Na escola que já foi redação de Charlie Hebdo, "o primeiro momento triste" foi há dez anos
O quotidiano junto à antiga redação do jornal satírico é há dez anos marcado por um novo normal o dia do atentado é recordado como um momento triste. Ouça e leia a reportagem TSF em Paris
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França assinala esta terça-feira a passagem dos dez anos desde o atentado ao Charlie Hebdo, o jornal satírico, que a 7 de janeiro foi alvo de um ataque por dois militantes da Alqaeda. O dia trágico, em que morreram 12 pessoas, entre as quais nove desenhadores e um polícia dentro da própria redação do jornal, é recordado pela TSF, em Paris, junto ao local onde funcionava a redação do Charlie Hebdo. A antiga redação do jornal foi convertida numa escola de polícia municipal de Paris.
Ali ao lado funciona uma escola de design. O quotidiano é há dez anos marcado por um novo normal depois daquele dia que é recordado como um momento triste.
Em 2015, Leo era um jovem estudante. “Tinha 14 anos, e estava no colégio”, recorda-o agora estudante de design industrial, referindo que aquela manhã de sete de janeiro como "o primeiro momento triste na escola".
"Eu estava no 9.º ano, estava numa aula de francês, e a professora parou tudo para nos explicar. Ela partilhava pequenas reflexões connosco, mas não nos contou tudo”, recorda o jovem, lembrando que “até àquela altura, os temas sérios que falávamos eram as Guerras e os Armistícios, mas aquele era extremamente atual".
"Percebemos, depois, que era algo extremamente grave, no momento em que houve um minuto de silêncio e toda a gente começou a falar sobre isso”, recorda Leo.
É com um relato emocionado na passagem à porta da antiga redação do Charlie Hebdo que Claude, um antigo diretor de um hospital de Paris, conta que há dez anos estava nas imediações no momento do ataque.
“Há dez anos, estava por aí e lembro-me muito bem do trauma, do medo que tivemos e da reação que aconteceu – os manifestantes, os milhões de pessoas que participaram [na marcha de apoio]. Eu era Charlie, e ainda sou Charlie”, afirma.
O acontecimento tornou-se imediatamente notícia em todo o mundo. George recorda-se do ataque ao Charlie Hebdo nas notícias, na Irlanda. “Tinha 10 ou 11 anos e estava muito a par do que se passou. Eram notícias impressionantes a que assistíamos na Irlanda”, lembra George que hoje também é um estudante na escola de design, no mesmo bairro da antiga redação do Charlie Hebdo.
“Definitivamente, ainda há alguns vestígios do que aconteceu. Mas, no geral, toda a gente está confortável. Mas, por exemplo, verificam a minha mochila à entrada da escola, todas as manhãs. Mas está tudo calmo. Está OK! Está tudo bem agora”, afirma George, destacando que agora nota “que há uma maior presença da segurança”.
Aos 22 anos, Theo, outro estudante de design, acredita que a liberdade de expressão não foi afetada depois do ataque ao Charlie Hebdo, embora note alguma contenção que considera “compreensível”, que “não é necessariamente má”.
“Honestamente, não acho que por causa disso haja menos liberdade de expressão. Ou talvez sim, mas isso não é necessariamente mau, porque acho que algumas imagens eram muito ofensivas para certas pessoas de diferentes crenças. Acho que é mesmo difícil ver coisas assim. Sim, penso que para as pessoas islâmicas, para todas essas pessoas, deve ser”, afirmou.
Por outro lado, Claude, o antigo director de hospital, expressa o desejo de que a liberdade de expressão não tenha sido afetada nos últimos 10 anos. “Temos de continuar, temos de continuar a luta e respeitar. É uma das especificidades da República em França, ou seja, a laicidade. É, antes de mais, o direito de acreditar ou de não acreditar. E, a partir daí, temos de respeitar e temos o direito de nos expressarmos. Temos o direito ao blasfémia, é normal”, afirmou.
À porta da ainda reação vê-se uma vez por outra os alunos da escola de polícia municipal que agora funciona no piso onde há dez anos, os dois atacantes mataram 9 desenhadores do Charlie Hebdo e um polícia que fazia segurança pessoal a um dos caricaturistas ameaçado, depois de retratar Maomé de forma satírica.