"Não quero proibir-me de ser livre." Numa redação sem janelas, cartoonistas do Charlie Hebdo vivem sob ameaça constante
Dez anos depois do atentado, a nova sede do Charlie Hebdo é mantida em segredo, com acesso restrito e segurança extrema. A proteção envolve 70 a 80 polícias permanentemente no local e medidas rigorosas, como veículos blindados e protocolos de segurança
Corpo do artigo
Dez anos depois do atentado do dia 7 de janeiro de 2015, a redação do Charlie Hebdo ainda vive sob a constante ameaça de islamistas radicais. A localização da nova sede permanece em segredo, conhecida apenas por um número restrito de pessoas, como medida de segurança face ao risco de novos ataques.
Um dos jovens cartoonistas do jornal, que entrou para a redação apenas três meses após o atentado, pede para ser chamado João para preservar a sua identidade. "Ao chegar, lembro-me que havia várias portas blindadas para abrir e que o Riss disse-me com ironia: 'Bem-vindo à instituição.' Já dava para sentir o tom. Trabalhamos numa sala onde não há janelas", descreve.
Na redação do Charlie Hebdo, não há janelas voltadas para o exterior. Os escritórios incluem uma sala blindada onde os jornalistas podem refugiar-se em caso de ataque. Uma palavra-chave é partilhada por todos para ser usada como alerta em caso de perigo. Para aceder à redação, é necessário passar por portas blindadas, elevadores, escadas e zonas de elevado nível de segurança.
João veio trabalhar para o Charlie Hebdo para ajudar a reconstruir o jornal e garante não ter medo: "Os meus familiares estão preocupados. Não falamos muito sobre isso, mas sei que pode ser complicado para eles, mas sabem que é importante para mim. Não me questiono tanto quanto eles, senão teria de parar. Não quero proibir-me de ser livre", defende.
Para que a redação possa funcionar, foi implementado um dispositivo de segurança excecional, sob a liderança de Frederic Aureal. Foi ele quem organizou toda a proteção em torno da equipa do Charlie Hebdo.
"Sistematizámos uma série de processos reservados às pessoas mais ameaçadas. O que quer dizer que temos um número significativo de agentes de segurança presentes no local, pesquisamos itinerários, antecipamos todas as deslocações e utilizamos de maneira sistemática veículos blindados", descreve Frederic Aureal.
Entre 70 a 80 agentes de segurança protegem permanentemente as instalações do Charlie Hebdo e os jornalistas.
Dez anos depois de um atentado que chocou o país e o mundo, o Charlie Hebdo continua a ser um símbolo de resistência à intolerância, onde a liberdade de expressão é defendida a qualquer custo, mesmo sob ameaça constante.
