O motorista do camião que ficou parado a escassos metros do abismo, no que restou do viaduto Morandi, em Génova, falou pela primeira vez. "Nem sei como é possível estar vivo".
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A imagem vale mais que todas as palavras que possam ser proferidas. Após a queda do viaduto Morandi, em Génova, na terça-feira, um camião de cabine azul, carroçaria verde, a cerca de 10 metros de uma ponte interrompida, mantém-se estático como se o tempo tivesse parado ou o "frame" de uma fotografia em "negativo" tivesse congelado. Pelo menos 39 pessoas morreram, arrastadas por um colapso da própria conceção de "seguro" no mundo moderno, aquele que se diz de primeiro mundo.
"Não sei como é possível estar vivo", desabafou o motorista, nas primeiras declarações depois do acidente em que foi testemunha ocular e fazendo um exercício de memória que talvez preferisse não ter que recordar.
"Um carro tinha acabado de me ultrapassar pouco depois de entrar no viaduto. Estava a chover muito e não era possível ir depressa. Diminui a velocidade, para manter uma certa distância, porque era impossível travar com aquela chuva. A visibilidade era nula, parecia um dilúvio", explicou, em declarações ao jornal italiano "Corriere della Sera", publicadas esta quinta-feira.
"De um momento para o outro, tudo se desmoronou. O carro à minha frente desapareceu, parecia estar envolto nas nuvens. Instintivamente travei, quase bloqueei as rodas", recorda. Travou a fundo, com a força de quem entra em modo automático de sobrevivência: "Instintivamente, quando encontrei o vazio pela frente engrenei a marcha atrás como se tentasse escapar daquele inferno", desabafou.
"Percebi que tudo tinha desmoronado, que tinha de escapar. Saltei do camião e fugi a pé. A chuva era terrível, avisei os outros condutores para fugir." Sobreviveu, mas presenciou, junto à linha que separa a morte da vida, um dos momentos mais negros da história recente de Itália.
Na terça-feira, às 11h36 horas (10h36 em Portugal continental), um troço de cerca de 100 metros da ponte Morandi ruiu. Dezenas de carros caíram de uma altura de 90 metros. O balanço mais recente das autoridades italianas dá conta de 39 mortos e 16 feridos, dos quais 12 estão em estado grave.
O motorista preferiu não ser identificado.