As capacidades de Moscovo em garantir o voto dos russos que estão no estrangeiro são "muito menores" do que no passado.
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O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros acusou esta quarta-feira países ocidentais de tentarem deliberadamente impedir os cidadãos russos nos seus países de votar nas eleições presidenciais de março.
"Os ocidentais estão, abertamente, a tentar, com todas as suas forças, retirar aos cidadãos russos a oportunidade de exercer o seu legítimo direito de eleger. Estão a violar os direitos dos russos", segundo a porta-voz do ministério, Maria Zajarova, em conferência de imprensa.
Segundo a mesma responsável, as capacidades de Moscovo em garantir o voto dos russos que estão no estrangeiro são "muito menores" do que no passado e o contexto não é o de "desastre natural ou da pandemia como em 2020".
"Estamos a falar de uma situação criada pelo homem", notou Maria Zajarova, criticando que se os "obstáculos criados deliberadamente, porque, literalmente, estão a tratar de retirar o direito a cidadãos russos de participar nas eleições" e indicando estarem certificados 270 centros de votação no estrangeiro.
Face às suspeitas de criar obstáculos, a Rússia enviou notas diplomáticas a vários países a solicitar que garantam o direito de voto, com a porta-voz a acrescentar que nem todos os países reponderam favoravelmente à mensagem, segundo a agência de notícias TASS.
"Infelizmente, nem todos os parceiros dos países europeus e americanos responderam às nossas solicitações", referiu a responsável, que precisou terem sido emitidos pedidos para "garantir a segurança" nos locais de voto no dia das eleições.
Neste contexto, as autoridades russas consideraram "ser evidente" que durante as votações existirá uma probabilidade elevada de "provocações" nas representações diplomáticas que sejam locais de voto.
O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros convocou os representantes diplomáticos da Estónia, Letónia e Lituânia face a dúvidas sobre as condições de segurança dos russos para votarem nestes países bálticos.
A estes representantes, as autoridades russas recordaram que segundo a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e à luz da prática internacional cabe aos "Estados anfitriões" tomar medidas para garantir a segurança.
"Criar dificuldades durante as eleições causaria sérios protestos entre os cidadãos russos que vivem nestes países, já que se está a violar direitos constitucionais", advertiu o ministério, que instou os três países a "cumprir as suas obrigações".
No final de janeiro, a Embaixada da Rússia divulgou estar a planear disponibilizar uma mesa de voto em Lisboa para as eleições presidenciais de março, disse à Lusa fonte diplomática, indicando que a segurança ao perímetro do local é da responsabilidade das autoridades portuguesas.
Às eleições do próximo mês concorrem o atual presidente e principal favorito à vitória, Vladimir Putin, assim como Leonid Slutski, do Partido Liberal Democrata da Rússia, Nikolai Jaritonov, do Partido Comunista da Rússia e Vladislav Davankov, do Novo Povo.
Entre potenciais candidatos estão Anatoli Batashev, independente, Sergei Malinkovich, do partido comunista e Boris Nadezhdin, pela Iniciativa Cidadã.
O Presidente russo, Vladimir Putin, está no poder desde 2000 e pretende garantir um quinto mandato presidencial, depois de também ter ocupado o cargo de primeiro-ministro entre 2008 e 2012.
Segundo as sondagens locais, Putin deverá vencer as eleições presidenciais de março com mais votos face a 2018, quando garantiu cerca de 76% dos sufrágios.
A oposição russa, cujo líder Alexei Navalny cumpre 30 anos de prisão num estabelecimento penitenciário no Ártico, acusa o Kremlin (Presidência russa) de preparar uma fraude eleitoral através do voto eletrónico, ao qual vão ter acesso um terço dos eleitores recenseados durante os três dias da votação, previstos entre 15 e 17 de março.