"Não estão a magoar ninguém." Residente na Síria diz que "medo dos extremistas não pode ser ignorado"
"Será que nós, as minorias, estamos mesmo livres para seguirmos os nossos costumes, as nossas tradições? Estamos realmente livres, ou não? Será isto apenas um novo patamar da tirania para nós?", questiona, em declarações à TSF, Moammar Omran
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Dois dias depois da queda de Bashar al-Assad, um residente na cidade de Homs reconhece que esta é uma época confusa e de muito medo. Em apenas 14 dias, a dinastia de Assad chegou ao fim, permitindo a libertação de milhares de presos políticos e o regresso de muitos refugiados.
Moammar Omran diz à TSF que até agora os grupos que tomaram o poder têm tentado transmitir segurança, mas a incerteza é muito grande.
"Eles não estão a magoar ninguém. Os que estão no poder agora não estão a fazer mal às pessoas, não entraram nas casas, mas o medo dos extremistas não pode ser ignorado. Será que nós, as minorias, estamos mesmo livres para seguirmos os nossos costumes, as nossas tradições? Estamos realmente livres, ou não? Será isto apenas um novo patamar da tirania para nós? Estamos com muito medo. Eu e a grande maioria", explica o residente em Homs.
Moammar Omran lembra que o grupo que lidera os rebeldes foi afiliado da Al-Qaeda e do Estado Islâmico, mas também teme o que Israel possa fazer: "Estas são mesmas pessoas do Daesh, as mesmas da Al-Nusra. Elas estão agora a governar-nos e a todo o país. Isto mete-nos muito medo. Nós estamos felizes porque o Bashar al-Assad saiu. Sim, estamos felizes, mas temos muito medo da próxima etapa. E também há Israel que está a cerca de 25 quilómetros de Damasco e o nosso exército não tem armas. Nós não queremos uma guerra com Israel, mas eles vão conquistar Damasco."
No entanto, Israel desmente estar próximo da capital síria, explicando que avançou apenas na zona desmilitarizada entre os montes Golã e a Síria, mas várias fontes locais indicam um avanço para lá dessa zona.
Engenheiro de profissão, o sírio teme o surgimento dos extremistas. Omran trabalhava num campo petrolífero perto de Palmira quando o estado islâmico ocupou a cidade e há situações que ele ainda não conseguiu esquecer.
"Na cidade de Raqqa e em Der ez-Zor era proibido fumar e cortavam-te os dedos se isso acontecesse. Não se podia beber álcool, mas se eu bebo ou não, não estou a prejudicar ninguém, só a mim. Eu não posso imaginar a minha filha que tem só um ano e meio a colocar um hijab. Estou tão confuso e nervoso. Eu e muitos cidadãos de Homs e de outras cidades", conta.
Moammar Omran reconhece que a felicidade da queda de Bashar al-Assad é abafada com o medo sobre o futuro. Este habitante de Homs não esconde também o choque com a atitude do antigo ditador e gostava de lhe fazer algumas perguntas: "Por que é que fez isto a todas as pessoas em Homs e de outras cidades? Por que é que destruiu tudo, as casas, as pessoas? Destruiu-me a mim. Eu perdi 14 anos da minha vida, todos os jovens perderam esse tempo. Porquê? Por que é que não se foi logo embora e nos deixou? Nós estamos muito chocados e perdemos tudo."
Depois de mais de uma década que diz ter sido de grande sofrimento, o povo sírio confronta-se agora com quem é que realmente vai substituir Assad.