Uma cela, oito prisioneiros e um carcereiro podre de bêbedo. O resto da história é previsível.
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Em Hollywood, há histórias de guardas prisionais bons e maus. Sensíveis, como aquele vivido por Tom Hanks, em "À Espera de Um Milagre". Ou cruéis, como o Capitão Hadley de "Os Condenados de Shawshank".
E nos western, por exemplo, não é invulgar o criminoso apanhar desprevenido o carcereiro e sacar-lhe a arma do coldre, ou as chaves da cela, e fugir a cavalo pradaria afora.
No Brasil, não acontece nada disso. Ou até acontece, porque tudo acontece no Brasil.
Na zona leste da cidade de São Paulo, mais precisamente, no violento bairro de Vila Carrão, oito presos acotovelavam-se numa cela do 31.º distrito prisional da cidade.
Resignados a passar a noite no local, sem hipóteses de fuga ou outro recurso, viram o guarda prisional de turno entrar na delegacia pé ante pé.
Pé ante pé, não tanto porque não quisesse fazer barulho, mas, simplesmente, porque era a única forma de não cair redondo no chão, tal a bebedeira que tinha apanhado.
O resto já dá para prever: por sua própria decisão ou a pedido dos prisioneiros, não se sabe, o alegre guarda abriu a cela e deixou toda a gente fugir - provavelmente até foram todos, carcereiro incluído, beber mais um copo no boteco da esquina para celebrar.
Entretanto, um dos oito presos já se entregou e um outro foi detido num bairro limítrofe. Mas os outros seis continuam foragidos.
O guarda prisional, entretanto, aguarda pelo resultado do processo administrativo que lhe foi movido pela polícia, preso numa cela, à espera, quem sabe, que um dos prisioneiros à solta o vá libertar - era o mínimo que podia fazer.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da TSF a crónica Acontece no Brasil.