Com uma simples chamada telefónica, e fazendo-se passar por outra pessoa, Navalny terá conseguido obter informações sobre a operação que tinha como objetivo a sua própria morte.
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O líder da oposição russa, Alexei Navalny, disse, esta segunda-feira, ter levado um agente de segurança a admitir que o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia o tentou matar durante este verão, colocando-lhe veneno na roupa interior.
Num post online, o crítico do Kremlin diz ter telefonado a um homem, Konstantin Kudryavtsev, que diz ser um perito em armas químicas da agência de inteligência doméstica do FSB: "Telefonei ao meu assassino. Ele confessou tudo", escreveu Navalny no Twitter, argumento que já foi rejeitado esta segunda-feira pelo FSB.
Navalny disse ter disfarçado o seu número de telefone, apresentando-se como assessor do chefe do Conselho de Segurança Nikolai Patrushev, com o objetivo de pedir informações para um relatório oficial sobre a tentativa de envenenamento.
O líder da oposição publicou uma gravação áudio e uma transcrição da chamada telefónica e divulgou um vídeo em que conduz a conversa. Navalny alega que a análise da voz "demonstraria que é de facto" Kudryavtsev a falar.
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Na gravação áudio, a voz do outro lado da linha parece inicialmente hesitante e cautelosa, mas eventualmente conta a história e explica porque é que a Navalny conseguiu sobreviver ao ataque envenenado.
A FSB descreveu a chamada telefónica, esta segunda-feira, como uma "provocação destinada a desacreditar" a agência. Defende que a conversa telefónica "sobre as alegadas ações contra" Navalny não teria sido possível sem "o apoio dos serviços de inteligência estrangeiros", acrescentando que o vídeo que o crítico do Kremlin publicou sobre a chamada era "falso".
Navalny, de 44 anos, adoeceu durante um voo da Sibéria para Moscovo em agosto e foi hospitalizado na cidade russa de Omsk antes de ser transportado para Berlim por aviões médicos. Peritos de vários países concluíram que o crítico do Kremlin foi envenenado com o agente nervoso da era soviética Novichok - uma alegação que Moscovo tem negado repetidamente.
Uma reportagem conjunta liderada pelo website de investigação Bellingcat revelou, na semana passada, o que dizia serem os nomes e fotografias de peritos em armas químicas da FSB que tinham seguido Navalny durante anos.
Roupa interior envenenada
No post desta segunda-feira, o líder da oposição russa explica que, na semana passada telefonou aos agentes de segurança identificados no relatório e que quase todos rejeitaram as chamadas exceto o homem que diz ser Kudryavtsev.
Durante essa chamada, a pessoa que Navalny diz ser Kudryavtsev revelou que a sua unidade não esperava que o piloto fizesse uma aterragem de emergência em Omsk.
Nos comentários registados, o agente explicou que um atacante tinha colocado o veneno nas costuras interiores de um par de roupa interior de Navalny e detalhou como o própio e outro agente do FSB tinham voado para Omsk após o envenenamento e removido qualquer vestígio do ato.
No entanto, Kudryavtsev nunca explicou o seu papel exato na operação. Na segunda-feira, uma associada de Navalny, Lyubov Sobol, dirigiu-se a um edifício nos arredores de Moscovo, apontado como a morada de Kudryavtsev pelo relatório da Bellingcat.
De acordo com o vídeo que a própria partilhou no Twitter, a polícia cercou o carro em que seguia e mais tarde deteve-a.
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"Eles são idiotas"
"Já sigo o FSB há anos e nunca os tive como grandes profissionais. Mas a partida de Navalny é um choque até para mim", escreveu a jornalista russa Irina Borogan no Twitter. "Eles são idiotas e isso torna-os ainda mais perigosos", acrescentou.
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Na semana passada, o presidente russo Vladimir Putin rejeitou notícias de que o FSB tenha envenenado Navalny, embora tenha sugerido que o crítico do Kremlin é apoiado pelos serviços secretos norte-americanos e, que se for esse o caso, a Rússia deveria segui-lo. "Mas isto não significa de todo que seja necessário envenená-lo. Quem precisa dele?" disse o líder russo.