Naufrágio na Grécia. Investigação acusa autoridades de adulterar provas para esconder responsabilidade
Mais de 500 pessoas morreram quando um barco sobrelotado naufragou no mediterrâneo. Várias testemunhas dizem que parte do seu testemunho foi omitido pela guarda costeira.
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As autoridades gregas terão tentado esconder o papel que tiveram no naufrágio que provocou a morte a mais de 500 pessoas no Mediterrâneo este mês, adulterando provas para omitir o facto de ter tentado rebocar a embarcação pouco antes do naufrágio.
A Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira, também conhecida como Frontex, já tinha alertado para o risco de naufrágio e ofereceu assistência a Atenas, mas não obteve qualquer resposta das autoridades gregas.
Em vez de dar início a uma operação de resgate, a guarda costeira identificou o navio sobrelotado e acompanhou-o a partir de um helicóptero. Foram enviados navios comerciais para a zona e mais tarde substituídos por um barco da guarda costeira. Pouco depois, o navio que transportava migrantes virou e naufragou.
O Governo grego rejeita qualquer responsabilidade no acidente e as autoridades asseguram que o navio não foi rebocado, mas a investigação do consórcio europeu de jornalistas Lighthouse Reports acredita que a guarda costeira omitiu depoimentos recolhidos horas depois do naufrágio.
Nove sobreviventes foram ouvidos por um tradutor que pertence à própria guarda costeira e segundo os testemunhos recolhidas nenhum terá culpado as autoridades pelo acidente, mas quando foram questionadas em tribunal, seis pessoas desse mesmo grupo afirmaram que o barco afundou pouco tempo depois de a guarda costeira ter atado uma corda ao barco e o ter tentado puxá-lo.
Duas destas testemunhas asseguraram aos jornalistas da Lighthouse Reports que não alteraram o seu depoimento e que disseram em tribunal o mesmo que disseram ao tradutor da guarda costeira.
"Eles perguntaram o que aconteceu ao barco e como afundou. Eu disse que quando a guarda costeira grega chegou amarrou uma corda ao nosso barco rebocou-nos, o que causou o naufrágio", disse um sobrevivente. "Eles não escreveram isso no meu depoimento. Quando apresentaram o texto final, não consegui encontrar essa parte."
O mesmo aconteceu com outra testemunha ouvida pelo consórcio de jornalistas, que acrescenta que apesar de ter visto que a transcrição do seu testemunho estava incompleta assinou na mesma porque estava "aterrorizado".
Outros 16 de 17 migrantes ouvidos pelo consórcio de jornalistas asseguram que houve uma tentativa de rebocar o navio, e quatro deles afirmam que o objetivo era levá-lo para águas italianas. Outros reportam ainda que o barco da guarda costeira andou em círculos à volta do navio, o que provocou ondas e contribuiu para o acidente.
O navio com 750 pessoas, a maioria do Paquistão, Egito e Síria, naufragou na noite de 14 de junho, ao largo da costa da península do Peloponeso. Apenas 104 sobreviveram.