"Morte de civis é tragédia, mas para o Hamas é estratégia." Israel diz que libertação de reféns "terminava" guerra em Gaza
Em declarações à TSF, o major Rafael Rozenszajn afirma que a guerra na Faixa de Faza tem dois objetivos: "Trazer de volta todos os reféns sequestrados pelo Hamas e que o Hamas não continue a ser uma ameaça para o território israelita"
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Rafael Rozenszajn, um dos porta-vozes do Exército israelita, responsabiliza o Hamas pelas milhares de mortes na Faixa de Gaza e afirma que a guerra no Médio Oriente terminaria "hoje" se os reféns fossem libertados.
Desde 7 de outubro, Israel tem lançado uma operação em grande escala no enclave palestiniano, que já matou mais de 45 mil habitantes, segundo as autoridades locais, deixando o território destruído, a quase totalidade da população deslocada e mergulhada numa grave crise humanitária.
O major Rafael Rozenszajn reconhece, em declarações à TSF, que o número de civis mortos neste conflito "é uma tragédia", mas garante que os israelitas têm de "atuar exatamente como estão a atuar".
Argumenta ainda que o movimento de resistência islâmico "utiliza hospitais como centro de comando e as escolas para lançar rockets".
"As pessoas que não dão valor nenhum à existência do Estado de Israel vão dizer o seguinte: 'Qualquer ataque israelita que possa causar a morte ou algum dano a um civil, esse ataque não é legítimo.' Mas qualquer pessoa que entende a necessidade e o valor da existência do Estado de Israel entende que o Exército israelita precisa de atuar exatamente como está a atuar", defende.
Aponta igualmente que o número elevado de mortos na Palestina, entre os quais a maioria são mulheres e crianças, é "uma estratégia" do Hamas.
"O Hamas utiliza as mortes de civis para os jornalistas me perguntarem não o porquê de o Hamas utilizar hospitais como centro de comando e sim o porquê dos civis estarem a morrer na Faixa de Gaza. Mas os civis estão a morrer na Faixa de Gaza porque o Hamas utiliza-os como escudos", justifica.
Duas relatoras especiais da ONU, no entanto, denunciaram na quinta-feira que os ataques de Israel ao direito à saúde dos palestinianos estão a atingir “novos níveis de impunidade”.
“Mais de um ano após o início do genocídio, o ataque flagrante de Israel ao direito à saúde em Gaza e no resto dos Territórios Palestinianos ocupados está a atingir novos níveis de impunidade”, afirmaram as especialistas em comunicado.
A relatora sobre a situação nos Territórios Palestinianos Ocupados desde 1967, Francesca Albanese, que tem repetidamente acusado Israel de “genocídio”, e a relatora sobre o direito à saúde física e mental, Tlaleng Mofokeng, apelaram para o “fim do flagrante desrespeito pelo direito à saúde na Faixa de Gaza, na sequência do ataque da semana passada ao hospital Kamal Adwan e da detenção e do encarceramento arbitrários do seu diretor, o doutor Hossam Abu Safiya”.
Já este fim de semana, as delegações israelita e do Hamas retomaram as conversações no Qatar, depois de terem fracassado novamente no mês passado, e o chefe da Mossad, David Barnea - chefe da equipa de negociação israelita - deverá deslocar-se a Doha esta segunda-feira para prosseguir o diálogo.
Sobre isto, o major Rafael Rozenszajn afirma que o Exército israelita não tem assento na mesa das negociações. No entanto, vários meios de comunicação internacionais, incluindo o The Times of Israel e o Middle East Eye, dão conta que "representantes da IDF [Forças da Defesa de Israel, na sigla em inglês]" participaram nas conversações em Doha.
O porta-voz assegura ainda que um cessar-fogo teria início mediante o cumprimento de uma condição: "Se o Hamas devolvesse os reféns e largasse as armas, essa guerra terminava hoje. É muito simples." No entanto, vários meios de comunicação internacionais, incluindo o The Times of Israel e o Middle East Eye, dão conta que "representantes da IDF [Forças da Defesa de Israel, na sigla em inglês]" participaram nas conversações em Doha.
Israel tem insistido que a lista dos reféns vivos e mortos é necessária para prosseguir as negociações, mas o Hamas argumenta que, sem tréguas, não pode recolher essas informações, uma vez que se encontram com vários grupos em toda a Faixa, com os quais não conseguem manter comunicação.
No domingo, um responsável do Hamas disse à agência de notícias AFP que o grupo islâmico “concordou em libertar 34 prisioneiros israelitas, de uma lista fornecida por Israel, na primeira fase de um acordo de troca de prisioneiros”. Esta informação foi, contudo, negada pelo gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O porta-voz das forças de defesa israelita assinala por isso os dois objetivos que têm justificado, para o organismo, a continuação da guerra em solo palestiniano.
"Essa guerra tem dois objetivos na Faixa de Gaza: trazer de volta todos os reféns sequestrados pelo Hamas e que o Hamas não continue a ser uma ameaça para o território israelita. Então, basta o Hamas devolver os reféns, render-se e largar as suas armas [para o conflito terminar]", insiste.
Em quase 15 meses de guerra, as partes só chegaram a um acordo de tréguas de uma semana, no final de novembro de 2023, no qual foram trocados 105 reféns por 240 prisioneiros palestinianos, além de cessarem os combates.
Dos 251 reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro, 96 permanecem no interior da Faixa - 34 deles confirmados como mortos -, enquanto 117 foram capturados com vida - apenas oito em operações militares - e 38 corpos foram resgatados pelas tropas no enclave.
Duas crianças, dez mulheres, onze idosos e outros onze homens com menos de 50 anos aparecem na lista de 34 reféns que poderão ser libertados na primeira fase de um acordo de cessar-fogo, revelaram alguns meios de comunicação, segundo a agência de notícias EFE.
Quase mil pessoas afetadas pelos ataques do Hamas a 7 de outubro de 2023 pediram a criação de uma comissão estatal para investigar os erros que permitiram aos militantes executarem aquela ofensiva contra Israel.
"Apenas uma comissão estadual de investigação terá as ferramentas e a legitimidade para investigar tudo e todos", vinca a carta. Os signatários argumentam que este é "o único caminho para a descoberta da verdade para fazer justiça às vítimas e às famílias, além de servir também para fortalecer a segurança nacional e prevenir novas catástrofes".
Benjamin Netanyahu, que até à data não aceitou qualquer responsabilidade pelos acontecimentos de 7 de outubro, recusou-se a considerar o lançamento de um processo de investigação pública enquanto a guerra na Faixa de Gaza estiver ativa.
Esta posição rendeu-lhe já críticas da oposição e até de alguns dos seus aliados, como o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant, que mesmo no do desempenho do cargo foi muito crítico acerca da decisão.
Além dos 108.856 feridos, milhares de pessoas continuam ainda desaparecidas sob os escombros na Palestina, sendo que também não podem ser resgatadas devido à falta de maquinaria pesada, entre outras razões.
Também a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) alertou para a morte de sete bebés palestinianos nos últimos dias na Faixa de Gaza devido ao frio e à falta de abrigo. A organização denunciou num relatório que cerca de 7700 recém-nascidos estão a viver em condições inadequadas devido à falta de cuidados necessários.
O texto refere ainda que, entre 1 e 29 de dezembro, Israel permitiu a entrada de 2205 camiões de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, cerca de 76 por dia, muito longe dos 500 que entravam antes da guerra. Ainda, mais de 700 agentes de segurança encarregues dos comboios de ajuda humanitária, dos quais a população palestiniana depende para sobreviver, morreram desde o início da guerra, segundo dados do Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.
Hussam Abu Safiya, diretor do hospital Kamal Adwan, no norte da Faixa de Gaza, tornou-se um dos rostos mais visíveis do duro cerco que o norte da Faixa sofre há mais de dois meses, e, nas últimas semanas, publicou vídeos quase diários sobre a situação em Kamal Adwan, que continuou a tratar doentes apesar dos constantes ataques israelitas. Entre sexta-feira e sábado, o médico foi detido numa operação israelita contra a unidade de Kamal Adwan, um dos poucos hospitais que ainda funcionavam nesta zona. Após a detenção, perdeu-se o rasto de Safiya, cuja última imagem divulgada nas redes sociais mostra como caminhava em direção a uma coluna de tanques no meio de uma rua de escombros e com enorme destruição à sua volta.
Apesar disto, a administração norte-americana de Joe Biden prevê uma venda de armas a Israel no valor de oito mil milhões de dólares (sete mil milhões de euros), segundo uma fonte próxima da Casa Branca citada pela agência francesa AFP. A venda, que ainda tem de ser aprovada pelo Congresso, inclui sobretudo munições de defesa antiaérea.
Durante um discurso no Congresso, em novembro, o eleito de esquerda Bernie Sanders apelou ao fim destas vendas de armas.
“Os Estados Unidos são cúmplices de todas estas atrocidades. Nós estamos a financiar essas atrocidades e essa cumplicidade deveria cessar”, defendeu.
O Presidente eleito, Donald Trump, que tomará posse este mês, prometeu um apoio inabalável a Israel e, ao contrário de todos os Presidentes recentes, nunca se comprometeu com um Estado palestiniano independente e soberano.