Com 90 metros de comprimento, 3 andares, bares, ginásio, restaurante, sala de culto e jogos, a embarcação só não tem motor.
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O controverso plano da Grã-Bretanha para impedir os migrantes ilegais de desembarcarem nas costas britânicas foi aprovado na terça-feira, o que suscitou críticas por parte das Nações Unidas. A legislação proibiu os pedidos de asilo aos migrantes que chegam ao país através do Canal da Mancha e de outras rotas "ilegais", transferindo-os para países terceiros, como o Ruanda.
A oposição ao projeto de lei foi finalmente esmagada numa sessão noturna, poucas horas antes da chegada a um porto da costa sul de Inglaterra de um navio que será utilizado para acolher imigrantes.
O navio Bibby Stockholm, atracado no porto de Portland, em Dorset, deverá acolher 500 requerentes de asilo a partir do final deste mês, enquanto os pedidos são analisados. Com 90 metros de comprimento, 3 andares, bares, ginásio, restaurante, sala de culto e jogos, a embarcação só não tem motor.
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Os migrantes não vão estar detidos e vão poder sair e entrar no navio livremente, explica uma nota do Ministério britânico do Interior. O Governo promete ainda organizar atividades como caminhadas, hortas comunitárias, hortas comunitárias, trabalho voluntário ou jogos de futebol.
À chegada ao cais de Portland, vários manifestantes protestavam contra o tratamento dos imigrantes, que consideraram como desumano.
Já o representante do partido conservador na cidade, questiona a segurança da embarcação, uma vez que esta originalmente tinha pouco mais de 200 quartos e foi desenhada para receber esse mesmo número de pessoas.
Há também quem questione a eficácia da medida, já que todos os dias mais de 500 pessoas atravessam ilegalmente o Canal da Mancha. Só este ano já foram mais de 13 mil.
O Governo está também a albergar refugiados em três bases militares desativadas, além de querer aumentar o número de barcos para acolher migrantes.
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados condenou a aprovação do projeto de lei do Governo sobre a migração ilegal, considerando-a uma "violação do direito internacional" que iria expor os refugiados a "graves riscos".
"Esta nova legislação corrói significativamente o quadro jurídico que tem protegido muitas pessoas", disse o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi. A medida abre também um "precedente preocupante para o desmantelamento das obrigações de asilo, que outros países, incluindo na Europa, podem estar tentados a seguir", acrescentou o chefe dos direitos humanos da ONU, Volker Turk.
O projeto de lei tornar-se-á agora lei após a formalidade do "consentimento real" do Rei Carlos III.
Mais de 45 mil migrantes chegaram às costas do sudeste de Inglaterra em pequenas embarcações em 2022 - um aumento anual de 60% numa rota perigosa que tem sido usada por mais pessoas todos os anos desde 2018.
A migração - legal e ilegal - tem sido uma questão política fundamental no Reino Unido e foi um dos principais campos de batalha do referendo do Brexit em 2016, que viu o país deixar a União Europeia.
O primeiro-ministro, Rishi Sunak, que prometeu "acabar com os barcos", insistiu que o plano do Ruanda teria um importante efeito dissuasor ao mostrar que ninguém que chegue ilegalmente ao Reino Unido será autorizado a ficar.
A ONU, no entanto, diz que a Convenção de 1951 sobre Refugiados "reconhece explicitamente que os refugiados podem ser obrigados a entrar irregularmente num país de asilo". O ministro do Interior do governo conservador na Câmara Alta, Simon Murray, afirmou que o grande número de chegadas tinha "sobrecarregado" o sistema de asilo do Reino Unido.
"Se as pessoas souberem que não há forma de permanecerem no Reino Unido, não arriscarão as suas vidas nem pagarão milhares de libras a criminosos para chegarem aqui ilegalmente", afirmou.
"Por conseguinte, é mais do que justo pararmos os barcos e quebrarmos o modelo de negócio dos grupos criminosos que exploram pessoas vulneráveis", acrescentou.
Alex Fraser, diretor da Cruz Vermelha britânica para o apoio aos refugiados, considera que este é um "dia negro", pois deixará muitas pessoas de lugares como o Sudão e a Síria em detenção, na miséria e num limbo permanente.
O plano para o Ruanda, anunciado pelo então primeiro-ministro Boris Johnson no ano passado, foi bloqueado à última hora pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que é independente da UE, e ainda está envolto em desafios legais. Sunak disse que respeitava o tribunal, mas que discordava "fundamentalmente" das conclusões dos juízes.
Até à data, não se realizaram quaisquer voos de deportação para o Ruanda. Grupos de defesa dos direitos humanos acusam o Ruanda - governado com mão de ferro pelo Presidente, Paul Kagame, desde o fim do genocídio de 1994, que matou cerca de 800 mil pessoas - de reprimir a liberdade de expressão e a oposição.