Myanmar: Conselho de Segurança da ONU "condena firmemente" violência dos militares
O texto da resolução muito crítico face aos generais que derrubaram o poder civil no início de fevereiro.
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O Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovou esta quarta-feira uma declaração por unanimidade sobre Myanmar que "condena firmemente a violência contra os manifestantes pacíficos, incluindo mulheres, jovens e crianças", indicaram fontes diplomáticas.
Esta declaração, a segunda em menos de um mês sobre a antiga Birmânia e que garantiu uma rara unanimidade no CS, incluindo a China, também critica de forma inédita dos militares e exige às partes que "procurem uma solução pacífica" à crise provocada pelo golpe de Estado de 01 de fevereiro, indica o texto divulgado pela agência noticiosa AFP.
Apesar de não retomar os termos "golpe de Estado" e não mencionar a possibilidade de sanções internacionais caso a repressão se prolongue, como previsto nas primeiras versões da declaração negociada desde sexta-feira, o texto é, no entanto, muito crítico face aos generais que derrubaram o poder civil no início de fevereiro.
O CS "declara-se profundamente preocupado pelas restrições impostas ao pessoal médico, à sociedade civil, aos membros dos sindicatos, aos jornalistas e aos profissionais dos 'media', e pede a imediata libertação de todas as pessoas arbitrariamente detidas", indica a declaração redigida pelo Reino Unido.
"O Conselho pede aos militares que demonstrem a maior contenção possível e sublinha que segue a situação de perto", precisa o texto, onde não está incluída uma acusação de violação dos direitos humanos que figurava nas versões precedentes.
A declaração também solicita à emissária da ONU para Myanmar, a suíça Christine Schraner Burgener, que "se desloque a Myanmar logo que possível".
Apesar das repetidas solicitações, a junta, com quem a responsável permanece em contacto, segundo a ONU, recusou-lhe até hoje a possibilidade de se deslocar ao país asiático.
Para ser aprovada, qualquer declaração do Conselho de Segurança necessita imperativamente de recolher a unanimidade dos seus 15 membros.
As negociações iniciadas na sexta-feira foram mais complexas em comparação com o primeiro texto adotado em 04 de fevereiro, aceite após apenas dois dias de discussões, e em que os membros de CS se limitaram a evocar a "profunda preocupação" do Conselho após o golpe de Estado.
De acordo com diversos diplomatas contactados pela AFP que se exprimiram sob anonimato, a China, o primeiro apoiante de Myanmar e que no passado bloqueou as iniciativas da ONU na crise dos Rohingyas, foi o país que apresentou mais dificuldades.
A missão diplomática chinesa na ONU escusou-se no imediato a tecer qualquer comentário.
No decurso dos últimos dias, Pequim, apoiado por Moscovo, interrompeu o processo de adoção da declaração ao solicitar designadamente mais tempo antes de se pronunciar, precisaram as fontes diplomáticas.
A Índia e o Vietname, dois membros não permanentes do CS, também bloquearam nos últimos dias uma aprovação imediata, ao proporem alterações ao texto apresentado por Londres, acrescentaram as mesmas fontes.