O diretor do Museu Nacional de Arqueologia considera que a decisão do Ministério da Cultura espanhol deve ser analisada e que a estratégia pode eventualmente ser seguida em Portugal
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As múmias e outros restos humanos começaram a ser retirados dos museus nacionais de Espanha. O Ministério da Cultura decidiu elaborar para as 16 instituições uma "carta de compromisso para o tratamento ético dos restos humanos", que, no fundo, segue o código do Conselho Internacional de Museus (ICOM) que foi revisto pela última vez em 2004. Este código considera que "as coleções de restos humanos estão entre os materiais delicados, que devem ser tratados com respeito e dignidade".
Num relatório deste Ministério espanhol foram identificados 14.845 restos humanos. A maioria (10.060) estão no Museu Arqueológico Nacional, seguindo-se o Museu de Antropologia (4.448).
O Museu Arqueológico em Madrid anunciou desde logo que começou os trabalhos para retirar de exposição a Múmia Guanche, a múmia de um homem da cultura Guanche, os primeiros povoadores da Ilha de Tenerife. Também o Museu da América, em Madrid, anunciou que serão retiradas da exposição ao público as múmias do Peru.
O exemplo de Espanha pode ser seguido por cá?
O diretor do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) considera que “é um contributo” válido e que “vai naturalmente ser ponderado” na reflexão que já estava a ser feita no quadro do futuro programa museológico desta instituição. O museu está encerrado para obras, financiadas pelo PRR, desde abril de 2022.
No entanto, António Carvalho considera que tem de existir um equilíbrio e perceber-se que objetos museológicos são necessários para a transmissão de conhecimento. “Quem visitava a exposição das antiguidades egípcias todos os anos era obrigatoriamente o público escolar”, revela. “Tem de se calibrar e o próprio documento espanhol fala da possibilidade da exposição de objetos que sejam imprescindíveis do ponto de vista pedagógico e científico para explicar algo”, refere.
Antes de encerrar, o Museu Nacional de Arqueologia tinha na sua mostra sobre o antigo Egipto várias múmias expostas, resultantes quer da viagem de Leite Vasconcelos ao Egipto, quer de outras doações.
Classificada como Tesouro Nacional, a sepultura da “criança do Lapedo”, por exemplo, descoberta em 1998, contem um esqueleto com cerca 25 mil anos e foi exibido apenas uma vez, em 2011, na Alemanha. Está guardada no Museu Nacional de Arqueologia para que este espólio seja preservado o melhor possível.