Sem Trump na Casa Branca, a Aliança Atlântica ganha energia para enfrentar novos desafios, desde logo a China e a Rússia. João Gomes Cravinho, ministro da Defesa, falou à TSF sobre o aniversário da NATO.
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João Gomes Cravinho lembra-se bem da cimeira da NATO em Londres, em dezembro de 2019. Não havia pandemia, mas havia Trump na Casa Branca. O ministro da Defesa português recorda que o Presidente dos EUA disse, na altura, que o mais importante artigo do Tratado da Aliança é o "artigo terceiro, que fala na repartição de custos".
Para o ministro da Defesa Nacional, este aniversário da Aliança Atlântica não é apenas mais um, desde logo porque significa muito a mudança que entretanto aconteceu na Casa Branca, em Washington: "Cada aniversário é diferente e este é um que nos dá muito mais expectativa sobre o futuro da NATO do que o aniversário de há um ou dois anos". Cravinho reconhece que "mudou não só a figura do Presidente, como a atitude da Administração. A primeira coisa que o Presidente Biden, o secretário da Defesa e o secretário de Estado quiseram dizer foi que respeitam e consideram sacrossanto o artigo quinto do Tratado, que estipula que um ataque contra um membro é um ataque contra todos, que é a base fundamental do Tratado".
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Os desafios da NATO vão ser plasmados em novo documento estratégico provavelmente no próximo ano, adianta o ministro da Defesa à TSF, reconhecendo o papel decisivo dos Estados Unidos: "Não é concebível uma NATO sem EUA e a perspetiva que trazem é fundamental para o futuro da Aliança. Nessa perspetiva, temos uma Administração comprometida, que acredita que a NATO é essencial para a promoção e manutenção da paz e estabilidade internacionais, bem como para o próprio interesse geopolítico dos EUA".
A Aliança está atualmente "a braços com um processo em que, partindo desse entendimento partilhado entre os trinta aliados de que a NATO tem futuro, estamos agora a identificar os caminhos desse futuro no processo chamado NATO 20-30, que, ao que tudo indica, dará origem a um novo conceito estratégico em 2022". João Gomes Cravinho afirma que "a NATO está a reinventar-se para se adequar melhor à realidade da competição geopolítica desta década, que é diferentes de períodos anteriores".
A competição estratégica com a China também passa pela Defesa, mas João Gomes Cravinho não vê nisso uma nova guerra fria como existiu entre a Aliança e a Rússia: "Não podemos imaginar que a China é a nova União Soviética. Aquilo que a China representa em termos de desafio é diverso e é muito mais complexo do que a simples rivalidade do tempo da Guerra Fria com a União Soviética. A NATO terá certamente um papel no relacionamento dos países ocidentais com a China, mas esse relacionamento tem muitas outras dimensões além da NATO. Quando olhamos para a necessidade de combate às alterações climáticas, ou outros desafios globais, como o combate às pandemias, nós precisamos de ter uma abordagem cooperativa com a China e não perder a noção de que a China pode ser um parceiro em alguns aspetos. Mas é um rival em outros aspetos; ou seja, temos de ter uma noção que não se esgota no relacionamento militar, securitário, que a NATO pode trazer para a equação".
Os Aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte acordaram numa reunião do seu Conselho em dezembro, um orçamento civil de 258,9 milhões de euros e um orçamento militar de 1,61 mil milhões de euros para este ano. Todos os membros contribuem para esses orçamentos, de acordo com uma fórmula de partilha de custos acordada com base no PIB. Esse orçamento civil fornece fundos para pessoal, custos operacionais e despesas com programas na sede da NATO, em Bruxelas - e aumentou 0,9% em relação ao nível de 2020. O orçamento militar cobre os custos operacionais dos quartéis-generais e programas da Estrutura de Comando da Aliança, missões e operações em todo o mundo, tendo aumentado 5% em relação ao nível de 2020. Em 2021, 254,9 milhões de euros do orçamento militar vão para o financiamento de missões e operações, incluindo a Missão de Apoio Resoluto no Afeganistão, a missão de treino que a Aliança leva a cabo no Iraque e a operação de apoio à paz da KFOR no Kosovo.