume", exemplifica, acrescentando que estas situações "podem fazer com que os animais fiquem presos em zonas de baixa profundidade".
O comportamento em grupo das baleias-piloto acaba, no entanto, por "tornar muito difícil" as operações de socorro.
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"Quanto mais stressados ficam, mais tendência têm para se agruparem - porque essa é uma tentativa de defesa do grupo - e isso significa que, para entidades que estão a dar respostas de urgência, às vezes torna-se impossível identificar o líder, porque agarram-se em dois ou três animais e voltam-se a colocar dentro de água - porque eles à partida estão saudáveis -, mas os animais imediatamente tentam regressar para perto do seu grupo e voltam a arrojar novamente", explica.
Em setembro de 2022, 230 baleias-piloto encalharam numa ilha remota da região australiana da Tasmânia, que, tal como Cheynes Beach, se encontra nas rotas de migração de várias espécies de cetáceos e morreram.
Dois anos antes, cerca de 470 baleias-piloto tinham encalhado no mesmo local, das quais apenas uma centena conseguiu ser resgatada e levada para alto mar.
A Austrália, tal como a vizinha Nova Zelândia, é palco frequente destes incidentes, para os quais os especialistas ainda não conseguiram identificar as razões exatas.
No entanto, doenças dos cetáceos, erros de navegação, mudanças bruscas de maré, perseguição de predadores ou condições climatéricas extremas são apontados como causas para estes comportamentos.