"Nunca tinha vivido algo assim." Portuguesa em Los Angeles descreve incêndios como cenário "apocalíptico"

A viver há onze anos em Los Angeles, a jornalista Ana Rita Guerra admite que nunca viu nada como os incêndios que estão a afetar a região desde terça-feira. "Já vi vários outros incêndios, tremores de terra, problemas relacionados com o facto de termos uma seca e depois haver chuvas torrenciais, aqui em Los Angeles, mas nunca tinha vivido algo assim", garante Ana Rita Guerra, que admite já ter a mala pronta para quando chegar o aviso de evacuação.

Na quarta-feira à noite, deflagraram dois novos incêndios, o que tornou a situação "ainda mais preocupante". "O problema é que, de facto, mesmo que se queira fugir, há seis incêndios ativos por todos os lados, a norte e a sul, portanto está toda a gente muito preocupada, vários portugueses estão às portas das zonas de evacuação, há quem tenha ido para casa de amigos um pouco mais longe", descreve Ana Rita Guerra.

A jornalista conta que tem conhecimento de pelo menos 300 portugueses a viver na região, até agora nenhum deles foi afetado diretamente pelo incêndio, "mas há pessoas a procurar ajuda na casa de outras pessoas ou tiveram de abandonar as casas". Ana Rita Guerra sublinha, no entanto, que todos relatam casos de familiares que perderam bens.

A situação é preocupante com as previsões a apontar que o vento e o tempo seco vão manter-se até sexta-feira. O problema é ainda agravado pela falta de água. "A Califórnia, especialmente o sul, tem um problema crónico de seca. E o fogo de Pacific Palisades e Malibu foi tão intenso e exigiu tantos recursos que estamos a ficar com falta de água. Já recebemos um aviso da cidade a dizer que o uso de água está a ser tão intensivo, que está a baixar a pressão nos canos e que é perigoso beber água da torneira, dizem-nos para ferver a água antes de consumir", relata a jornalista.

Ana Rita Guerra enfatiza que "estes são os fogos mais destrutivos" que já testemunhou. É "realmente apocalíptico", remata.

Pelo menos cinco pessoas morreram e mais de 100 mil foram obrigadas a fugir de casa em várias zonas de Los Angeles, onde seis incêndios de proporções gigantescas já destruíram cerca de 1500 habitações.

Nuvens negras de fumo tapam o sol em grandes extensões da cidade e caem cinzas mesmo em bairros que estão a vários quilómetros das zonas afetadas.

Há 160 mil casas sem eletricidade há mais de 24 horas e já foi declarado o estado de emergência pelo condado de Los Angeles e pelo governador da Califórnia, Gavin Newsom, que conseguiu luz verde do Presidente Joe Biden para obter ajuda federal no combate aos incêndios. 

Estes são os piores ventos desde 2011 e o fogo é já o mais destrutivo da história de Los Angeles.