
Brendan Smialowski / AFP
Equipa médica garante que o presidente norte-americano está "muito bem", mas relatos oficiais da Casa Branca dizem que as próximas 48 horas vão ser "críticas" e que o caminho para a recuperação ainda não é "claro".
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Horas depois de o médico Sean Conley ter dito que Trump está "muito bem", o estado de saúde do presidente dos Estados Unidos nas últimas 24 horas foi este sábado descrito como "preocupante" por uma fonte oficial da Casa Branca, citada pela agência Associated Press, na sequência do internamento com Covid-19 no hospital Walter Reed.
"Alguns dos sinais vitais do presidente nas últimas 24 horas têm sido muito preocupantes, e as próximas 48 horas serão críticas em termos de cuidados. Ainda não tomámos um caminho claro para a recuperação", avançou à AP o chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows.
Este sábado, fonte próxima do presidente revelou que Trump recebeu oxigénio esta sexta-feira, ainda na Casa Branca, ainda antes de ser transportado para o hospital Walter Reed.
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Embora tenha notado que os sintomas -- tosse, febre, congestão nasal e fadiga - melhoraram desde a admissão naquela unidade hospitalar de Washington, a mesma fonte vincou que poderão passar ainda vários dias até o presidente ter nota de alta, apesar de Trump ter confessado à equipa médica que sentia que até já podia deixar o hospital.
A informação surge em oposição aos "progressos" hoje reportados aos jornalistas pela equipa médica no último boletim clínico sobre o presidente norte-americano. O médico Sean Conley frisou que "o presidente está muito bem, motivado e bem-disposto" e que não está sob auxílio de oxigénio para respirar.
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"Estamos extremamente satisfeitos com os progressos que o presidente fez. Há já mais de 24 horas que o presidente não tem febre e a sua última saturação registada era de 96%, não precisou de oxigénio", revelou o clínico, que evitou fazer prognósticos sobre a evolução do líder da Casa Branca: "Não quero pôr uma data [para ter alta], ele está muito bem, mas até ao décimo dia temos de ter muito cuidado. É difícil dizer em que ponto está na evolução".
Perguntas sem resposta
Conley nunca clarificou se Trump precisou, ou não, da administração de oxigénio suplementar e negou-se mesmo a discutir o dia em que a doença foi detetada: ainda assim, revelou que Trump começou a exibir "indicações clínicas" de Covid-19 na quinta-feira, mais cedo do que se pensava.
Entretanto, a Casa Branca veio revelar que Conley se enganou ao dizer que Trump estava doente "há 72 horas". Segundo o governo norte-americano, o médico queria dizer que Trump está no "Dia 3" de infeção.
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A pergunta mais importante sem resposta foi sobre quando o Presidente foi testado negativamente pela última vez. Este dado é fundamental para saber exatamente quando e como o Presidente foi infetado.
O que se sabe é quando o Presidente começou a apresentar sintomas de covid-19 e foi testado positivamente. Como tal há um período intermédio em que o Presidente esteve envolvido em atividades de contacto direto, que o médico não quis revelar.
A Casa Branca dispõe de instalações médicas para o Presidente e o internamento significa que a situação é mais grave do que a equipa médica de Donald Trump está a transmitir.
A primeira-dama, Melania Trump, que foi contagiada ao mesmo tempo que o marido, apresenta um quadro clínico controlado e não foi hospitalizada.
Uma situação que também confirma a gravidade do estado de saúde do Presidente. Questionado sobre o motivo da decisão de transferir Trump para o Hospital Walter Reed, Sean Conley, que é também médico da Marinha americana, respondeu: "Porque ele é o Presidente dos Estados Unidos".
De acordo com a estação de televisão CNN, o jornal New York Times e a estação pública de rádio NPR, a Casa Branca está a desenvolver uma campanha de relações públicas para suavizar a situação.
Ainda no mundo do Twitter, Trump já veio agradecer e elogiar o trabalho dos médicos e enfermeiros do hospital militar, classificando-os de "maravilhosos".
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Na manhã deste sábado, Trump escreveu no Twitter: "Estou bem, penso eu."
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A Casa Branca tinha já adiantado que Donald Trump está a ser tratado com anticorpos sintéticos, um tratamento experimental considerado promissor.
Na madrugada de sexta-feira, Donald Trump escreveu na sua página pessoal da rede social Twitter que, tal como a primeira-dama, Melania, tinha testado positivo à doença Covid-19 e que iria ficar em quarentena, num anúncio que deixou o país em alerta e que multiplicou reações em todo o mundo.
E agora?
Donald Trump, pela idade, peso excessivo, recente debilidade cardíaca e constante pressão de trabalho e de campanha eleitoral, está num grupo de risco elevado. Desde o início da pandemia, o Presidente minimizou as consequências do novo coronavírus e ridicularizou a importância do uso de máscaras.
Durante um comício de campanha em Ohio no mês passado, Trump disse à multidão que o coronavírus afeta "virtualmente ninguém".
Há uma semana, mais de 100 convidados reuniram-se no "Rose Garden" da Casa Branca para o anúncio da juíza Amy C. Barrett, proposta pelo Presidente para o Supremo Tribunal.
Sete dias depois, oito pessoas que participaram na cerimónia testaram positivo para a covid-19.
No recente debate eleitoral com Joe Biden, Trump ridicularizou o uso de máscaras. Embora fosse obrigatório usar máscaras para os assistentes no recinto, a família do Presidente recusou o seu uso.
Vários elementos da liderança republicana, funcionários de campanha e assessores da Casa Branca testaram também positivo o que coloca grandes limitações na campanha presidencial, quando falta apenas um mês para o dia da eleição.
O segundo debate eleitoral marcado para 15 de outubro em Miami, na Florida, não deverá realizar-se.
Com o Presidente hospitalizado, as atenções viram-se para Mike Pence.
O vice-Presidente tem feito testes regulares sempre negativos e mantém a sua agenda inalterada, substituindo mesmo o Presidente Trump em eventos digitais da campanha eleitoral.
O médico do Vice-Presidente, Jesse Schonau, divulgou um comunicado afirmando que Pence não precisa de quarentena e pode "continuar as suas atividades normais" porque "não é considerado um contacto próximo com qualquer indivíduo que tenha testado positivo para a covid-19, incluindo o Presidente Donald J. Trump".
Mike Pence assumirá a Presidência caso o estado de saúde de Donald Trump seja crítico, ou no caso duma fatalidade presidencial.
Pence participa no debate da vice-Presidência com a candidata democrata Kamala Harris, na próxima quarta-feira, 07 de outubro.