A declaração de Chico Buarque surge depois de assistir a um documentário que retrata a crise política brasileira, dirigido pela cineasta Petra Costa.
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O compositor e escritor brasileiro Chico Buarque afirmou na quinta-feira que o país sul-americano é atualmente "governado por loucos", num vídeo de apoio enviado à cineasta Petra Costa, diretora do documentário "Democracia em Vertigem".
"A diretora Petra Costa soube captar, no calor da hora, com sensibilidade, os bastidores da cena política, principalmente a partir de 2014, quando os derrotados não aceitaram o resultado das urnas e começaram a tramar, com o apoio de grande parte da classe política, da grande 'media', e com a complacência da Justiça contra o Governo de Dilma Rousseff [Partido dos Trabalhadores]", afirmou Buarque.
No vídeo, partilhado pela brasileira Petra Costa na rede social Twitter, Chico Buarque, vencedor do Prémio Camões 2019, acrescenta que hoje, assistindo às cenas do documentário, fica com a "impressão de que estavam a brincar com a democracia".
"E o resultado está aí. Temos hoje um país governado por loucos. Obrigada, Petra Costa. Parabéns pelo seu filme e boa sorte", concluiu o artista.
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"Democracia em Vertigem", lançado pela plataforma Netflix em junho último, retrata, de um ponto de vista pessoal, a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016) e a crise política no Brasil, tendo sido nomeado entre os finalistas da categoria Melhor Documentário para os Óscares 2020.
Chico Buarque, que enfrentou a ditadura militar no Brasil (1964-1985) e detém um percurso de mais de meio século nas letras e na música, é um apoiante do PT, defensor do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e um forte crítico do atual Governo brasileiro, liderado por Jair Bolsonaro.
O anúncio da atribuição do Prémio Camões, no passado mês de maio, a Chico Buarque, de 75 anos, abriu uma sucessão de acontecimentos que faz do cantor, compositor e romancista uma figura-chave na atualidade brasileira e na oposição a Jair Bolsonaro.
Porém, a entrega do Prémio Camões ao artista brasileiro, que terá lugar em Lisboa no próximo dia 25 de abril, está envolta em polémica, após Jair Bolsonaro ter dado a entender que não tem intenções de assinar o diploma da condecoração.
O compositor e escritor brasileiro, no entanto, não se mostrou afetado pelas declarações de Bolsonaro, afirmando que uma eventual não-assinatura do seu diploma pelo chefe de Estado era para si "um segundo Prémio Camões".
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O valor total do prémio é de 100 mil euros, divididos entre Brasil e Portugal. A parte que cabia ao Governo brasileiro foi paga em junho e a assinatura do diploma é apenas uma formalidade, mas o documento poderá chegar às mãos do músico sem a assinatura do presidente do Brasil.