"Não falhou o sistema, falharam pessoas." Sánchez anuncia 2274 milhões de euros para Valência e responsabiliza Mazón
O líder do Executivo espanhol compareceu no Congresso dos Deputados para explicar a ação do Governo durante a catástrofe
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Pedro Sánchez anunciou um novo pacote de ajudas, no valor de 2274 milhões de euros, para a reconstrução das zonas afetadas pelas inundações na região de Valência a 29 de outubro, que provocaram a morte de, pelo menos, 222 pessoas. As medidas dividem-se, principalmente, em ajudas para a cidadania, para o parque automóvel e para o tecido produtivo e juntam-se aos 14.300 milhões de euros aprovados logo após a catástrofe.
Entre as medidas anunciadas, que serão aprovadas esta quinta-feira, em Conselho de Ministros extraordinário, estão as ajudas de até 10.000 euros por pessoa para a compra de um novo carro. Estima-se que cerca de 100.000 veículos tenham ficado inutilizados, numa região onde a maioria dos trabalhadores tem de se deslocar de carro para o seu trabalho.
Numa comparência no Congresso dos Deputados, o líder do Executivo espanhol defendeu a ação do Governo e dos organismos estatais e voltou a apontar o dedo ao presidente da Generalitat Valenciana, Carlos Mazón. Sánchez insistiu que, tanto a Agência Estatal de Meteorologia, “que emitiu o primeiro alerta, perto das 07h30”, como a Confederação Hidrográfica de Júcar, “que enviou mais de 200 e-mails, onde advertia sobre a possibilidade de desbordamento” dos rios, forneceram toda a informação e foi a Generalitat que não tomou as decisões necessárias.
“Não acredito que o estado autonómico falhou, nem que o sistema falhou. Acho que falharam algumas peças, sobretudo, algumas pessoas, pessoas em posições elevadas, que não estiveram à altura das suas responsabilidades”, acusou o primeiro-ministro espanhol.
Sánchez foi ainda mais longe e revelou que o governo regional recusou meios que o Executivo Nacional lhe ofereceu: "O Ministério da Defesa ordenou à Unidade Militar de Emergência que se começasse a preparar para uma possível intervenção na própria terça-feira, 29 de outubro, às 09h00. A conselheira de Justiça da Generalitat Valenciana recusou em três ocasiões a oferta da delegada do Governo na Comunidade Valenciana para mobilizar esta unidade."
Ataques da oposição
Do lado da oposição, o líder do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo, num tom muito duro, acusou o Governo de não intervir a tempo "por mero cálculo político" e chegou mesmo a afirmar que o Executivo "sabia o que iria acontecer e ficou à espera".
O líder do Governo lembrou que “a Câmara Provincial de Valência mandou os seus trabalhadores para casa às 12h00. A Universidade de Valência cancelou as aulas. O porto de Valência fechou”. E perguntou depois: "Como pode dizer que não avisámos quando todas estas organizações reagiram, citando os alertas da Aemet para o justificar?"
“Os dados foram enviados, os avisos foram emitidos, a informação chegou. Outra coisa é o que estas instituições fizeram com a informação. As agências governamentais cumpriram o seu dever. Agiram de acordo com os protocolos e fizeram bem o seu trabalho”, concluiu.
Sánchez anunciou também um relatório sobre o que sucedeu e abriu a porta a uma comissão de inquérito. “Os responsáveis terão de assumir a sua culpa. Por isso, o Conselho de Ministros apresentará um relatório exaustivo de tudo o que se passou e estamos abertos a uma comissão de investigação. O imenso custo humano exigirá que todos nós reflitamos profundamente sobre como gerir os desastres. Mas agora os nossos esforços devem concentrar-se na localização de cinco pessoas desaparecidas e na reconstrução de infraestruturas”, concluiu.
A finalizar, Pedro Sánchez pediu ainda que a tragédia sirva para retirar lições que ajudem a melhorar os procedimentos em futuras ocasiões: "Devíamos fazer-nos três perguntas. Como melhoramos o modelo de cogovernação, como construímos uma cultura de prevenção e como preparamos as nossas cidades para enfrentar as alterações climáticas."
