Artista é um dos ícones da música popular brasileira.
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A cantora brasileira Gal Costa morreu, esta quarta-feira, aos 77 anos, avança o jornal Folha de São Paulo, citando o assessor da artista. As causas da morte ainda são desconhecidas.
A artista, ícone da música popular brasileira, fazia parte do cartaz do festival Primavera Sound, que aconteceu em São Paulo, no Brasil, no fim de semana passado. No entanto, o concerto foi cancelado poucas horas antes porque, segundo a sua equipa, ainda não estava totalmente recuperada da retirada de um nódulo da fossa nasal direita e teria de ficar fora dos palcos até ao final de novembro, por recomendação médica.
Na agenda, a cantora brasileira tinha também dois concertos em Portugal, marcados para novembro em Lisboa e Porto, que haviam sido adiados para o próximo ano devido à cirurgia que realizou.
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Mesmo antes dos palcos, a vida de Gal sempre foi música
Maria da Graça Costa Penna Burgos nasceu em Salvador, na Bahia. A mãe, com o mesmo nome, Mariah Costa Penna, contava que, com Gal ainda na barriga, passava horas a ouvir música clássica, como se de um ritual se tratasse, para que a filha viesse a ser, de alguma forma, uma pessoa musical. E parece ter resultado.
Aos 14 anos, a brasileira ouvia pela primeira vez na rádio João Gilberto a cantar Tom Jobin e Vinícius de Morais. O artista viria a ser uma das principais influências na sua carreira que, mesmo antes dos palcos, já tinha música. Ainda jovem trabalhou ao balcão da Roni Discos, a principal loja de discos de Salvador, na altura.
Em 1963 foi apresentada a Caetano Veloso por uma amiga, Dedé Gadelha, com quem construiu depois uma grande amizade e profunda admiração que durou o resto da vida. Além de Caetano, na adolescência tornou-se amiga de outros ícones da música brasileira como Maria Bethânia e Gilberto Gil, com quemm viria a fazer parte do grupo Doces Bárbaros.
A partir daí, Gal Costa entrou no mundo da música e foi sempre a subir, rumo ao estrelato. Com canções como "Modinha para Gabriela", genérico da novela da novela da Globo, "Água Viva", "Folhetim", de Chico Buarque, e "Paula e Bebeto", de Milton Nascimento e Caetano. No final dos anos 1970, a cantora brasileira começou a ser presença obrigatória nas grandes rádios com vários destes êxitos.
"Uma das maiories cantoras da história da música brasileira"
António Zambujo gravou um dueto com Gal Costa no álbum que assinalou os 75 anos da cantora e recebe com tristeza a notícia da morte da brasileira.
"Tenho tido a sorte de conhecer alguns dos meus grandes ídolos da música popular brasileira e no caso da Gal Costa até foi surpreendente porque não estava nada à espera que ela me fizesse aquele convite para participar neste disco. Agora ainda estou assim meio chocado com a notícia porque não fazia ideia. Perde-se uma das maiories cantoras da história da música brasileira e uma grande referência para mim. Foi um privilégio ter cantado com ela neste disco e ter participado ao lado de tantos cantores fantásticos que admiro também", confessou à TSF António Zambujo.
O artista português lamenta nunca ter tocado com Gal Costa.
"Já a tinha conhecido há mais tempo, numa das vezes que fui tocar ao Brasil. Depois estive com ela aqui em Lisboa, num concerto em que se apresentou a solo com um guitarrista, no Centro Cultural de Belém. Dessa vez estivemos juntos também, mas a gravação foi feita à distância e depois houve uma hipótese de fazer uma apresentação ao vivo, mas acabou por não se concretizar, infelizmente", recordou o artista.
E recorda as primeiras memórias da artista brasileira, quando ainda era miúdo.
"Ela vem naquele grupo dos baianos, aquele grupo incrível com ela, o Caetano, o Gilberto Gil e a Maria Bethânia. É aquela voz, aquela presença incrível. O público em geral provavelmente tem muito presente aquele dueto que ela fez com o Tim Maia. Lembro-me de quando era miúdo, quando havia aquele top de discos, que essa música esteve em primeiro lugar do top de vendas durante muito tempo aqui em Portugal e provavelmente foi nessa altura que ela ficou mais conhecida do público em geral, mas é uma grande referência e das principais cantoras da história da música do Brasil. Aliás, acima dela só colocaria a Elis Regina ou talvez ao mesmo nível. Era uma cantora incrível, admiro-a muito", afirmou.
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Já Pedro Abrunhosa, que chegou a tocar com Gal Costa em privado, ficou em choque com a notícia e defende que a maneira como ela cantava fazia da artista uma autora.
"A Gal, à imagem dos autores brasileiros da MPB, da grande explosão dos anos 60 e 70, teve em todos os autores portugueses uma influência que é transversal tal como Chico Buarque, e Vinicius. A Gal, o Caetano e a Bethânia também, nesta vertente, ao interpretarem de uma maneira tão própria e única tornam-se verdadeiramente autores. Nenhum de nós, escritor de canções em Portugal, pode dizer que passou ao lado da obra da Gal. Era uma colossal reinventora das canções, das suas e dos outros", acrescentou Pedro Abrunhosa.
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