Nunca desde a 2.ª Guerra Mundial houve tantos conflitos: são 56. Portugal é o 7.º país mais pacífico no mundo, 5.º na Europa
Índice Global da Paz destaca a deterioração global sucessiva, o impacto económico da guerra e aponta Portugal como o sétimo país mais pacífico do mundo
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Portugal aparece na sétima posição como país mais pacífico do mundo, com 1.372 num ranking em que a pontuação mais baixa (logo, melhor) é detida pela Islândia com 1.112. No podium estão ainda Irlanda e Áustria, sendo que à frente de Portugal (que desceu uma posição em relação ao ano passado) ainda estão Nova Zelândia, Singapura e Suíça. No fundo da tabela está o Iémen, antecedido por Sudão, Sudão do Sul, Afeganistão e Ucrânia.
A décima oitava edição do Global Peace Index revela que o mundo está numa encruzilhada. Sem “um esforço concertado”, corre-se o risco de um “recrudescimento dos grandes conflitos”, defendem os promotores do índice, o The Institute for Economics & Peace (IEP).
Para este grupo de reflexão (think tank) independente, não partidário e sem fins lucrativos, “dedicado a mudar o foco do mundo para a paz como uma medida positiva, alcançável e tangível de bem-estar e progresso humanos”, atualmente, “existem 56 conflitos, o maior número desde a Segunda Guerra Mundial. Estes conflitos tornaram-se mais internacionais, com 92 países envolvidos em conflitos fora das suas fronteiras”, o maior número desde a criação deste índice.
O IGP 2024 conclui que o mundo se tornou menos pacífico pela 12ª vez nos últimos 16 anos, com o nível médio de tranquilidade dos países a deteriorar-se 0,56% em relação ao ano anterior. No total, a paz melhorou em 65 países e deteriorou-se em 97.
O IEP não tem dúvidas de que “o número crescente de conflitos menores aumenta a probabilidade de mais conflitos importantes no futuro. Por exemplo, em 2019, a Etiópia, a Ucrânia e Gaza foram todos identificados como conflitos menores. O impacto económico global da violência em 2023 foi de 19,1 biliões de dólares ou de 2 380 dólares por pessoa”. Este valor representará, segundo os cálculos feitos pelo IEP, um aumento de “158 mil milhões de dólares, impulsionado em grande parte por um aumento de 20% nas perdas do PIB decorrentes de conflitos. As despesas com a construção e manutenção da paz totalizaram 49,6 mil milhões de dólares, representando menos de 0,6% do total das despesas militares".
Menos mortos por ano, mas a aumentar
O número médio de mortes por ano entre 1946 e 1999 foi de quase 210.000, em comparação com pouco menos de 69 mil por ano, desde o início do ano até ao final de 2022. No entanto, a tendência está novamente a aumentar e, “dadas as crescentes rivalidades entre grandes potências, existe um risco real de regresso ao nível de mortes registado na era da Guerra Fria”. Embora o número médio de mortes até à data no século XXI seja muito inferior “ao registado nos 50 anos anteriores, o número total de conflitos é agora mais elevado do que em qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial. Este facto implica que existe um maior potencial para a eclosão de grandes conflitos”.
As guerras Rússia-Ucrânia, Israel-Palestina e os conflitos subnacionais na Etiópia eram considerados conflitos menores em 2019. Em 2022, registaram-se 56 conflitos em que pelo menos um ator envolvido era um Estado, sendo que este número aumenta ainda mais quando se incluem os conflitos não-estatais e os casos de violência unilateral, com mais 84 e 49 conflitos, respetivamente.
El Salvador registou a maior melhoria em termos de tranquilidade no IPG 2024, com uma melhoria de 8,87% na sua pontuação. O país está agora classificado em 107.º lugar no IPG e tem a primeira melhoria da tranquilidade do país em quatro anos. Oito indicadores melhoraram, cinco deterioraram-se e dez não registaram alterações. Outros países que, de uma forma geral, conheceram melhorias, foram: Emirados Árabes Unidos, Myanmar, Nicarágua e Grécia. As maiores deteriorações no ranking aconteceram com Israel, a Palestina, Equador, Gabão e Haiti.
Conclusões principais do Índice Global da Paz em 2024
• 97 países deterioraram-se em termos de paz, mais do que em qualquer outro ano desde a criação do Índice Global da Paz em 2008.
• Os conflitos em Gaza e na Ucrânia foram os principais motores da queda global da paz, uma vez que as mortes em combate atingiram 162.000 em 2023.
• 92 países estão atualmente envolvidos em conflitos fora das suas fronteiras, mais do que em qualquer outro momento desde a criação do IGP.
• O primeiro sistema de pontuação militar sugere que “as capacidades militares dos EUA são até três vezes superiores às da China”.
• O impacto económico global da violência aumentou para 19,1 mil milhões de dólares em 2023, representando 13,5% do PIB mundial. A exposição a conflitos representa um risco significativo para a cadeia de abastecimento dos governos e das empresas.
• A militarização registou a maior deterioração anual desde o início do IGP, com 108 países a tornarem-se mais militarizados.
• 110 milhões de pessoas estão refugiadas ou deslocadas internamente devido a conflitos violentos, sendo que 16 países acolhem atualmente mais de meio milhão de refugiados.
• A América do Norte registou a maior deterioração regional, impulsionada pelo aumento dos crimes violentos e do medo da violência.
O IEP tem sede em Sydney, com escritórios em Nova Iorque, Bruxelas, Haia, Cidade do México e Nairobi. Este grupo de reflexão independente, liderado por Steve Killelea (entrevista na TSF em novembro de 2023), colabora com organizações intergovernamentais na medição e comunicação do valor económico da paz.