Paulo Nascimento Cabral, eurodeputado social-democrata, considera que agricultura deve poder aceder a verbas destinadas à prontidão de emergência e defesa
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O eurodeputado Paulo Nascimento Cabral (PSD) defende que a agricultura deve ser integrada no âmbito da política de segurança e defesa da União Europeia, considerando que “não há melhor segurança e defesa de um Estado-Membro, se não for garantida a produção de alimentos e a subsistência alimentar”.
“Temos muitas zonas rurais abandonadas”, afirmou o deputado, considerando que é preciso “garantir a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, ter os territórios ocupados e desenvolvidos”. Para Paulo Nascimento Cabral, “o facto de a agricultura pôr alimentos na mesa dos europeus” torna-a “uma questão de autonomia estratégica e de subsistência alimentar”.
Argumentando que a agricultura também deve poder aceder a verbas destinadas ao reforço das capacidades de defesa na União Europeia, Paulo Nascimento Cabral sustenta, entrevista ao programa Fontes Europeias da TSF, que a contribuição de cada Estado-membro para a política de defesa europeia não tem de ser uniforme.
“Nós não temos de apostar todos num Exército, não temos de apostar todos na produção de armamento ou de tanques. Temos de perceber que a indústria militar pode ser adaptada consoante a realidade de cada Estado-membro”, completou, considerando que neste contexto, Portugal tem “um desafio acrescido” que exige “não só apostar na defesa, mas também não esquecer o desenvolvimento integral do seu território”.
Questionado sobre o próximo Quadro Financeiro Plurianual e a futura Política Agrícola Comum (PAC), o eurodeputado considerou necessário que haja um reforço do financiamento destinado à produção de alimentos, deixando claro que os pagamentos por serviços ambientais prestados pelos agricultores devem vir de outras fontes.
“A Política Agrícola Comum deve focar-se naquilo que foi a sua origem, que é a produção sustentável de alimentos. Ponto. Todos os extras devem ser devidamente remunerados fora do pacote da PAC”, vincou.
Paulo Nascimento Cabral defendeu ainda que “faz todo o sentido” a criação de um pilar agrícola no programa Horizonte Europa, destinado ao financiamento de investigação e inovação, de forma a garantir “apoio à digitalização, às novas técnicas genómicas e à inteligência artificial, e termos aqui uma nova forma de rendimento também para os agricultores”.
Inteligência Artificial
A inteligência artificial aliada à agricultura é um dos temas abordado no entrevista. O eurodeputado argumenta a favor da utilização desta tecnologia na agricultura e na pecuária, antecipando “vantagens”, por exemplo, na monitorização de sinais vitais, alimentação e comportamento dos animais. Por outro lado, alerta também para eventuais os riscos na forma como é utilizada a Inteligência Artificial, como também os que estão ligados à “posse e utilização” dos dados gerados nas explorações. “Mal utilizadas, podem gerar rendimentos para alguns, penalizações para outros”, advertiu o deputado.
Sublinhando que “apenas 45% das pessoas nas zonas rurais têm algum tipo de literacia digital”, o eurodeputado defendeu a sua capacitação, “garantindo que há infraestruturas adequadas nas zonas rurais […] mas também programas de literacia digital de forma alargada para o setor agrícola”.
Tarifas
Sobre as relações comerciais com os Estados Unidos, Paulo Nascimento Cabral manifestou preocupação com “grandes desafios e grandes dificuldades” que resultam do posicionamento de Donald Trump na relação comercial com a União Europeia, considerando que a Bruxelas deve continuar a apostar na negociação, diversificação de mercados e aprofundamento do mercado interno, com a simplificação das camadas barreiras regulatórias.
“Se nós resolvêssemos as barreiras regulatórias que temos dentro do mercado único, estaríamos a limpar o equivalente às tarifas acima de 40% nos serviços e a mais de 110% nos produtos”, exemplificou, referindo-se a dados divulgados pelo Fundo Monetário Internacional.