“Não podemos esperar três anos.” Sebastião Bugalho afirma que segurança da UE exige “ação” antes do próximo quadro financeiro

O eurodeputado Sebastião Bugalho
Hugo Delgado/Lusa
Sebastião Bugalho defende “aceleração imediata do investimento europeu em defesa”, incluindo como “proteção do Estado Social em toda a UE”
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O eurodeputado Sebastião Bugalho considera que a União Europeia não pode esperar pelo próximo quadro financeiro plurianual para reforçar o investimento em defesa. O próximo orçamento de longo prazo entra em vigor em 2028 e “nós não temos esses três anos”, afirma, sustentando que adiar o aumento da despesa militar deixaria uma parte da União Europeia “em risco”.
“Durante esses três anos, os países que fazem fronteira com a Rússia estariam num risco brutal por não fazerem ainda parte de uma União Europeia com uma capacidade de dissuasão reforçada”, afirma Sebastião Bugalho, em entrevista ao programa da TSF Fontes Europeias.
De acordo com o eurodeputado, “há uma consciência crescente de que os modelos de investimento europeus têm de ser desenvolvidos antes do lançamento do próximo quadro financeiro plurianual”. E, assim, é essencial “acelerar” o financiamento dos programas já existentes, como o EDIP (Programa Europeu da Indústria de Defesa) e o SAFE (Plataforma para Tecnologias Estratégicas para a Europa), que “devem ser reforçados do ponto de vista financeiro”. “Não podemos ficar à espera que o senhor Putin decida invadir mais do que a Ucrânia”, enfatizou.
Bugalho salienta que o investimento em defesa “não deve ser visto como despesa”, mas como uma oportunidade, considerando que deve ser encarado como “um investimento na nossa economia e na nossa defesa”.
“O salário médio nas indústrias de defesa é cerca do dobro do salário médio do resto da Europa”, o que as torna “mais cativantes do ponto de vista económico”, vinca.
Compromisso
Em relação ao compromisso português no âmbito das metas orçamentais destinadas à defesa, Sebastião Bugalho lembra que “Portugal está comprometidíssimo não só a cumprir com os 2% até ao final do ano, como em trabalhar para cumprir com as metas acordadas e negociadas na Cimeira da NATO”.
O eurodeputado acrescenta que a sua expectativa é que “dentro dos 5% que se projeta que vai ser a meta, que 1,5% sejam infraestruturas de resiliência, nomeadamente cabos submarinos, telecomunicações, soberania digital, que é o que Portugal precisa, até pela sua localização geoestratégica”.
NATO
Questionado sobre a unidade interna da NATO, nomeadamente tendo em conta a hostilidade manifestada por Donald Trump, em relação à Aliança, Bugalho afirma que “a satisfação é o facto de Donald Trump ir à Cimeira”, o que, para os aliados europeus, “não era um dado garantido”. (...) “Mostra bem o grau de transformação das relações transatlânticas nos últimos seis meses”, refere.
Relativamente à Ucrânia, Sebastião Bugalho manifesta a esperança de que da cimeira da NATO resulte “mais um momento de possível interlocução entre Kiev e a administração Trump”, sublinhando que “só poderemos considerar a cimeira na Haia um sucesso se ela reforçar, não só em palavras, mas em meios, o apoio à Ucrânia e a uma paz segura, justa e duradoura”.
Médio Oriente
Questionado sobre a possibilidade de a situação no Médio Oriente poder vir a contaminar o debate na cimeira da NATO, em Haia, Sebastião Bugalho prefere não se alongar no tema, respondendo que encara “a operação militar de Israel contra o Irão como uma consequência do aumento do ambiente de desconfiança, não entre potências rivais, mas entre potências aliadas”. O eurodeputado considera que “não é desprezível estabelecer uma relação entre o retomar das conversações entre Washington e Teerão e a operação militar de Israel, que teve como consequência o fim dessas negociações”.
Estrasburgo
A propósito do debate parlamentar sobre a preparação da cimeira de Haia, ocorrido na quarta-feira, em Estrasburgo, Sebastião Bugalho rejeita as críticas ao investimento em defesa, algo que os deputados da esquerda classificaram como um “investimento no militarismo”.
“A militarização ocorreria se nós não fôssemos capazes de nos defender e sofrêssemos, como receiam os estados do Báltico, uma invasão militar depois da invasão à Ucrânia”, afirma, considerando que “essa é a militarização que nós temos de combater: é a militarização russa no nosso território”.
Estado Social
O eurodeputado cita o exemplo dos países do Báltico, onde “há cidadãos obrigados por lei a ter a sua casa pronta para estar em isolamento durante 48 horas por risco de invasão”, médicos a serem formados com “coletes à prova de bala” e “unidades hospitalares a serem construídas no subsolo por risco de bombardeamento”.
É com base nestes exemplos que Sebastião Bugalho salienta que “para defender o Estado Social em toda a Europa, temos de defender a Defesa para toda a Europa também”.