"Muito receio e medo." Estrangeiros no Líbano estão "assustados" com intensificação dos confrontos
O técnico português Paulo Meneses explica à TSF que no Estado libanês "a religião e a política misturam-se de uma forma" que "nunca" viu, pelo que são dois assuntos que procura evitar. "Eu não pergunto, nem quero saber", assegura.
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A população em Beirute, no Líbano, tenta desvalorizar o que se passa no sul do país, onde os confrontos entre o Hezbollah e Israel têm aumentado, mas os estrangeiros estão "assustados". Quem o diz é o treinador português do Al Nejmeh, Paulo Meneses, no país libanês desde dezembro, que considera que o sentimento da equipa reflete o da sociedade.
"Os locais, por exemplo, os meus dois assistentes que são daqui, um deles mais ao menos a uma hora da fronteira com Israel, onde o Hezbollah está radicado e está - segundo as informações - em combate com forças de Israel, ele próprio diz que isto sempre aconteceu, agora se calhar um pouco mais grave, mas isto sempre aconteceu", explica, em declarações à TSF, insistindo que "sempre houve problemas na fronteira com o Hezbollah e com as forças de Israel".
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"Eles tentam levar isto da melhor forma, parece-me, segundo aquilo que eles dizem, que é normal. Claro que para nós isto é tudo novidade e por isso estamos um pouco assustados. Nós tivemos treino hoje [segunda-feira] à tarde e, depois do treino, os jogadores estrangeiros que são dois portugueses, um ucraniano, um rapaz libanês, mas que viveu sempre na Austrália e um do Canadá reuniram-se comigo no meu gabinete e com a equipa técnica e transmitiram-me que estão com muito receio e medo", adianta ainda Paulo Meneses.
O técnico do Al Nejmeh afirma que já foi contactado pela embaixada portuguesa em Nicósia e revela as recomendações que estão a ser dadas aos portugueses que vivem no Líbano.
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"A informação que eles me transmitiram - até fizeram um grupo no WhatsApp com todos os portugueses que vivem aqui no Líbano para estarmos em contacto e para estarmos com todas as informações e atualizados - foi para nós colocármos onde vivemos, o contacto, a morada e para estarmos sempre atentos e com cautela, mas, neste momento, não há nenhuma informação para abandonarmos o país, tal como aconteceu com Israel. Isto são as informações que nós tivemos, informações oficiais da embaixada", esclarece.
Paulo Meneses sublinha ainda que, no Estado libanês, a política e a religião e por isso evita-os, assumindo mesmo: "Eu não pergunto, nem quero saber. Se não eles começam a misturar política e religião e desporto e eu estou aqui para trabalhar e dar o meu melhor como treinador."
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"Aqui, a religião e a política misturam-se de uma forma que eu nunca vi e, quando entra no desporto, está tudo acabado. Eu costumo dizer: eu não quero saber de religiões, nem de políticas, sou treinador, sou do desporto, sou da paz, porquê? Por exemplo, na nossa equipa há gente muçulmana, cristã - dentro dos muçulmanos há várias religiões - e eles dão muito valor a isso e às vezes parece que antes de eu chegar - por aquilo que eu entendo, eu vim em dezembro - e pelo feedback que eu obtinha da parte deles parecia que as decisões de jogador este jogador ou o outro parecia um pouco que tinha que ver com a religião, por isso, eu tenho-me afastado de tudo isso, como treinador, como agente desportivo", acrescenta.
O treinador aponta ainda que "as pessoas libanesas são muito emocionais, bastante" e, apesar de tudo, acredita que a população não está contra a presença do Hezbollah no país.
"Eles não estão contra o Hezbollah estar no país, um pouco também pelos ataques que Israel fez várias vezes no passado aqui ao país e eles sabem que o Hezbollah é uma força que acaba por proteger o país de Israel e claro que quem é atacado tem esse sentimento de revolta ou de ódio", conclui.