Foguetes, vuvuzelas, música, gritos anti-PT, anti-Globo, e de "o capitão voltou". Tochas verdes e amarelas, bandeiras e mais bandeiras do Brasil. A Avenida Paulista vestiu as cores do país na festa da vitória de Bolsonaro.
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"Parece Reveillon!", gritava um dos três jovens que seguia na Avenida Paulista, todos com uma camisola preta com um escrito a branco, "Bolsonaro Presidente", e embrulhados na bandeira do Brasil.
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A festa dos apoiantes de Jair Bolsonaro fez-se muito das cores da bandeira e dos equipamentos de futebol do país, mas também teve outros tons para além do verde e amarelo. Vanessa e Domingos estavam os dois com camisas camufladas, a lembrar o exército. "É uma questão de segurança, que é representada pelo novo presidente", justifica Domingos, um descendente de italianos que nasceu no Brasil. "Hoje, literalmente, é alívio. É uma liberdade que o brasileiro precisava", diz Vanessa. E nem as posições mais extremadas assumidas por Bolsonaro a preocupam: "Quem conhece sabe que ele não é racista, ele não é homofóbico, apenas usaram frases dele e manipularam, no contexto total não foi exatamente aquilo que ele disse."
Uns metros à frente, já mais perto do trio eléctrico de onde são disparadas músicas que fizeram a campanha do candidato do 17, e onde são feitos discursos a elogiar o capitão reformado do Exército e se incentiva a multidão cá em baixo a gritar "o capitão voltou" ou "fora PT", um grupo de quatro amigos canta, ajoelhado, de cerveja na mão o hino do Brasil.
Alexandre, advogado de São Paulo, até admite que Jair Bolsonaro "é um pouco tosco", mas era a melhor opção. "A gente sabe que ele não é um governante perfeito, nenhuma pessoa é. O que eu espero é alguém patriota, honesto, e alguém que valorize, respeite e propague os valores dos brasileiros." Também não se mostra muito preocupado com afirmações do candidato agora eleito presidente. Na Avenida Paulista, por exemplo, no último domingo de campanha, via telefone, Bolsonaro disse que os opositores teriam de fugir do país ou seriam todos presos. "O discurso dele é realmente um pouco diferente dos demais. O que eu penso é que é a primeira vez, desde a redemocratização, em 1988, que temos um presidente declaradamente de Direita. Ou seja, à primeira vista não ia ser um Ronald Reagan ou uma Margareth Tatcher, é um cara com muitas boas questões, um patriota, mas ainda assim um pouco... tosco, que vai precisar refinar."
Centenas e centenas de pessoas vão-se cruzando com outras centenas que chegam à Paulista. Quanto mais perto do tal trio elétrico mais complicado é conversar, dado o volume e o rebentamento constante de foguetes. Há carrinhos espalhados por todos os lados, com bebidas, pipocas, milho cozido e batatas fritas.
Enrolada numa bandeira do Brasil, Tauane aceita com um sorriso meio envergonhado responder a algumas perguntas. Ela tem grandes expectativas em relação a Jair Bolsonaro presidente: "Espero que as propostas sejam cumpridas. Eu tinha praticamente perdido as minhas esperanças no Brasil. Às vezes ele é duro nas palavras, mas a dureza dele é porque ele quer um Brasil que tenha ordem, que tenha progresso."
O desejo que está cravado na bandeira do Brasil, a meio da esfera, foi repetido várias vezes em conversas com quem votou em Jair Bolsonaro. A esperança é que o voto deste domingo se traduza "numa mudança", disseram muitos.
A festa na Paulista até começou mal, com a polícia a ter de recorrer a balas de borracha e gás lacrimogéneo para separar uma confusão entre dois grupos. Mas, no fim, eram as tochas verdes e amarelas, a música, os foguetes e o álcool a marcarem o tom.