A guerra entre Israel e Hamas de A a Z. O essencial para compreender o conflito
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A - Autoridade Palestiniana
A liderança institucional palestiniana apresentou um memorando no domingo a pedir uma reunião de emergência da Liga Árabe a nível de ministros dos Negócios Estrangeiros, segundo a WAFA, a agência noticiosa palestiniana. O pedido de reunião surge à luz da "brutal e contínua agressão israelita contra o povo palestiniano, incluindo a escalada da invasão da mesquita de Al-Aqsa por milhares de colonos", disse à WAFA o embaixador da Liga Árabe Muhannad Al Aklouk. A Autoridade Palestiniana é dirigida por Mahmoud Abbas.
B - Benjamin Netanyahu
Acossado, no centro de uma polarização da sociedade em torno de uma reforma do sistema judicial cujo objetivo passava por garantir impunidade a quem desempenha a função de chefiar o governo, livrando-o assim de múltiplos processos judiciais, prometeu vingar o "dia negro" do país e dar uma resposta com "uma dimensão sem precedentes" e com "uma magnitude que o inimigo desconhece". Netanyahu já está a ser alvo de críticas duras na imprensa israelita. Tal Schneider um conhecido colunista do jornal Times of Israel, disse-o de forma bem dura. Afirmou que "durante anos, Netanyahu apoiou o Hamas". Agora, isso rebentou-nos na cara. Ou seja, A política do primeiro-ministro de tratar o grupo terrorista como um interlocutor, em detrimento de Mahmmoud Abbas e do Estado palestiniano, procurando assim enfraquecer quer o veterano político quer a própria instituição, resultou em feridas que Israel levará anos a sarar". As investigações futuras ao que aconteceu no sábado não o pouparão. De momento, beneficia da unidade que sempre acontece em torno de um líder quando um país proclama estar em guerra.
C - Cisjordânia
Uma greve geral para condenar as operações israelitas na Faixa de Gaza paralisou a vida na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental no domingo. "A greve geral inclui todas as províncias da Cisjordânia e representa uma mensagem palestiniana de raiva contra os crimes da ocupação", disse à agência Anadolu, Wasel Abu Youssef, que é membro do Comité Executivo da Organização de Libertação da Palestina. A operação militar israelita em Gaza "exige uma intervenção internacional para proteger o povo palestiniano", afirmou. Entretanto, o Ministério da Educação palestiniano encerrou todas as instituições de ensino. O Hamas apelou aos palestinianos da Cisjordânia ocupada para que enfrentem Israel e os seus "colonos terroristas", depois de o grupo armado ter lançado no sábado uma operação em território israelita.
D - Dome
Irone Dome - o escudo de defesa israelita. O que aconteceu para, desta vez, não ter funcionado? Falta de capacidade para suster um número de rocktes muito superior para o qual está programado, em muito pouco tempo? Já domingo Israel procurou demonstrar que o sistema voltou a estar em destaque com o aparecimento de um vídeo que mostra a técnica de interceção de centenas de rockets durante a ofensiva do Hamas. O vídeo, alegadamente filmado em Zikim, mostra o "Iron Dome" a intercetar os rockets no ar e a destruí-los, evitando vítimas. A "Cúpula de Ferro" é um sistema de defesa aérea de curto alcance terra-ar que interceta mísseis, foguetes e até veículos aéreos não tripulados (UAV) e destrói-os em pleno ar. O sistema foi implantado em todo o território de Israel para momentos como este que ocorreu sábado. Tem um alcance de 70 quilómetros. Quando o Hamas disparou 5000 foguetes a partir de Gaza, o radar de deteção e rastreio no interior da Cúpula de Ferro detetou os foguetes no ar e enviou a informação para o sistema de controlo de armamento, que efetuou um cálculo rápido para detetar a trajetória e o possível alvo da arma. Quando a ameaça é direcionada para uma área povoada, são disparados mísseis pelo lançador associado ao sistema. No meio do ataque do Hamas, o sistema de defesa "Iron Dome" enfrentou uma barragem esmagadora de 5000 foguetes em 20 minutos. Embora tenha destruído muitos deles, evitando centenas de vítimas, alguns conseguiram romper a cobertura e atingir o território israelita.
NEW VIDEO : Israel 's Iron Dome Destroying dozens of rockets fired by Hamas #Israel #Palestine #TelAviv #Gaza #IsraelPalestineWar #Hamas #طوفان_الأقصی #حماس #طوفان_القدس pic.twitter.com/S8CkpWcjKB
- Hareem Shah (@_Hareem_Shah) October 9, 2023
E - EUA
A superpotência amiga de Israel não tardou a reagir. O Presidente dos EUA, Joe Biden, telefonou ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e sublinhou que os EUA "estão ao lado de Israel e apoiam plenamente o direito de Israel a defender-se". Netanyahu agradeceu a Biden o seu apoio e disse-lhe que seria necessária uma "campanha prolongada e poderosa, na qual Israel sairia vencedor". Biden anunciou que nova ajuda militar está "a caminho" de Israel e que "haverá mais nos próximos dias", informou neste domingo a Casa Branca. Ao telefone com o primeiro-ministro Netanyahu, Biden prometeu "apoio total ao seu governo e ao povo israelita após um ataque horrível e sem precedentes dos terroristas do Hamas", acrescentou. Os EUA não precisam de ajudar Israel como fazem com a Ucrânia, não é isso que está em causa. Mas Washington vai reforçar a sua posição na região: enviou o porta-aviões USS Gerald R. Ford e os navios de guerra que o acompanham para o Mediterrâneo oriental, informou o Pentágono no domingo, acrescentando que estava a aumentar os esquadrões de aviões de combate na região. O porta-aviões tem cerca de 5000 marines e um convés de aviões de guerra, será acompanhado por cruzadores e contratorpedeiros. Uma declaração do Secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, confirmou que os EUA forneceriam munições e equipamento a Israel e reforçariam as forças americanas no Médio Oriente.
F - Forças de Defesa de Israel
Cinquenta anos após o Yom Kippur, novamente apanhadas com as calças na mão, no maior ataque em décadas, 50 anos e um dia depois do início da guerra do Yom Kippur, que deixou mais de 2600 israelitas mortos em três de outubro de 1973, no dia sagrado judaico do Yom Kippur, Dia da Expiação. Ocorreu também durante o Ramadão, o mês sagrado de jejum no Islão, e durou até 26 de outubro. A guerra, que acabou por arrastar os Estados Unidos e a União Soviética para uma confrontação indireta em defesa dos respectivos aliados, foi lançada com o objetivo diplomático de persuadir um estado de Israel castigado - embora ainda invicto - a negociar em termos mais favoráveis aos países árabes. Agora, um Yom Kippur mais surpreendente.
G - Gaza
A Faixa de Gaza é uma estreita faixa de terra localizada na costa oriental do Mar Mediterrâneo, que faz fronteira com o Egito (uma fronteira de 11km) no sudoeste e com Israel (uma fronteira de pouco mais de 50km) no leste e no norte. Uma "prisão a céu aberto", dizem os palestinianos e todos os que compreendem a insustentabilidade da ocupação israelita; no caso de Gaza e depois de 2005 transformada numa espécie de asfixia económica. No território de onde partiram os ataques do Hamas no sábado, vivem pouco mais de dois milhões de pessoas, o que significa uma média de cerca de 5500 pessoas por quilómetro quadrado. Em Israel, a densidade populacional média é de cerca de 400 pessoas por quilómetro quadrado. O território mais densamente povoado do mundo. A população palestiniana de Gaza inclui tanto os residentes originais como muitos refugiados que fugiram de Israel para Gaza após a fundação de Israel em 1948 e os subsequentes conflitos militares entre israelitas e palestinianos. A maioria dos residentes vive no norte da região, nomeadamente na cidade de Gaza. A população é muito jovem, com quase 40% da população menor de 15 anos. Isto é, nunca tiveram soldados israelitas de forma significativa no seu pedaço de terra. Está a ser alvo de bombardeamentos "non stop" esta segunda-feira.
H - Hamas
O movimento que lançou a operação Inundações Al-Aqsa. Israel acordou este sábado de manhã sob sobressalto. O grupo armado do Hamas deu início à operação com o lançamento de mais de cinco mil foguetes para Israel a partir de Gaza, apelando à sublevação de todos os árabes em território israelita. O ataque multifacetado apanhou Israel de surpresa e viu o Hamas utilizar mísseis, drones, barcos e até parapentes. Mas quem é este grupo? Hamas é a sigla de Movimento de Resistência Islâmica e em árabe significa "zelo". O Hamas está no poder na Faixa de Gaza desde 2007, após uma breve guerra contra as forças da Fatah, leais ao Presidente Mahmoud Abbas, chefe da Autoridade Palestiniana e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). O movimento Hamas foi fundado em Gaza em 1987 por um imã, o xeque Ahmed Yasin, e o seu adjunto Abdul Aziz al-Rantissi, pouco depois do início da primeira Intifada, uma revolta contra a ocupação dos territórios palestinianos por Israel. O movimento começou por ser uma ramificação da Irmandade Muçulmana no Egipto e criou um braço militar, precisamente as Brigadas Izz al-Din al-Qassam, (autoras operacionais do ataque deste sábado) para prosseguir uma luta armada contra Israel com o objetivo de libertar a Palestina histórica. No quotidiano, o Hamas assegurou o papel do Estado, fazendo a gestão dos equipamentos de assistência social, saúde e educação em Gaza. "Mais de 500 alvos" do Hamas foram atingidos na noite de domingo para segunda.
I - Israel
Será que o ataque do Hamas trouxe unidade a uma sociedade altamente polarizada e dividida? A um país permanentemente confrontado, interna e externamente, com uma necessidade de segurança que, amiúde, é retratada como psicose securitária? Um estado que é acusado de promover o apartheid dos palestinianos, como tem insistentemente nos últimos anos denunciado a Amnistia Internacional? Benny Gantz, líder do partido da oposição Unidade Nacional, promete apoio às forças de segurança e de emergência e afirma que Israel está "completamente unificado". "Quero dizer claramente, de uma forma que ressoe desde Gaza, passando por Beirute, até Teerão: Todo o povo de Israel está unido", afirma. "Todos os cidadãos de Israel apoiam as forças de segurança e o governo tem o apoio para cobrar um preço pesado, doloroso e eficaz para que um acontecimento como este não se repita". "Não há coligação nem oposição agora", acrescenta Gantz, "apenas um único punho que vai bater no inimigo". O que daqui sair talvez venha a ser decisivo para o futuro próximo de Israel.
J - Jihad Islâmica
O chefe da Jihad Islâmica, Ziad al-Nakhala, disse no domingo que a sua fação mantinha em cativeiro mais de 30 dos israelitas raptados na Faixa de Gaza desde sábado, depois de o Hamas ter lançado ataques contra Israel. "Todos os cativos serão mantidos até à libertação de todos os nossos prisioneiros". O grupo armado perdeu protagonismo para o Hamas mas não deixou de aproveitar o momento. Não deixa de ser uma organização islâmica importante na Faixa de Gaza. Continua a ser ouvida por Teerão.
K - Khan Younis
A Taberna de Jonas, no seu sentido literal, é, na verdade, por onde tudo passa (incluindo muitas armas) entre a Faixa de Gaza e o Egito, através dos seus cruciais onze quilómetros de fronteira. É, como toda a Faixa de Gaza, incluindo a cidade de Gaza, um território governado pelo Hamas. Segundo a CNN Brasil, Treze membros de uma mesma família, incluindo quatro crianças, foram mortos num ataque aéreo israelita em Khan Younis, no Sul da Faixa de Gaza, neste domingo, segundo o jornalista Hassan Eslayeh, familiar das vítimas. O ataque aéreo também matou mais quatro pessoas e feriu outras 25, segundo Eslayeh, tendo partilhado com a CNN os nomes das pessoas que foram mortas. Mohammad Abu Daqqa, um familiar, disse que cinco edifícios residenciais foram destruídos no ataque aéreo israelita. Cada prédio tinha três ou quatro andares de altura.
L - Líbano
Domingo, o segundo dia do conflito, começou com Israel a procurar intrusos do Hamas e a trocar tiros com o Hezbollah na fronteira com o Líbano, após uma noite de intensos bombardeamentos em Gaza. A Anadolu, agência de notícias turca, referiu domingo que a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL) apelou às partes em conflito para que usem de contenção, a fim de evitar uma nova escalada das tensões na fronteira entre o Líbano e Israel. A FINUL afirmou que está em contacto com as autoridades de ambos os lados, a todos os níveis, "para conter a situação e evitar uma escalada mais grave". O exército israelita confirmou no domingo o seu ataque de artilharia no Líbano em resposta a um incidente de disparo de rockets. Segundo um repórter da Anadolu, Israel bombardeou as colinas de Kafar Shuba e a cidade de al-Mari, no sul do Líbano, na sequência de um ataque de morteiro. O Hezbollah libanês reivindicou no domingo a responsabilidade pelo ataque a três postos israelitas na zona de Shebaa Farms. As autoridades libanesas não se pronunciaram sobre o incidente.
M - Mohammed Deif
O comandante militar do Hamas que deu a ordem para o ataque terrorista. Nascido em 1965, no campo de refugiados de Khan Yunis, na Faixa de Gaza, criado após a guerra israelo-árabe de 1948, é um militante palestiniano e comandante supremo das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, a ala militar do Hamas. Depois de se juntar ao Hamas em 1990, ficou conhecido como Mohammed Deif (significa hóspede em árabe), devido à sua vida nómada. Apesar de ser o homem "mais procurado" pelo exército israelita desde 1995 por ter orquestrado o assassínio de soldados e civis israelitas, sobreviveu a sete alegadas tentativas de assassínio nas últimas duas décadas. Na primeira tentativa de assassínio, terá perdido um olho e, na segunda, uma parte do braço. A mulher, o filho de sete meses e a filha de três anos foram mortos por um ataque aéreo israelita em 2014. A mais recente tentativa israelita de matar Deif foi durante a Operação Guardião dos Muros, em maio de 2021. O Departamento de Estado dos EUA acrescentou Deif à sua lista de Terroristas Globais Especialmente Designados em 2015. A 14 de dezembro do ano passado, Al Deif emitiu uma declaração durante a celebração do 35.º aniversário da fundação do Hamas: "Que todas as bandeiras se unam. Que todas as frentes se unam. Que todas as plataformas (de Resistência) se abram para um único objetivo, que é a Libertação da Palestina".
N - Nações Unidas
Com um Conselho de Segurança (CS) consideravelmente inoperacional fruto das divisões profundas entre os membros permanentes (Rússia e China de um lado, EUA, Reino Unido e França, do outro), principalmente após a invasão em larga escala do território ucraniano por parte das forças de Moscovo, a ONU falhou em conseguir uma decisão por unanimidade na reunião de emergência de domingo à noite, sob presidência do Brasil. Não houve comunicado, um manto de silêncio cobriu o que possa ter sido dito no interior da sala. Mas alguma coisa sempre foi escapando para a imprensa. Os Estados Unidos apelaram aos 15 membros do Conselho para que condenassem firmemente o Hamas. "Há um bom número de países que condenaram os ataques do Hamas. Obviamente que não são todos", disse Robert Wood, diplomata sénior dos EUA, aos jornalistas após a sessão, citado pela Al Jazeera, numa clara referência ao representante russo. A reunião do CS durou cerca de 90 minutos e "ouviu um briefing do enviado da ONU para a paz no Médio Oriente, Tor Wennesland". Segundo os diplomatas, os membros do Conselho, liderados pela Rússia, "esperavam que o foco fosse mais amplo do que a condenação do Hamas. "A minha mensagem foi no sentido de cessar imediatamente os combates e de se chegar a um cessar-fogo e a negociações significativas, o que foi dito durante décadas" pelo Conselho de Segurança, afirmou Vassily Nebenzia, embaixador da Rússia na ONU. "Isto é, em parte, o resultado de questões não resolvidas", afirmou. Os Emirados Árabes Unidos, que normalizaram as relações com Israel como parte de um acordo histórico de 2020, disseram esperar mais reuniões do CS da ONU sobre a crise. "Acho que todos entendem que hoje a situação é de grande preocupação", disse a embaixadora dos Emirados Árabes Unidos, Lana Zaki Nusseibeh. A ONU refere que 123 mil pessoas na região já tiveram que deixar as suas casas.
O - Ocupação
As palavras são de uma organização de defesa dos direitos humanos insuspeita e internacionalmente reconhecida, a Amnistia Internacional: "Durante meio século, a ocupação israelita da Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, e da Faixa de Gaza resultou em violações sistemáticas dos direitos humanos dos palestinianos que aí vivem. Desde o início da ocupação, em junho de 1967, as políticas de Israel de confiscação de terras, expropriação e colonatos, infligiram sofrimento aos palestinianos, privando-os dos seus direitos fundamentais". Um sistema que, também fruto dos ataques violentos desferidos a partir dos territórios ocupados e atentados dentro de Israel cometidos pelos grupos armados palestinianos, "continua a afetar se, quando e como a população pode ir para o trabalho ou para a escola, ao estrangeiro visitar os seus familiares, aceder às terras agrícolas, ou mesmo ter acesso à eletricidade ou a água potável". Uma "humilhação diária", "a vida como refém". Israel também adotou uma complexa rede de leis militares e altos funcionários do governo rotularam de "traidores" os israelitas que defendem os direitos dos palestinianos".
P - Portugal
Logo no sábado, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condenou o ataque do Hamas contra Israel, que adjectivou como "inaceitável e intolerante". Também o primeiro-ministro, António Costa, disse que os ataques do Hamas contra Israel eram algo "inaceitável" e merecedores de uma "forte condenação". O Ministério dos Negócios Estrangeiros acompanha a situação dos portugueses em Israel. Sábado estavam sinalizados cerca de 80 cidadãos nacionais, entre turistas e residentes, que contactaram o Gabinete de Emergência Consular (cuja capacidade de atendimento, diz o MNE, foi reforçada) para assinalarem a sua presença no território, ou "para solicitarem apoio na identificação de alternativas para a saída do país". Os serviços consulares do MNE identificaram "voos comerciais que possam ser utilizados para deixar o país". O país decidiu reforçar a segurança nacional e a cibersegurança, "as quais já se encontravam em níveis mais elevados devido à guerra na Ucrânia", assegurou o Gabinete Nacional de Segurança.
Q - Qassam
Izz ad-Din Abd al-Qadar ibn Mustafa ibn Yusuf ibn Muhammad al-Qassam foi um pregador muçulmano sírio e um líder nas lutas nacionalistas contra o domínio obrigatório britânico e francês no Levante e um oponente militante do sionismo na década de 1920 e década de 1930. Dá nome às brigadas que protagonizaram o ataque terrorista em larga escala deste fim de semana.
R - Riade
A Arábia Saudita apelou ao "fim imediato" da escalada "sem precedentes" entre a Palestina e Israel, na sequência da ofensiva surpresa do grupo islâmico Hamas contra Israel e dos bombardeamentos retaliatórios israelitas contra a Faixa de Gaza. "A Arábia Saudita está a acompanhar de perto a escalada sem precedentes entre as fações palestinianas e as forças de ocupação israelitas, que resultou num aumento da violência", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita, num comunicado. "O reino pede contenção de ambos os lados, apela à cessação imediata da escalada e à proteção dos civis". Não deixando de falar das "forças de ocupação de Israel", trata-se de um tom contemporizador e diplomático, algo impensável na relação entre os dois países há uns anos. O Secretário de Estado americano Antony Blinken falou com o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino da Arábia Saudita, o Príncipe Faisal bin Farhan sobre os acontecimentos mais recentes relacionados com os ataques contra Israel. Segundo o Departamento de Estado Blinken "encorajou a Arábia Saudita a manter o seu empenhamento e sublinhou a determinação inabalável dos Estados Unidos em pôr termo aos ataques terroristas do Hamas e em assegurar a libertação de todos os reféns".
S - Síria
O país tem mais com que se preocupar, mas a fronteira com Israel e o histórico diferendo sobre os Montas Golã não dão margem para sossego. As preocupações de Damasco, por estes dias, andam mais em torno do ataque de 6 de outubro, em que as autoridades sírias afirmam que pelo menos 80 pessoas foram mortas quando um drone atingiu uma cerimónia de graduação de oficiais do exército na cidade de Homs. O grupo militante libanês Hezbollah disparou dezenas de rockets e obuses contra três posições israelitas numa área disputada ao longo da fronteira do país com os Montes Golã ocupados por Israel na Síria. As Quintas de Chebaa foram capturadas por Israel à Síria durante a guerra do Médio Oriente de 1967, mas o Líbano considera-as, bem como as colinas vizinhas de Kfar Chouba, como territórios libaneses.
T - Teerão
O Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, falou por telefone com os líderes dos grupos militantes Hamas e Jihad Islâmica Palestiniana. A agência noticiosa estatal iraniana IRNA informou que Raisi discutiu a ofensiva do Hamas e as suas consequências com Ismail Haniyeh, chefe dos assuntos políticos do Hamas, e com o secretário-geral da Jihad Islâmica, Ziyad al-Nakhalah. Segundo a televisão estatal da república islàmica, Raisi afirmou também que o Irão apoia o direito dos palestinianos à autodefesa e que Israel está a pôr em perigo a segurança na região. Teerão manteve conversações com os líderes de ambas as organizações em junho (em retrospectiva, ora aí está um belo sítio para preparar uma organização militar complexa, longe - ou de acesso mais difícil - da espionagem israelita) , e o The Wall Street Journal noticiou em abril que o chefe da Força Quds, a força de elite dos Guardas da Revolução Islâmica, tinha começado a pressionar os seus aliados em todo o Médio Oriente para iniciar uma nova vaga de ataques contra alvos israelitas. No sábado, grandes multidões lançaram fogo de artifício e queimaram bandeiras israelitas à medida que a notícia do ataque do Hamas se espalhava pelo país.
U - UNRWA
A mais antiga agência da ONU, no terreno, estabelecida em 1948. A United Nations Relief and Works Agency está há três quartos de século a prestart assistência aos palestinianos. Desde sábado, dezenas de milhar de pessoas procuraram abrigo em 44 escolas geridas pela UNRWA. A oficial interina de Informação Pública em Gaza, Inas Hamdan, disse: "O número de pessoas deslocadas durante os ataques israelenses está a aumentar rapidamente". 123 mil a meio da manhã desta segunda-feira. A UNRWA du conta de que três das suas escolas sofreram danos "colaterais" devido aos ataques aéreos israelitas e que "as operações de nove poços de água ao redor da Faixa de Gaza foram interrompidas na manhã de sábado e apenas três foram retomadas no domingo". Hamdan acrescentou: "Os centros de distribuição de alimentos da agência, que abastecem mais de 540 mil residentes de Gaza, estão fechados desde sábado".
V - Vitória
Ambas as partes a desejam, ambas a vão reclamar. Mas numa guerra, ninguém ganha. O chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, afirmou no sábado que o grupo palestiniano está "à beira de uma grande vitória e de uma conquista clara na frente de Gaza", afirmou num discurso transmitido pela televisão Al-Aqsa, gerida pelo Hamas. Quanto a Israel, o Presidente Isaac Herzog apelou à unidade nacional no seu discurso à nação, afirmando: "Mantenhamos este espírito de heroísmo e esta união. É a nossa arma mais poderosa". O Presidente israelita afirmou: "Há aqui um facto indiscutível - o Estado de Israel vai ganhar também desta vez", garante. "Não temos outra escolha."
W - Wasserlauf. Yitzhak Wasserlauf
Em finais de abril, a YNet News noticiava que o ministro de extrema-direita do governo Netanyahu estrava a promover "projeto de lei para basear a política governamental em "valores sionistas". Wasserlauf afirmou que a legislação "permitir-nos-á dar prioridade aos soldados e reservistas das IDF" e "reforçar a colonização judaica no Negev e na Galileia"; os críticos argumentam que o projeto de lei abre a porta à discriminação contra cidadãos não judeus, indo ao encontro da acusação de "apartheid" feita ao estado de israelita pela Amnistia Internacional. Tem a pasta da Resiliência Nacional, algo de que os israelitas vão precisar bastante.
X - Xiitas
No sábado, milhares de iemenitas (Iémen) e bareinitas (Barhein) reuniram-se em Sanaa e Manama para apoiar as milícias palestinianas e o grupo islamita Hamas. Os rebeldes xiitas Houthi no Iémen, que controlam Sanaa e extensas regiões no norte e centro do Iémen desde 2014, declararam um "estado de prontidão militar popular e abrangente em preparação para qualquer desenvolvimento de campo que exija envolvimento direto ao lado do povo palestino e sua corajosa resistência". Entoaram palavras de ordem contra Israel e os Estados Unidos, enquanto carregavam cartazes com frases como "Com a nossa alma e o nosso sangue" e "Sacrificamo-nos por Al-Aqsa", uma mesquita situada na zona do Monte do Templo, em Jerusalém Oriental, a parte da cidade ocupada por Israel desde 1967.
Y - Yoav Gallant
Uma cabeça para rolar - a do ministro da defesa israelita - tamanha foi a falta de resposta nas primeiras horas do ataque do Hamas. Mas Gallant afirmou que esteve perto de "partir o pescoço" do Hamas há 15 anos e foi "impedido por políticos", segundo se por ler no jornal digital brasileiro Poder360. Há cerca de um mês condenou a escalada de violência dos colonos contra os palestinianos e atacou o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, de acordo com o site de notícias Akka. De acordo com o Canal 13 de Israel, Gallant criticou a violência na Cisjordânia ocupada, considerando isso "uma ameaça perigosa [que] deve ser tratada".
Z - Geração Z, os jovens palestinianos
Esta nova geração já provou que não desistirá da luta até que aquilo que consideram ser a opressão do povo palestiniano termine. Haythem Guesmi é um académico e escritor tunisino que há um par de anos escreveu no site da Al Jazeera: "a Geração Z está a fazer muito mais do que emitir declarações ocas de solidariedade. Estão a organizar campanhas e a pressionar as universidades e outras instituições públicas a agir. Não só estão a confrontar implacavelmente a retórica antissemita, como também estão a chamar à pedra aqueles que divulgam a propaganda israelita e tentam desumanizar os palestinianos. Apelam ativamente aos seus governos para que deixem de vender a Israel bombas que sabem que serão utilizadas para matar civis palestinianos. Não têm medo de chamar a Israel o que ele é: Um Estado de apartheid colonial de colonos. Esta mudança cultural em relação à Palestina surgiu na sequência dos movimentos altamente influentes BLM e MeToo, que destacaram a interseccionalidade das questões de justiça social, desde o racismo e a discriminação de género até à opressão colonial. Agora que a esmagadora maioria dos jovens vê a luta palestiniana como uma parte crucial dos seus esforços para alcançar a justiça, a igualdade e a liberdade para todos, é lógico supor que as vozes de apoio à Palestina se vão tornar mais altas e mais influentes nos próximos anos".
