"Ninguém precisa disto." António Costa alerta para riscos de guerra comercial de Donald Trump
António Costa avisa o Presidente dos Estados Unidos de que é preciso "parar as guerras que já existem e não criar uma guerra comercial”
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O presidente do Conselho Europeu, António Costa reagiu, esta quarta-feira, à decisão dos Estados Unidos de impor tarifas sobre as importações de aço e alumínio provenientes da União Europeia, alertando que esta medida não beneficiará nenhuma das partes e poderá agravar ainda mais a economia global.
"O aumento das tarifas não impulsiona as exportações, não impulsiona o comércio, apenas cria novos impostos para os consumidores e dificuldades para as empresas. Por isso, devemos evitá-las", afirmou Costa, durante uma declaração em Berlim, à margem de um encontro com o chanceler alemão.
O presidente do Conselho Europeu sublinhou que a balança comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos é, no essencial, equilibrada e rejeitou a ideia de que Washington esteja a ser prejudicado.
"Quando analisamos os números, é verdade que temos um excedente nas nossas exportações de bens. Mas, por outro lado, temos um défice na importação de serviços dos Estados Unidos, pelo que o equilíbrio é mais neutro do que por vezes parece", detalhou o presidente do Conselho Europeu, frisando que Bruxelas está aberta ao diálogo e apelou à administração norte-americana para que opte pelo caminho da negociação.
"Se os Estados Unidos acreditam que há um problema real, então a melhor forma de o resolver é através do diálogo. (...) E estamos abertos a isso”, afirmou Costa, lembrando que “a melhor forma de resolver problemas é conversar, a abordar as questões e a encontrar soluções”.
O líder do Conselho Europeu alertou ainda para o risco de uma escalada comercial, num momento em que o mundo já enfrenta vários conflitos. "Penso que já temos guerras suficientes no mundo. Precisamos de parar as guerras que já existem e não criar uma guerra comercial", sublinhou.
Retaliação
Já na manhã desta quarta-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tinha anunciado que a União Europeia vai retaliar contra as tarifas alfandegárias de 25% impostas pelos Estados Unidos às importações de aço e alumínio.
As medidas europeias, que terão um impacto de 26 mil milhões de euros, entrarão em vigor a partir de 1 de abril. Até lá, Bruxelas permanecerá aberta ao diálogo com Washington, mas von der Leyen deixou claro que a resposta europeia será proporcional.
"A União Europeia deve agir para proteger os consumidores e as empresas. As medidas de retaliação que tomamos hoje são fortes, mas proporcionais. Enquanto os Estados Unidos aplicam tarifas no valor de 28 mil milhões de dólares, estamos a responder com medidas de retaliação no valor de 26 mil milhões de euros”, declarou a presidente da Comissão Europeia, em Estrasburgo, considerando que a medida “corresponde ao impacto económico das tarifas impostas pelos Estados Unidos”.
Von der Leyen detalhou que as medidas de retaliação serão aplicadas “em duas fases”, a começar “a 1 de abril e estando totalmente em vigor a partir de 13 de abril”.
"Entretanto, manter-nos-emos sempre abertos a negociações. Acreditamos firmemente que, num mundo marcado por incertezas geoeconómicas e políticas, não é do nosso interesse comum sobrecarregar as nossas economias com estas tarifas", acrescentou a líder do executivo comunitário.
Von der Leyen lamentou “profundamente” a decisão de Donald Trump, avisando que as tarifas comerciais apenas vão prejudicar as economias de ambos os lados do Atlântico.
"Lamentamos profundamente esta medida. As tarifas são impostos. São prejudiciais para as empresas e ainda piores para os consumidores. Perturbam as cadeias de abastecimento. Criam incerteza para a economia. Estão em risco postos de trabalho, os preços sobem. Ninguém precisa disto, nem na União Europeia, nem nos Estados Unidos”, afirmou ainda.